Se seguisse apenas a parte do coração que amava Edward, a jovem Amélie teria partido no próximo navio, mas a necessidade da rainha consorte em ter uma aliada até conhecer a fundo a esposa do filho e a súplica de Henrique fizeram Amélie permanecer no castelo por mais um ano.
Cada dia contado era uma lágrima que Amélie julgava não ter mais forças para derramar.
Suas atividades envolviam o chá da tarde com as rainhas, assistir as aulas de esgrima de Henrique e ficar até altas horas na biblioteca fazendo pesquisas, relendo clássicos e acumulando conteúdo para seu romance futurista. Raros eram os momentos em que a condessa Amélie e o agora Rei Edward III interagiam, mesmo os horários da refeição, apesar dos protestos da Rainha mãe, eram evitados pela jovem. Amélie recolhia-se aos aposentos apenas quando vencida pelo cansaço.
🍷
Em uma manhã nada especial, pediu uma audiência com a rainha, manifestando o desejo de voltar para a Itália, seu país de origem. Como os pais da Rainha mantinham boa relação com algumas famílias da cidade de Palermo, ela podia garantir uma posição para a jovem na biblioteca pública.
Com a benção da rainha mãe e em posse dos pagamentos que recebera ao longo dos anos - um auxílio do qual nunca precisou usufruir - por cuidar da biblioteca e de incrementar a educação do príncipe Henrique, a condessa que já havia se despedido efusivamente de seu pupilo que prometera visitá-la assim que se estabelecesse e da rainha, conferia a última bagagem antes de seguir caminho até o navio que a levaria (outra vez) há um recomeço.
Uma batida leve soou na porta entreaberta e a Rainha Marianne entrou, tímida.
-- Senhorita Santinelli, eu gostaria de pedir que ficasse, pois gosto de sua companhia e da conversa agradável, – Ela começou tomando as mãos de Amélie – mas sabe que não posso fazê-lo, seria até mesmo hipocrisia desejar algo assim. Quando eu vi a primeira troca de olhares entre vocês percebi que teria uma rival. Que engano o meu. Você me respeitou cada minuto, desde o começo e foi tão fácil me afeiçoar a sua presença. Justo eu, a carrasca da sua história.
Amélie negou com a cabeça sem emitir som.
Ela odiou Marianne desde o primeiro instante e tentou, sem sucesso, continuar detestando a mulher à sua frente, mas as duas foram feitas, se a situação fosse diferente, para se tornarem boas amigas. E de um modo distorcido isso realmente aconteceu, principalmente por nenhuma delas acreditar que planos maléficos traria qualquer tipo de felicidade as suas vidas.
-- Sua presença aqui, por mais que você se esconda, tem grande influência em meu casamento. Há respeito entre o rei e eu, porém as pessoas começaram a perguntar se uma criança vira para dar continuidade à linhagem da família. Céus! Não sei o que será de mim, de Edward, se esta criança não vier.
-- Ficará tudo bem, majestade. As pessoas estão confusas, falam de obter mais autonomia, mas exigem costumes antigos da família real. O tempo se encarregara de tudo.
Uma batida na porta e o aviso de que em meia hora o navio partiria deu a Amélie a oportunidade para se afastar daquela situação constrangedora no momento em que a Rainha assentiu em resposta, dando espaço para a moça entregar a última bagagem.
-- Não posso fazer o mesmo que Edward, então gostaria que me fizesse um favor. – Marianne entregou uma carta sem o selo da família real à Amélie – Eu também deixei alguém, não pude me despedir, não pude dizer: obrigada por corresponder ao meu amor, foi bom conhecer você, adeus. Peça que alguém de confiança vá até Springsun antes de voltar para cá e entregue neste endereço.
Amélie assentiu e saiu do quarto, passando os dedos pelas paredes frias, olhando os quadros da linhagem da família, se esforçando para sorrir uma última vez para os guardas e as faxineiras, pensando na biblioteca particular e no corredor de livros históricos, em como os dedos longos de Edward tocaram sua pele e como era a sensação abrasadora do contato da pele deles.
-- Amélie!
A condessa se virou e a rainha Marianne foi ao seu encontro, sussurrando em seu ouvido que fosse a biblioteca dizer adeus.
Encostado na janela e de costas para o navio que os separariam como oceanos entre eles, Edward ergueu os olhos negros para encarar Amélie. Voltaram à noite em que tudo desabou, mas também à noite em que por um momento existiam apenas: Amélie Santinelli e Edward Harper Underwood III. O cheiro de livros, maresia, vinho e coração partido. Quando eram apenas um homem e uma mulher descobrindo que sua paixão era correspondida.
Na bela ilha, as coisas estavam mudando novamente, tudo ainda estava em preto e branco e o mar estendia-se a volta deles assim como as folhas que caiam em profusão das árvores.
Edward aproximou-se e levou a mão de Amélie ao coração encostando a testa na sua. Nos corredores de uma biblioteca de milhões de história e em um compartimento do coração aquele momento ficaria para sempre.
Edward fez um pedido, assim ouviria a voz de sua amada uma última vez:
- Conte uma história pra mim.
🏰
Olá, você! Como vai?
Espero que essa história tenha proporcionado bons momentos para vocês, eu fiquei muito feliz em conclui-la apesar do nosso casal não atingir o final feliz desejado, mas acredito de coração que de uma maneira diferente eles tiveram uma vida boa. ❤️
Agradeço a quem chegou até aqui, a quem deu uma oportunidade de ler algo não popular no Wattpad. Obrigada!
Espero voltar em breve!
Mas, se você ainda não leu, tem outro conto disponível aqui: Que Saudade do Mar. Se passa nos anos 90 e é um drama familiar bem bacana e rápido de ler. Te vejo por aí!
Salve!
VOCÊ ESTÁ LENDO
livros, vinho e coração partido
Historia CortaEssa é a história de uma condessa mergulhada em livros e escrita e um príncipe enfrentando as prévias de um reinado ameaçado. Um amor platônico nascido nos corredores da biblioteca real pode mudar as regras da monarquia? *3° lugar na categoria "Cont...