Era meio óbvio de que Diana era uma "observadora sensata" – Como ela costumava dizer – Sempre me contando o que havia de novidade na Escola Óli, eu não me importava, porém, quando soubemos da chegada dos novos alunos, eu não pude omitir a minha curiosidade em como aqueles – aparentemente - cinco seres humanos imaculados, sem rastro de ferida ou veneno algum percorrendo em suas veias, estariam lá? Vieram do lugar mais improvável e até temido por nós...
- Vamos Annelise, você não pode passar o resto da sua vida matando as suas aulas de biologia, ou irá se prejudicar. Sabe disso – Afirmou Noah me arrastando pelo corredor enquanto minhas botas pretas grasnavam no solo.
- Mas Noah! Você sabe como o professor Heitor é um lerdo que não sabe explicar nem para ele mesmo!
- Por favor, ele não é tão ruim assim... – Disse Alan, um dos melhores amigos do meu irmão. Surgindo ao meu lado com um sorriso de orelha a orelha acompanhado de sua irmã mais nova, com seus cabelos longos, cacheados e esvoaçantes, brincos dourados que brilhavam rudemente. Em outra vida, nós poderíamos ser melhores amigas, se ela não me visse como uma concorrente já que ela jurava de dedinho desde a sétima série de eu ter roubado seu namorado. Uma longa história. E agora, ela flerta com o meu irmão.
- Anne, docinho... Você deveria ser menos difícil sabe? Ser mais volúvel como o seu irmão. – Ironizou Sara, dando uma leve piscada para o meu irmão que me fez revirar os olhos. – Sem ofensa, Mas... As pessoas não gostam de lidar com pessoas iguais a você...
Desvencilhei-me das mãos de Noah, - antes no meu antebraço – e fui em direção a Sara, sem pensar duas vezes, com um olhar feroz e punhos cerrados, eu estava pronta para encará-la de frente, até que, eu esbarrei com força em alguém me fazendo cair e bater a cabeça no chão. Aquilo foi ridículo.
-AI! Seu idiota!– Rosnei.
Como reflexo levei minha mão a cabeça que parecia latejar. Logo, senti suas mãos me levantarem sem esforço algum, uma em minhas costas e outra apoiando meu cotovelo. Tentava manter o equilíbrio sob meus pés, estava meio desnorteada com aquilo.
Olhei para o rosto do rapaz que eu havia esbarrado, não obtive sucesso, com a minha visão turva, e a cabeça confusa, seu rosto fora ofuscado pela luz.
- Não é querendo discordar de você, mas não fui eu quem perdeu a atenção enquanto caminhava. - Falou sem expressar sentimento de revolta, diferente de mim. Olhei-o com mais atenção e pude reconhecer que ele era um dos cinco alunos novos. – Sua cabeça dói muito?
Abri minha boca para responder, dizer que estava bem, mas ao olhar em seus olhos castanhos meu corpo adormeceu, me senti paralisada. Ele continuou me encarando, talvez esperando pela minha resposta, mas eu não conseguia dizer ou fazer absolutamente nada. Um choque percorreu minha espinha e a voz de Noah rompeu o silêncio.
-Annelise, nós temos teste!
Olhei para Noah assustada e saí sem proferir uma palavra sequer.
-Você passou a aula inteira calada, Anne. O que houve? – Perguntou Diana.
Eu não parava de pensar naquele momento, curioso momento. Eu quase pude jurar que os olhos dele oscilaram em uma cor dourada. "NÃO, não, eu estou fantasiando, mas é claro que sim, talvez a queda me fizesse enxergar absurdos." Tudo bem, talvez aquilo fosse coisa da minha mente, entretanto... O que poderia explicar a paralisia repentina? Amor à primeira vista? Não. Eu já me apaixonara antes, não fora nada parecido. Nada tão... Arrebatador.
-Hum, não houve nada. Desculpe. – dei um meio sorriso. – Eu só estou meio cansada, escuta Diana, será que você não tem algum remédio para dor de cabeça aí na sua bolsa? Aquela minha queda repentina não me deixou muito bem.
-Você tem de começar a depender menos de remédios para tudo Anne. Talvez esteja precisando ir ao médico, ou de um óculos quem sabe. – revirei os olhos para seu comentário nada gentil, estava claro de que era somente uma "dorzinha de rotina". – Você sente dores de cabeça quase diariamente.
-Ei, relaxa. Eu estou com a visão perfeita, além disso... – o sinal para troca de turnos estava tocando, levantei-me de imediato. – A minha mãe disse que na minha idade também sentia dores de cabeça, vê? Genética.
-RÁ! Até parece. – Desdenha.
Caminhei em silêncio pelos corredores da escola, os alunos novatos estavam saindo da coordenação, uma ruiva, linda, de cabelos lisos e olhar firme ela parecia "comandar" o grupo seguido por mais dois rapazes altos e morenos, que mais pareciam irmãos e uma moça baixinha, cabelos cacheados e curtos. Todos impecáveis, no andar, no vestir que também era chamativo, não digo chamativo como cores fortes nem nada disso. Falo de jaquetas de couro escuras, outros vestindo jeans, era a moda vinda diretamente do sudeste do país. Meus pais reprovariam com toda certeza um grupo de amigos feito eles. Mas, onde estaria o cara que eu esbarrei mais cedo? Semicerrei os olhos para ver se não estaria confundindo. Não, ele não estava. Todos me encararam no mesmo instante como se lessem meu pensamento, desviei o olhar antes que percebessem – se é que eles perceberiam – um dos rapazes morenos sussurrou algo para a ruiva que me encarou com mais intensidade e logo ambos riram e seguiram seu caminho, sem parar de caminhar um minuto sequer.
Percebi que estava parada no corredor pois o diretor Dave veio falar comigo a respeito das minhas faltas.
-Senhorita Annelise Vie, precisamos conversar a respeito de suas ausências sem justificativas. Sabe que pode reprovar caso não alcance notas e presença o suficiente, não sabe?
-Perfeitamente senhor, eu...
-Diretor Dave!
Uma voz exclamou logo atrás de mim e consegui me safar de suas cobranças antes de inventar desculpas. "Yes!" Comemorei internamente, saí rápido feito bala, antes de ele fazer qualquer outra pergunta.
YOU ARE READING
Liberdade
FantasyAnnelise Vie, sempre gostou de ouvir histórias e lendas contadas por seus pais durante a sua infância. Mal sabia ela que elas "talvez" poderiam possuir alguma verdade embutida, ao conhecer Akira Folko, suas dúvidas sobre si mesma e sua origem começa...