Akira ainda me exigia respostas naquela rua escura. Ao invés de lhe dar o que ele procurava, eu explodi numa gargalhada, ele soltou meu braço ao notar que eu estava bem, estranha, mas bem.
- Ainda não me respondeu, o que você faz aqui? No meio da noite, sozinha, - ele fez uma pausa, sua cabeça pendeu para o lado avaliando-me – você usa drogas?
- O quê? NÃO! – aquilo soara alto demais? – Eu estava seguindo o...
Virei-me de costas, procurando o corvo que me atraiu até então, ele sumiu. Merda... Onde estaria aquele pássaro? Escondido entre as árvores de modo que Akira não o visse, ou, ele realmente havia partido para longe?
- Seguindo...? – Resmungou impaciente.
- Hum, nada. Precisava verificar uma coisa.
- Assim? Tão tarde?
- Assim, tão tarde. – afirmei. – e você, o que faz por aqui? Estava me seguindo?
Sua expressão mudou imediatamente, como quem se assusta, ou perde um evento importante e se recorda horas depois, Akira fora pego desprevenido. Mordi o lábio, agora, também impaciente.
Se não fosse pelo azul do luar, eu poderia jurar de que sua pele levemente bronzeada havia se tornado alva, tão rapidamente como a sua resposta logo em seguida:
- Eu estava visitando Octavia, ela mora aqui perto e não estava se sentindo muito bem.
Franzi as sobrancelhas, aquilo não fazia muito sentido, pelo menos não em minha mente, algo soava mal em sua afirmação, sem mencionar que ouvir o nome da ruiva, me fazia estremecer por dentro, algo em mim não concordava muito com o seu jeito, ela me assustava de algum jeito. Talvez fosse apenas antipatia do meu subconsciente.
Sem que eu notasse, Akira e eu estávamos andando pelas ruas daquela nossa cidade gélida, havia algo em seu olhar áureo que não me deixavam querer voltar para casa, muito menos dar lugar ao sono que meu corpo tanto necessitava.
- Por que veio para cá? – questionei-o, mesmo sabendo que não deveria, quer dizer, a ilha de Fleuma era um mistério para mim, onde na minha imaginação vagavam animais ferozes, cobras peçonhentas e talvez um pântano vasto de verde e umidade, surpreendentemente, ele não pareceu se importar com a minha pergunta, eu precisava ser discreta.
- Eu precisava. Vim com um objetivo em mãos, mas agora, estando tão perto... Não sei se é o correto a se fazer.
Estávamos sentados a poucos quilômetros da minha casa, aguardando o sol nascer, apesar de sabermos que, se as luzes se apagassem, o breu nos banharia sem piedade alguma. Não que eu me importasse com isso naquele momento.
- E, o que é correto para fazer?
- Se você fosse um pássaro, um pássaro livre - ele agora encarava o chão como se não tivesse coragem de olhar para mim, apoiei o cotovelo no joelho e deitei a cabeça em minha mão, para visualizar melhor sua expressão – e de repente, um caçador te capturasse por ser um pássaro raro, você aceitaria de bom grado, sabendo que a qualquer momento poderia virar uma exposição entalhada de mais uma de suas coleções, ou desejaria a liberdade?
Pisquei algumas vezes, tentando imaginar a razão pela qual sua metáfora parecesse tão perturbadora para si.
- Liberdade, sem dúvidas.
Seus olhos fixaram nos meus, agora, agoniados, eu não entendia, mas era capaz de notar como seu corpo ficou rígido de repente.
- Eu também Annelise, desejaria que o pássaro desfrutasse eternamente de sua liberdade.
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Liberdade
FantasyAnnelise Vie, sempre gostou de ouvir histórias e lendas contadas por seus pais durante a sua infância. Mal sabia ela que elas "talvez" poderiam possuir alguma verdade embutida, ao conhecer Akira Folko, suas dúvidas sobre si mesma e sua origem começa...