Conto de LucyPrtAlvz
— Você sabe que precisamos estar dentro do castelo antes que Sua Majestade sinta sua falta, Samuel.
— O cervo pode te ouvir se não calar a boca.
— Sua mãe pode nos matar se não chegarmos a tempo para o banquete.
— Tenho certeza que está apenas com medo de perder a aposta.
— E eu tenho certeza que está apenas fugindo para não conhecer a sua noiva.
Eu revirei os olhos enquanto amaldiçoava qualquer besteira que me viesse à mente. Todas essas coisas não estão fáceis, então porque eu não posso apenas caçar um maldito cervo em paz?
— Samuel!
E então a flecha se solta no impulso, fincando numa árvore próxima ao cervo que vira sua atenção assustada para os arbustos onde nós dois estamos escondidos, e quando nos vê, ele imediatamente foge pela floresta.
— Não acredito. — Me levanto incrédulo enquanto encaro Edwin, que rir divertido por finalmente ter me chamado a atenção.
— Vamos logo, porque não penso em lhe acompanhar a noite inteira. — Ele se levanta do chão enquanto ainda rir. Maldito.
— Como assim não irá me acompanhar? — Pergunto sem prestar atenção nele,apenas guardando o arco atrás das costas, prendendo na bolsa em que carrego as flechas.
— Não penso em participar do baile de máscaras.
— Sem ideias absurdas, Edwin. Você é o filho de um nobre, e você sabe o quanto odeio estar entre todos eles. — Digo, realmente revoltado. —Não pense que vai me largar naquela porcaria de jaula.
Caminho apressado pelo trilho de pegadas que nós acabamos deixando sem querer pela floresta, enquanto ouço Edwin andar apressado atrás de mim.
— Ei, Samuel. — Continuo caminhando, indiferente. — Samuel, você tem dezenove anos, daqui há três anos se tornará um adulto e não demorará muito para assumir ao trono e se tornar rei. Você sabe disso!
— Você não entende. Eu quero me casar com nenhuma mulher.
— Agora vai me dizer que vai querer casar-se com um homem? — Pergunta, novamente divertido.
O ar se torna pesado enquanto sinto minha garganta secar, e quando Edwin percebe o quão desconfortável eu fiquei com a insinuação estúpida, ele se cala, enquanto eu continuo à andar em direção ao quintal do castelo como se minha vida dependesse disso.
— Vá para o inferno. — Murmuro, mil vezes mais irritado.
Não é como se eu quisesse me casar com um homem – nem se fosse possível – e também não é como se eu fosse querer noivar com alguma mulher.
Eu não me importo em dividir o poder ou qualquer outra coisa que eu tenha direito, o problema é que não consigo simplesmente me deitar com uma, porque por mais que eu tente levar alguma para o meu quarto, algo não ficava bem, nem no início, nem no meio, muito menos no final.
Acabava se tornando vergonhoso pra mim.
Há alguns dias atrás, o rei Dom Alfred, meu pai, aceitou a aliança que o rei de Opaly propôs, oferecendo a mão da sua única filha mulher a mim, o único filho da linhagem real de Taaffeite. Não me opus, e ter alguma discussão com o rei não mudará o fato de eu estar sendo obrigado, afinal, formar essa aliança é necessário, também é algo que eu sempre soube que faria algum dia.
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Tempo de Cores (Contos LGBTQIA+)
Short StoryConjunto de Cinco contos de visibilidade e erotismo LGBTQIA+ através dos séculos, contados por cinco autores. "Porque há desejo em mim, é tudo cintilância. Antes, o cotidiano era um pensar alturas Buscando Aquele Outro decantado Surdo à minha humana...