rosé

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Aquela maldita sentença ainda ecoava em minha cabeça.

"Cem anos, Jisoo. No corpo de uma humana. Um ser com face angelical, porém, sem asas. Será inevitável não se apaixonar por ela, mas quem o fizer, morrerá de forma terrível. Isso, ou a morte do homem que você ama. Você irá matá-lo, ou deixará inocentes morrerem por causa da sua decisão tola. Me diga, filha, será sábia ao menos uma vez? Me dará orgulho, ao menos, uma única vez?"

Como ela pôde?

“Sinto muito, mãe. Não posso fazer isso. Se quiser me lançar na Terra, que assim seja. Irei com a consciência limpa, pois não sou responsável pela sua egoísta sede de vingança.”

Nunca me apaixonei. Então, mesmo que quisesse, não poderia entendê-la.
Jisoo sempre foi diferente dos outros. Se impressionava fácil, era muito gentil e era facilmente manipulada, por mais que fosse esperta. Não tinha me contado do novo namorado, só que estava apaixonada. Não me contou que era humano, só que morava num lugar muito distante.

Não pensei que ela estivesse se referindo a outro planeta. Muito menos, um planeta inimigo. Me recusei a acreditar. Senti ódio por eles. Pela primeira vez, odiei nossos inimigos, que em nossos livros de história, são ilustrados como monstros. Que enojam qualquer ser vivo no nosso planeta. Isso sempre foi muito previsível, afinal, num planeta de cristal, a mente dos seus moradores é transparente.

Para mim, ao menos, sempre foi muito fácil descobrir a real motivação de alguém. Se era algo bom, se era ruim... A maioria não me agradava, por isso preferia me afastar. Ser filha da Grande Deusa tinha suas desvantagens. Todos viviam pedindo favores, fazendo perguntas irritantes. O único bom de estar presa nesta torre é que, além de não precisar lidar com os seres nojentos do meu planeta, posso observar Jisoo facilmente. Infelizmente, minhas asas não aguentariam uma viagem tão longa até o outro planeta.
Assistir Jisoo, com uma nova família, era muito desgastante às vezes. Não entendo o porquê de minha mãe ter me colocado nesse lugar. Uma torre fora de órbita, mais alta do que as nuvens e tão próxima do Sol quanto o próprio planeta.

Todos podem ver a maravilhosa torre onde a princesa Rosé está confinada. Tenho certeza de que as outras garotas me invejam por ter esse palácio. Mas eu, na verdade, só queria fugir. Ir para muito longe, além dos planetas... Não queria me envolver nessa guerra. Não me importo se tentaram conquistar nossas terras, não me importo se negamos ajuda ou se roubaram algo de nós... Só quero ser livre. Longe daqui, dessa torre. Dessa coroa, desse planeta... Se possível, fora dessa galáxia.

Graças aos humanos, minha mãe não confia mais em mim. Graças a eles, e unicamente eles, Jisoo nos deixou. Ao menos, é melhor do que ter as asas cortadas, como é comum nas nossas leis.

Tudo parecia lento demais para mim. Nesta madrugada, ela faria dezessete anos. O pai dela, o humano que "matou" Jisoo, parecia cada vez mais triste e arrependido. Eu sentia isso, mas não conseguia perdoá-lo. Jisoo continua viva, mas está presa em algum lugar, dentro daquela garota. Então, eu me pergunto: isso é viver?
Do que adianta viver, se não se pode ter a liberdade? Se ser feliz não é algo possível, por qual razão continuar?
Sem motivação, sem inspiração, longe de tudo e todos... Só sinto falta de minha mãe e de Jisoo, mas não quero falar com elas. Sempre dei tudo de mim por elas, e agora me sinto tão traída, tão...

Fico cansada de só observar e não fazer nada. De não poder fugir, de não poder gritar por socorro. Quem viria me ajudar? Jisoo? Minha mãe, que me prendeu aqui? Eu nunca gostei de ninguém além delas, sempre fui vista como uma princesa mesquinha. Às vezes acho que vou ficar presa para sempre...

Depois de divagar durante horas, percebo que Jisoo já havia ido dormir em sua nova casa, e resolvi fazer o mesmo. Peguei um de meus livros favoritos, escritos pela própria, e me sentei na cama, me preparando para ler.
Antes disso, me lembrei de escovar os dentes, e ao terminar, escutar o barulho do trinco da minha porta.
Pensei em ignorar, mas foi meio impossível quando minha porta se abriu, do nada.

MY SISTER, MY GODDESS - ChaeLisa / JenSooOnde histórias criam vida. Descubra agora