Prólogo

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Jardim do Éden

Olho para o mundo sendo transformado, cada detalhe, cada planta, flor, animal... Adão. Vejo papai criar o homem, uma espécie tão inferior quando os anjos são para Ele. Totalmente nu, sem poderes, com uma vida patética, normal. Abro minha asas negras e pesadas e vou voando até Abbadon, que se encontra destruindo algumas flores e matando animais queimados.

- Até que o termo "Destruidor" lhe cai bem. - Pouso, fazendo uma leve poeira subir e animas fugirem.

- Não acredito que ele criou tudo isso para nós destruirmos. - Diz sorrindo e queimando mais algumas flores.

- Não para nós. - Abbadon me olha curioso. - Para ele. - Aponto para o homem normal que agora está coberto com algumas folhas e olhado ao redor do jardim.

- Vamos, temos que contar para Lúcifer. - Afirmo.

Abrimos nossas asas e voamos alto e rápido, avistamos Lúcifer olhando para seu reflexo na água. Pousamos atrás dele, mas o mesmo não nos olhas, apenas encara a água limpa e cristalina.

- O que há de errado por aqui, irmãos? - Lúcifer pergunta com sua voz grossa de demônio.

- Ele. - Aponto para o céu. - Criou uma criatura, totalmente diferente, normal, sem asas, sem poderes, fraco. - Lúcifer me olha, com os olhos transbordando o fogo que nunca se apagou.

- Ótimo. - Sorri, com seu olhar de fogo e sorriso demoníaco.

••••

Olho de longe Adão, o homem, e Eva, a mulher. Criada do barro, com um sopro forte em suas narinas, Deus lhe deu a vida. Olho para a árvore do fruto proíbido, a mesma que Ele proibiu de Eva e Adão comer. O fruto da sabedoria. 

- É pra hoje. - Samyaza aparece atrás de mim.

- Eu sei. - Volto a olhar o casal. - Só estou esperando. - Vejo Eva se afastar de Adão e ir para as árvores frutíferas

- É agora. - Insiste Samyaza. - Vai ficar esperando o tempo passar para perder a oportunidade ou eu fazer o trabalho que Lúcifer mandou VOCÊ fazer?! - A voz de Semyaza engrossa como a voz de um dos suas entidades demoníacas.

- Você acha isso certo? - Pergunto me virando para encarar seu rosto que não fica apenas em uma forma, e sim mudando para uma das 100 entidades que vive dentro de si. - Acha certo? - Repito.

- O que está querendo dizer, Azazyel? - Seu olhar suspeito toma conta de seu rosto desformado. - Faça logo o que lhe foi mandando. - Ele se aproxima.

- Eu não, faça você. - Abro minha asas pronto para sair dali, mas Semyaza me segura.

- Lúcifer mandou você. Não jogue essa responsabilidade mas nossas costas. - Grita, se referindo a todas as suas entidades demoníacas.

- Eu não vou fazer isso com Ele. - Retruco e seu rosto toma a forma de um ser com olhos negros, dentes de agulha e pele escura.

- Olha o que ele fez pra você? - Me empurra. - Acha que vai Ele vai te aceitar de volta no céu? Não se esqueça do Pacto Armon. - Sorri, mostrando seus dentes finos e afiados como agulhas longas. - Aqueles que escolherem a Terra, nunca mais poderá mudar de ideia. - Recita sua própria lei. - Agora vá lá e faça o que lhe foi mandado. - Manda.

Olho para Adão, para Eva olhando todas aquelas frutas, até a árvore do fruto proíbido que ficava bem no meio de todas as outras árvores frutíferas. Me viro para Semyaza, olhando naqueles assustadores olhos negros como piche, suas asas estendidas, as minhas abaixadas como um fracassado.

- Não. - Digo com a voz grossa e intimidadora. - Não vou destruir o que Ele - Aponto para o céu. -, criou. Ele é a nova geração da Terra. Deixamos de ser desde o dia em que viemos para a Terra.

Só sinto o vulto de Semyaza passar por mim. Tão rápido quanto eu poderia voar. Olho de longe ele se transformar em uma cobra, verde e chamativa, olhos amarelos vivos. Ele se esgueira sobre a árvore do fruto proíbido e conversa com Eva. E em poucos minutos vejo ela pegar a fruta e dar uma mordida. Logo depois ela corre até Adão e lhe oferece a fruta, e mesmo desconfiado, o homem morde.

- Azazyel. - Me viro dando de cara com  Leviatã. - O Senhor quer lhe ver. - Sinto um frio de medo me subir só de pensar no que Lúcifer tem a me dizer.

Bato minhas asas e voo logo atrás de Leviatã, governante do inferno. Pouso na frente de Lúcifer que está sentado em seu trono de fogo e fico de joelhos.

- Só pedir uma coisa para você, irmão. - Começa, com a voz sem demonstrar nem um resquício de emoção. - Não muito difícil, apenas fazê-los comer da fruta. Só isso. - Ele vem em minha direção, com seu tridente batendo no chão e asas se arrastando de tão longas e desgastadas estavam. - O que lhe deu, irmão?

- Não podia fazer isso. Não é certo. - Sinto suas asas perfurar minha mão no chão e me seguro para não gritar.

- Não sabe o quê certo e nem o que é errado. - Olho para seus olhos de fogo e semblante sério.

- Sim, eu sei. Você quer que eles, a criação de Deus, passe pelo que você passou. - Enfrento, sentindo uma energia com coragem correndo pelo meu corpo. - Quer que eles sejam humilhado, abandonado, arrependidos. Você quer que eles sintam o que você sentiu quando foi expulso. Quer provar pra Deus que foi um erro criar a espécie humana. - Digo, falo tudo olhando em seus olhos que transbordam do inferno e mais um pouco.

- Está expulso do inferno. - Diz apenas, e volta para seu trono de fogo. - Expulso do céu, expulso do inferno. O que isso lhe torna, Azazyel?

Não respondo, mas na minha mente a resposta vem a toma. Um Pária. Uma espécie de anjo que não é aceito nem no céu e nem no inferno. Eu sou um Pária.

- Azazyel. - Olho para o demônio. - Quem perdoa é Deus.

No começo fico sem entender o motivo de suas palavras, mas de repente minhas costas queimam, doem e a única coisa que consigo fazer ele gritar. Vejo as penas caírem na minha frente, com sangue. Sinto o sangue escorrer por minhas costas, minhas penas no chão, na minha frente, aos meus olhos. Olho horrorizado para Lúcifer que mantém um sorriso satisfeito nós lábios.

- Vá. - Ordena. - Vá Pária. - Pego algumas penas antes de me levantar e, com dificuldade, ir embora. - Vá, e diga a eles que o demônio caminha sobre a Terra.











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