Capítulo 3

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Olho para o lugar que está diferente, melhor, maior. Portões de aço para impedir a entrada de demônios, escadas de pedras. Ele fez mesmo esse lugar como Sansão quis? Fico ali, olhando para o lugar, como nos filmes, que nem um idiota. Não tenho coragem suficiente para isso. Não posso. Não consigo.

Patético. Não consigo falar com ele, não tenho coragem suficiente para isso. Respiro fundo, e fico decepcionado por ter vindo aqui por nada.

- Procurando alguma coisa? - Olho assustado para o anjo que aparece atrás de mim. Gabriel.

- Hm... - Fico analisando seus cachos dourados, olhos azuis e asas perfeitamente brancas.

Ficamos nos encarando por um longo tempo, apenas o som de nossas asas pairando era escutado.

- Não vou pergunta de novo. - Ele já vai avançando com a mão em sua espada e eu recuo.

- Eu queria falar com Ele. - Vou direto ao ponto.

- Por quê? - Ele me para ao colocar a espada em meu pescoço e apertando no local.

- Não é da sua conta.

Gabriel me empurra e vem em minha direção novamente, pronto para me atacar. Saio da direção da sua espada voando para cima. Gabriel vem em minha direção tentando me acerta com sua espada, mas por sorte comigo desviar dela. O problema é que a espada de um anjo pode acabar com a vida de um demônio num piscar de olhos.

- Para! - Grito.

- Por que deveria? - Pergunta ainda tentando me acertar.

Quando o cabo de sua espada se choca em minha testa, sinto o ódio me consumir. Pego minha espada e avançou nele, com velocidade vou distribuindo vários golpes que o anjo tem dificuldade em bloquear. Assim que consigo tirar a espada de suas mãos e travar a minha em seu pescoço consigo respirar de alívio e cansaço.

- Eu preciso falar com Ele. - Falo ofegante e Gabriel me olha suspeito.

- Por quê? - Olho em seus olhos azuis e tento passar a maior sinceridade que consigo.

- Pra falar sobre a guerra.

••••

- Não vou permitir a sua entrada, mas vou tentar fazer ele vir até aqui. - Gabriel fala e afirmo, apenas. - Pera. - O loiro de cachos se vira para mim novamente. - Não. - Fala de repente. - Não vou te ajudar, você fez sua escolha, pode fazer de novo, escolheu seguir Lúcifer, escolheu ser um demônio. - Fala com desprezo. - Não vou te ajudar.

Gabriel se vira para entrar de volta ao paraíso mas o impeço entrando em sua frente.

- Eu não escolhi ninguém. - Falo. - Na época posso ter seguido a Lúcifer mas eu não participei da expulsão do casal manipulado. E eu fui expulso por não ter feito isso. Todos os anjos que desobedecem a Lúcifer ou o enfrentam são expulsos do inferno. - Explico mas seu olhar sobre mim não muda. - Ele nos chama de Pária. Eu sou uma lenda sobre eles porque fui o primeiro Pária, mas eu não escolhi ninguém. Eu escolhi o meu lado. - Vejo ele olhar pra algo além de mim mas não ligo, apenas o olho com sinceridade, curiosidade e preocupação. - Então me diga, por que escolher meu lado afeta a tantos?

Gabriel não responde, apenas fica olhando além de mim até seu olhar se transforma em total respeito.

- Azazyel.

Fico trêmulo só de ouvir sua voz. Paraliso onde estou, sem conseguir me virar para encara-lo. Gabriel sai da minha frente, me olhando preocupado e o homem toma o lugar que antes estava o anjo. Olho em seus olhos que brilham como luz, não. Mais que a luz.

- Venha filho, creio que tenha perguntas. Vamos. Venha dar uma volta comigo.

Ele caminha, sem precisar de asas para poder sair do chão. Voo até ele, devagar, na defensiva, e quando chegamos ao jardim, jardim qual julgo ser Éden. Caminho ao seu lado, mas sem olhar em seus olhos, olho para os cervos, para a água, para as árvores, menos para a majestade ao meu lado.

- Sei que tem perguntas, Azazyel. Faça-as. - Fala, ainda caminhando.

- Você sabe as minhas pergunta. - Ele afirma calmamente.

- Na verdade não sei, não. - Engulo seco.

- É sobre a guerra. - Começo. - Tenho que escolher um lado, entre o bem e o mal, entre você e Lúcifer. Estou confuso. E eu não entendo o porquê da minha escolha afetar a Terra. Quero saber, senhor. - Paro e finalmente o olho nos olhos. - Quero saber por que a minha escolha pode salvar ou destruir o mundo. Por que eu?

Ele apenas afirma e volta a andar. O sigo sem questionar, mas com impaciência.

- Quando criei vocês, dei um dom meu para cada um, junto das asas. - Olho para minhas asas negras e lembro das asas de Gabriel. As minhas eram iguais. - E esse foi meu erro. - Diz, parecendo decepcionado consigo mesmo. - Eu podia ver o que Lúcifer iria fazer, podia ver o futuro da Terra. Podia ver Lúcifer me traindo...

- E mesmo assim nos criou. - Sussurro.

- Sim. Os criei. Não se engane Azazyel, a realidade está sempre mudando. - Afirmo. - Mas eu não podia ver você. Não podia ver você me traindo nem ficando. Você não estava nas minhas visões, não estava em lugar algum. - Fico meio surpreendido com suas palavras. - E depois de muito tempo eu soube o porquê.

- Sabe? - Afirma.

- Lilith.

Quase emgasgo só de ouvir o nome dela.

- O que ela tem com isso tudo?

- Precisa estar preparado para essa resposta, Azazyel. - Afirmo, mas por curiosidade. - Lilith foi criada a partir da poeira junto a Adão, portanto, antes de Eva. Mas ela negou-se a deitar sob ele na hora do sexo por não se sentir inferior e, em protesto, abandonou o Éden. 

- Nossa, eu nunca soube disso, ela sempre foi apenas uma demonia para mim e os outros. - Falo sem me importa no impacto das minhas palavras.

- Quando ela saiu do Éden, Lúcifer foi atrás dela. - Franzo as sobrancelhas.

- O quê?

- Eles tiveram relações sexuais, e Lilith estava ciente que estava fazendo isso com um demônio, más não se importou. Até que ela se apaixonou realmente por ele e pediu para ser igual a ele. Lúcifer transformou ela nisso. - Fala e percebo sua voz triste. - A guerra foi declarada por que eu não consigo ver seu futuro. Eu não consigo ver o que vai escolher. - Ele me olha preocupado. - Precisa escolher o lado certo Azazyel.

- Eu ainda não entendi o que Lilith tem com isso.

- Ela é igual a você, Azazyel. É igual a você. Eu não consigo ver o futuro dela também. - Olho confuso para ele, sem entender mais nada.

- Mas...

- Ela é sua irmã.

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