Capítulo 1

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Caminho nas ruas de Paris, com um trânsito calmo, pessoas educadas, casas bonitas e coloridas. Paris, a cidade dos sonhos. Já é noite e a Torre Eifell brilha como a lua. Subo as escadas do grande prédio de pedras e piso, todo iluminado e barulhentos. Os alunos vão para suas salas, com suas mochilas nas costas, conversando entre si, totalmente alheios a realidade do mundo.

Entro na sala e meus alunos já se sentam e ficam em silêncio. Tudo em ordem. Passo na lousa algumas questões, escrevo rápido para poder ficar livre para fazer absolutamente nada. Me sento na cadeira macia e na mesma hora escuta três batidas na porta. O diretor aparece pela pequena abertura da porta e me levanto em forma de respeito. Patético.

- Henrique. - Aperta minha mão.

- Diretor Ross. - Coloco as mãos na cintura e apoio meu peso na perna direita. - O que faz aqui?

- Só estou dando uma olhada. Em todas as salas, aliás. - Afirmo.

- Hm...

- O que você ensina em história, Henrique? - Dou de ombros e olho para a turma.

- Índios, antiguidade, antes e depois de Cristo... Essas coisas. - Ross afirma e me olha de uma forma que me faz gelar.

Um fogo queima em seus olhos, um sorriso demoníaco em seus lábios. Ele chega mais perto, até meu ouvido e sussurra:

- Diga a eles que o demônios caminha sobre a Terra.

Ainda com o sorriso estampado no rosto, ele aperta minha mão e sai da sala. Fico tonto, me apoio na mesa, sinto vontade de voar pra longe dali, bater minhas asas e sentir o vento no rosto. Mas lembro-me que não tenho, não tenha asas. Foram tiradas de mim. Arrancadas, como quando um ladrão rouba o doce de uma criança.

Saio da sala deixando meus pertences para trás. Faz séculos, milênios, não o vejo desde aquele dia. Abro a porta da diretoria e apenas vejo o corpo sem vida do diretor Ross no chão. Droga! Ele já fugiu. Puxo meus cabelos por frustração. Sem me importa, saio da escola e corro direto para casa. Se eu tivesse minhas asas seria mais rápido, mas a dor que sinto por perde-las, a dor que senti quando foram se transformando em nada, se depenando.

Chego em casa ofegante, sinto mais um ser presente em algum cômodo. Pego uma faca que tiro do pulso, como um mágico tira uma pomba do paletó, e fico preparado. Ando até meu quarto, que está com a porta fechada, abro lentamente a porta de madeira verde e sinto um empurrão nas costas. Caio no chão, ainda com a faca na mão. Faço a faca crescer até se torna uma espada negra e me viro dando de cara com Abbadon.

- Quanto tempo, irmão. - Me levanto rapidamente e ergo a espada acima da cabeça.

- O que estão fazendo aqui?

Sem me responder, Destruidor avança com sua espada e com rapidez defendo seu golpe.

- Perde as asas mas não perde o talento. - Empurro o demônio.

- Por que veio até mim? - Abbadon dá de ombro.

- Precisamos de você. - Fico confuso e faço um movimento com a mão para ele continuar. - Quando você escolheu ser um Pária - Fala com nojo. -, você travou uma guerra. - Sinto um frio na barriga.

- Guerra?

- Sim, você não escolheu um lado, você não escolheu entre Deus e Lúcifer, entre o céu ou o inferno. Por isso a guerra. A guerra entre Deus e Lúcifer, que vai decidir o futuro da Terra, da humanidade. - Fala com amargura. - E você é o causador disso tudo, Azazyel. Você. - Vejo seu olhar de satisfação ao ver o meu rosto estampado de horror.

Avançou nele com a espada, mais uma vez desejando minhas asas quando as suas se abrem o tirando do chão.

- Vai mesmo querer começar mais uma guerra aqui, Azazyel?

Me afasto e faço minha espada sumir como pó.

- Vai embora. - Mando, com a voz sombria.

- Vou agora, mas volto depois. - Olho para ele com meus olhos de cor preta, mostrando que posso ser possuído a qualquer momento pelo meu demônio interior.

Abbadon some com um piscar de olhos. Me sento na cama, sentindo meu ser interior querer sair e quebrar tudo e matar todos a sua frente. Tiro minha camisa e vou até o espelho que tem na porta do meu armário. Vejo as cicatrizes onde antes ficava minhas asas, enrrugadas e feias.

Coloco a blusa de volta e uma jaqueta, saio de casa e caminho pelas ruas. O celular em meu bolso vibra e vejo uma número desconhecido, provavelmente da polícia. Faz todo sentido. O diretor passou na sala do professor de história Henrique, depois apareceu morto na sua sala e por coincidência o professor Henrique fugiu de repente.

Entro num beco quando vejo um carro da polícia de Paris. O beco fede a lixo e tem umas possas de água verde. Olho meu reflexo numa água meio clara e meu verdadeiro eu aparece. Eu escolhi o meu lado, por que isso afeta tanto a todos?








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