Olho de longe a polícia invadindo minha casa, mexendo e vasculhando tudo. O vento bate em meu rosto e bagunça meu cabelo já que estou no topo da Torre Eifell. Poderia pular, mas só irei cair e não voar.
- Vai pular? - Me viro e dou de cara com Lúcifer, o próprio, batendo suas asas me dando uma pontada de inveja e ódio.
- Vai me empurrar? - Ele sorri e pousa ao meu lado.
- Abbadon deve ter lhe falado da guerra. - Afirmo. - Pensou?
- Não tive tempo para isso. - Digo sarcástico. - Tive que fugir da policia sem poder voar, apenas correr. - Reviro os olhos.
Lúcifer põe a mão nas minhas costas coberta pela jaqueta e da um leve apertão ou empurro, não sei dizer, e me olha de modo profundo, com os mesmos olhos de fogo.
- O que eu tirei, apenas eu posso devolver. Escolha logo um lado, Azazyel. Está dificultando as coisas.
Olho ele bater suas asas e sair dali até que não conseguir decifra-lo entre anjo ou estrela. De repente minhas costas doem, depois queimam, e é como se minha pele estivesse se rasgando. Debruço no chão, segurando para não gritar de dor, até sentir minha jaqueta sendo rasgados e um peso mas minhas costas surgi.
Minhas respiração está ofegante, como se tivesse corrido uma maratona, olho para trás e enormes asas negras, na corda da escuridão completa, está praticamente me olhando de volta. Me levanto tão rápido que acabo perdendo o equilíbrio e quase caindo. Asas maiores do que as que tinha, mais escuras do que me lembrava.
É estranho, até bom mas ainda sim é estranho ter o que me foi tirado de volta. Fiquei sem elas por séculos, milênios, vidas. Bato levemente as asas que me tira do chão por três segundos. Sorrio. Dou alguns passos para trás e corro, pulando da Torre Eifell como um louco. Perco o fôlego enquanto caio, até abrir minhas asas e como um solavanco subo, batendo minhas asas com força para cima. Rodopio, giro, plano. Faço tudo que fazia que podia.
Passo a noite no céu, matando a saudades e recuperando o tempo perdido. Elas são tudo para mim, sempre foram. Absolutamente tudo.
••••
- Então está com suas asas de volta... - Yekun surge das trevas e me olha com curiosidade e desprezo. - Olha, quando Lúcifer falou que tinha lhe devolvido elas, eu tinha que vim aqui ver. - O beco vazio, escuro e fedido não me dá uma visão muito clara dele.
- O que quer? - Pergunto entre dentes.
- Dizer que seu tempo está acabando. - Começa. - Ou você escolhe Deus ou Lúcifer, não é muito difícil. Aliás você acha mesmo que se escolher Deus Ele vai deixar você voltar pro paraíso? - Sua risada amargurada ecoa pelo beco escuro.
- Por quê? Por que minha escolha afeta tanto o mundo assim? Por que eu? Tem vários anjos que escolheram a Lúcifer, escolheram ter relações com mulheres, aprender sobre as armas, sobre a morte. Por que eu? - Me aproximo do demônio e olho no fundo de seus olhos. - Por que eu?
Yekun se afasta, negando com a cabeça e abrindo suas asas vermelhas e prateadas. Ele sai do chão, mas não vai embora de imediato.
- Eu preciso saber, Yekun. - Imploro.
- Eu não sei. - Fala, e sinto suas sinceras palavras me tocarem. - Eu não sei, Azazyel. Eu só sei que a Terra, a vida, está em suas mãos. Decidi logo de que lado está. - Ele bate suas asas fazendo o fedor do beco se espalhar.
Nego com a cabeça me sentindo perdido e desesperado. Eu preciso de uma explicação, eu mereço uma explicação.
- Eu preciso, tem que me explicar. - Digo olhando pro céu. - Você me deve uma explicação.
Sinto pingos de chuva cair em meu rosto. Pingos pesados. Olho para minhas mãos e penso em quantos matei, chicotiei, agarrei, estuprei, roubei. Eu mereço estar perdido, merece sofrer, mereço morrer eternamente. Eu mereço tudo de ruim. Mas eu preciso de uma explicação.
- Você tem que me convencer a ficar do seu lado. - Grito em meio a chuva. - Tem que tentar que nem eles estão tentando. Você precisa. Você me deve isso. Você me criou. - Grito mais alto. - Você me deve isso.
Agora, em meio a chuva, com o capuz na cabeça, as roupas ensopadas até a raiz do cabelo, penso em como seria se eu tivesse ficado no céu, ficado com Deus, com Ele, com o meu criador, com Papai. Por que minha escolha influencia tanto na Terra? Por que eu sou tão importante assim? Não poderia ser outro anjo caído? Qualquer um? Eu não entendo. Não faz sentido pra mim.
Eu preciso de uma explicação.
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Dark Angel
Science FictionAzazyel, um anjo caído por não escolher entre o bem e o mal, um Pária. Expulso do céu por escolher seguir Lúcifer, expulsou do inferno por não obedecer a Lúcifer. Agora Azazyel vive junto aos humanos, com uma vida normal de um professor de história...