- Então, qual o seu nome?
- June Vergewaltigt.
- Você gosta do teu nome, June?
- Sim.
- Por que?
- Porque é simples e rápido, me descreve com uma palavra.
- Então você é simples e rápida?
- Bem, é o que me dizem.
- Quem te diz isso, June?
- Alguns amigos que já tive e meu padrasto.
- Quantos anos você tem?
- 17.
- Gosta de ter 17?
- Não.
- Por que?
- É tudo mais complicado agora que eu sou mais velha.
- Então quantos anos gostaria de ter?
- 5
- Por que 5, June?
- Pois era tudo mais fácil, as coisas se resumiam no que eu via.
- Poderia descrever pra mim, um dia em que você se sentiu muito feliz?
- Era uma terça-feira, meu papai estava no trabalho, como sempre. Eu tinha 5 anos, e a minha mãe tinha acabado de me presentear com um cata-vento, eu corri para a janela branca do meu quarto rosa, e prendi o palito do cata-vento numa bolinha de massinha, apenas para ele ficar fixo. Eu abri a janela atrás dele, apoiei os braços na sua frente e descansei a cabeça sobre eles. Assisti atentamente o vento fazendo-o virar para a esquerda, ele era colorido e assim fazia as cores se misturarem. A brisa que atravessava a janela também balançava os meus cabelos, e eu estava quase adormecendo ali. Acredita que ainda lembro a sensação dos meus cabelos flutuantes?
- Eu acredito em você, June. Mas agora me diga, por que resolveu me contar sobre este dia em específico?
-Porque foi um dos melhores dias que já tive, nada mais importava do que aquele cata-vento, é por isso que almejo os meus 5 anos de volta.
- Entendo. Gostaria de me contar agora, sobre o que houve ontem?
- Acho que sim... Depois de fechar a porta da diretoria e caminhar pelo corredor um pouco mais atrás do meu padrasto, eu continuava confusa. Estava encarando os armários e desejando que o dia não estivesse regredindo tão rápido hoje.
Depois de cruzar a saída do campus, eu já estava indo em direção ao carro "azul prateado" enquanto procurava algo pra me acalmar, foi daí então que eu vi a grama verdinha ao meu lado. Estava um pouco molhada pela chuva que caiu mais cedo, mas isso só a deixava ainda mais bonita. Aquilo me acalmou o suficiente para conseguir respirar sem ter um ataque e conseguir entrar no carro.
Acho que está bom por aqui, não quero mais falar sobre isso.
- Tudo bem, temo que o nosso tempo tenha acabado mesmo Srta Vergewaltigt.Ele apenas ficou anotando tudo como uma máquina. Sinto pena dele, mas estava feliz por finalmente ir embora.
Ao cruzar a esquina, a alguns metros de distância de casa, vejo um novo vizinho, se mudando para a antiga casa dos Brockman. Não tinha um caminhão, ou qualquer coisa do tipo. Apenas ele, com uma caixa média em mãos, e o seu cachorro. Não parecia ser velho, na verdade, eu acho que tinha quase a minha idade. Bem novo, para estar morando sozinho, mas isso também não era novidade por aqui.
Finalmente cheguei na minha porta e comecei a girar a chave para abri-la. Pegar a chave me fez lembrar da minha, que havia perdido ontem, mas tantas coisas aconteceram que eu nem dava mais importância. Só aceitei.
Abri a porta a fechando logo em seguida. Estava aliviada por finalmente estar em casa, ontem o dia foi um dos mais horrorosos da minha pequena vida.
Já que estava sozinha, minha idéia inicial foi pintar, mas eu sabia que seria demorado e não iria conseguir pintar sobre pressão da rapidez.
Além disto, eu estava cansada e ridiculamente triste, realmente não estava bem para qualquer coisa. Então eu apenas dormi.(...)
Quando acordei já era tarde e não me sentia muito bem, estava tonta e com fome. Eu passei pelo corredor e vi no relógio que meu padrasto logo chegaria. Então eu tinha alguns minutos para comer e voltar pro quarto rapidamente. Desci as escadas e fui para a cozinha em busca de saciar minha fome. Procurei algo e lembrei que a mamãe tinha feito torta ontem bem cedo, deveria ter algum pedaço ainda. Abri a geladeira e o achei, como eu tinha pensado, havia uns pedaços. Enquanto cortava, fitava nervosa, o relógio da cozinha, desejando que nunca bata as 20:00 horas. Após colocar num prato, achei melhor comer no quarto, então subi. Quando coloquei o pé no degrau, escutei ecoar por trás da porta, o som das chaves balançando e se chocando nelas mesmas. Deduzir logo, que meu padrasto tinha chegado. Subi as escadas tão rápido que perdi o fôlego ao chegar no topo. Fechei a porta e me mantive lá, triste e tensa, comendo a minha torta branquinha de pêra.
Ele sempre fazia assim, tomava banho, comia, e logo depois ia para o escritório.
Eu comecei a contar os minutos que ele levaria para completar todas essas coisas, até ir finalmente dormir.
Porém, com as contas que eu fiz na cabeça, deu apenas o tempo de tomar banho e começar a reclamar de algo, já que eu escutei os seus xingamentos mesmo aqui de cima.
Depois disso, ele abriu a porta do meu quarto, já que nunca batia.
Me perguntou com um sorriso, sobre como tinha sido hoje. Respondi positivamente, mas não entendi o porquê dele estar tão sorridente.
Ele continuou, me dizendo que se importava comigo e com a minha segurança. Nesse momento eu comecei a cogitar a possibilidade dele estar usando algum tipo de drogas pesadas, mas não consegui pensar muito sobre isso porque senti a sua mão gelada sobre o meu braço direito, juntamente com uma iniciativa de abraço, mas que falhou, porque eu congelei e não demonstrei emoções.
Eu disse que estava tudo bem, e pedi para ele sair. Nesse momento, todo o seu sorriso se desfez e fiquei mais tensa do que já estava. Apenas se levantou rabugento e saiu do quarto. Deixando toda a situação pior do que já parecia.Estava muito triste para pensar sobre isso, estava muito cansada para me manter desocupada. Já estava bem tarde e eu não poderia ficar mais naquela casa.
Coloquei algo quente, abri a janela do quarto e escalei o traçado de madeira envolto de caules que se formava logo ao lado da minha janela, não era difícil de descer ou subir por ali, já tinha pensado em fazer isso antes, mas não tive falta de esperança o suficiente. Desta vez, nada me faria ficar.
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O último vislumbre de esperança
Misterio / SuspensoUma garota que tem seu último vislumbre de esperança, ao fazer amizade com o novo vizinho.