Questão de perspectiva

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Certa vez um professor de filosofia do meu antigo colégio disse que devemos equilibrar emoção e razão para ter uma grande perspectiva geral dos resultados a serem conquistados, naquela época eu não entendi mas agora sim. Há quase três meses atrás eu jamais diria ou até mesmo acreditaria que era uma bruxa, que sabia realizar diferentes magias ou que eu saberia me defender de várias formas com armas ou não, mas isso mudou, é meu último dia na cabana com o Samuel e tudo passou tão rápido.

Um bater na minha porta me desprendeu dos meus devaneios enquanto escrevia em meu diário, antes mesmo de me virar eu reconhecia aquele cheiro flores e canelas, eu sorri e me virei.

- Bom dia, querida! - o Sam diz enquanto eu o analiso, ele usa calça jeans preto, camisa branca, coturnos escuros e aquele belo cabelo ondulado molhado e preso.

- Bom dia, meu anjo! - finalmente respondo com um sorriso no rosto.

Eu me levanto da cadeira, ele vem na minha direção, quando estamos numa distância razoavelmente curta, ele me puxa pela cintura,me beija, eu me seguro nele e me entrego ao seu beijo.

- Fiz seu café da manhã! - ele diz entre os beijos, eu interrompo e o olho.

- Que tal a gente fazer uma horinha aqui? - pergunto soltando o cabelo dele e o empurro para cama.

- Mary, você sabe que seu pai vem hoje aqui e vai odiar saber que eu e você estamos juntos! - ele se apóia nos cotovelos para me olhar enquanto fala.

- Samuel, ele chega mais tarde e ele não precisa saber de tudo que nós fizemos durantes esses meses! - rio e sento em seu colo.

- Tudo bem, faremos o que você deseja! - ele sorri e me abraça.

- Então, quais são os planos para hoje?! - pergunto quando os olhos.

- Que tal uma caminhada até um pequeno riacho aqui perto?? - ele sorri e eu faço cara de pensativa.

- Eu aceito! Agora vamos comer... - rio e me levanto.

Ele se levanta, segura minha mão, descemos para a cozinha juntos e ouço um barulho.

- O que foi isso?? - solto a mão do Sam e tiro o cabelo do rosto.

- Não sei, mas fique preparada para qualquer coisa! - ele fica a minha frente com um ar protetor e eu suspiro.

Caminhamos devagar até que eu não possa ver quem é o intruso.

- Oi Pai! - cruzo meus braços contra o peito, o encaro e percebo que o Samuel está nervoso.

- Olá querida! Como você está?? - ele abre um sorriso misterioso e eu balanço a cabeça com desaprovação.

- Ficarei melhor quando o senhor me explicar o motivo de aparecer as 9 horas da manhã sem avisar e já ir mexendo nas coisas correndo o risco de ser morto! - falo com raiva

- Eu quis te fazer uma surpresa! Já que não te vejo à um tempo! -  ele me abraça e beija minha testa.

- Também senti sua falta, mas você tem que parar de fazer essas coisas e por que não bateu na porta? - fico imaginando se ele me pega com o Samuel no quarto.

- Eu tenho a chave! - ele responde enquanto come uma torrada.

- Okay, vamos comer? - seguro a mão do Samuel para ver se ele se acalmava.

- Mary! - o Sam sussurra enquanto me olha nos olhos.

- o que aconteceu com você? - pergunto preocupada.

- Nada! -  ele solta minha mão e se senta para comer.

Me sento sem entender nada, como em silêncio enquanto meu pai conversa sobre futebol e basquete com o Samuel, quando término, saio sem dizer nada, subo para meu quarto para pegar meu celular. Quando o pego vejo que tem um alerta das câmeras que instalamos por toda a propriedade que nos avisa se houver alguma aproximação de pessoas.

- Pai! Samuel! - grito do andar de cima e já desço correndo as escadas.

- Ei, se acalme... O que aconteceu? -  o Samuel me encontra no final das escadas junto com meu pai.

- Temos que sair daqui, um grupo de caçadores chega em 10 minutos no máximo aqui... As câmeras emitiram um alerta! - falo meio alto e vejo o pânico no rosto do meu pai.

- Peguem suas coisas, temos 3 minutos para sair... Me encontrem no carro! -  meu pai dá as ordens, pega o celular e sai.

Subo correndo de novo, pego minha mochila que já estava pronta, pego meu grimório enfio na mochila, verifico se tem alguma coisa minha, desço as escadas, vou para o carro, abro o porta malas, guardo a mochila, vejo meu pai e Samuel com as mochilas e espero eles.

- Vamos! - entro no carro depois que eles guardam tudo e entram também... Meu pai dá partida no carro e saímos indo em direção a uma entrada antiga que corta a floresta.

Passados alguns minutos vejo algumas motos se aproximando cada vez mais do carro e escuto atirar contra nós.

- Mary, se abaixe e fique quieta! - Escuto meu pai gritar e acelerar cada vez mais o carro.

- Alan, pare o carro naquela entrada de trilha que fica mais na frente, pegue as mochilas, algumas armas e vão para a clareira... Eu vou despistar eles e encontro vocês lá quando anoitecer! - o Samuel diz e meu pai concorda com um aceno de cabeça.

Quando as motos ficam para trás, meu pai para o carro aonde o Samuel indica, eu saio do carro, meu pai vai pegar as mochilas, o Samuel troca para o banco do motorista sem nem me olhar, pego a minha mochila com meu pai, uma arma mesmo com ele brigando por causa disso e nos escondemos enquanto o Samuel sai com o carro.

       _ Alguns minutos depois _

Depois de caminhar entre as árvores chegamos na clareira, me sento em um tronco e fico pensando em como o Samuel está.
O tempo foi passando, eu e meu pai fizemos uma fogueira, eu fico em pé na frente do fogo enquanto meu pai vai verificar o perímetro.

  Depois de um tempo distraída encarando o fogo, sinto um toque familiar em minha cintura que logo se torna um abraço.

- Oi meu amor! - ele sussurra em meu ouvido e eu me viro para o ver.

- Achei que tinha perdido você! - suspiro e o beijo.

- Você nunca vai me perder! - ele sussurra me olhando e eu sorrio.

Estava tão distraída que não percebi quando alguém se aproximou antes que fosse tarde demais. Um tiro e tudo mudou...
Sinto uma dor no peito, escuto meu pai gritar e depois o impacto do meu corpo no chão.

-Mary! Fica comigo... - escuto o Sam dizer.

- Sam... Não me deixa morrer aqui! -  falo com dificuldade enquanto ele tenta parar o sangramento.

Vejo meu pai perto de mim, busco a mão dele e sinto as lágrimas rolarem por todo meu rosto.

- Me desculpa, Pai! - sinto um gosto de sangue na boca e olho o Sam. - Eu te amo, Sam!

Vejo as lágrimas escorrerem pelo lindo rosto do Sam e tento seca-las.
Fecho os olhos e foi como adormecer...

A herdeira da luaOnde histórias criam vida. Descubra agora