Segunda-feira, 19 de outubro de 2020
- Droga! – disse Roberto em uma manhã de abril, ainda se acostumando ao ritmo de acordar cedo; ir para o estágio, no qual tinha pilhas e pilhas de trabalho a terminar por um preço baixíssimo que nem podia ser considerado salário; depois para uma faculdade no centro da maior cidade do Brasil e chegar em casa por volta da meia-noite, para repetir todo esse ciclo que começa às 8 da manhã. Esse dia de abril não começou às 8 da manhã, pois Roberto acordara pontualmente às 9 da manhã, o suficiente para atrasar seu dia.
- Merda, merda, merda, merda... Mais um atraso e o Sr. Assunção vai querer a minha cabeça num prato.
- Você não quer uma carona? – disse a preocupada Dona Marta, mãe de Roberto – Posso pedir para o Rubens te dar uma carona, ou chamar um táxi.
- Não mãe, obrigado – disse Roberto já se acalmando um pouco –, vou tentar dar uma ligada no escritório e deixar explicado, eles terão que entender. A senhora sabe que não dá pra chamar táxi toda vez que eu me atrasar e o Rubens cobra muito caro pela "carona".
Ele terminou de se vestir e caminhou até o telefone que estava na sala. A televisão pequena apresentava um programa de auditório com plateia infantil que tinha entre os intervalos das gincanas desenhos animados que passavam em um horário tentador para crianças que estudavam de manhã. Nem em pensamento posso chamar um táxi, a situação aqui de casa não permite esses luxos. A coitada mal... Os pensamentos de Roberto foram interrompidos por causa de um ininterrupto barulho de tiros de fuzil.
Era a terceira vez naquele ano que Roberto chegaria atrasado por conta das constantes ações policiais que estavam acontecendo na periferia em que vivia. Quando a polícia descia ali, era impossível para as pessoas que trabalhavam e estudavam longe saírem, então tinham que esperar, colocando em risco seus empregos em prol de suas vidas.
A rotina de Roberto era agitada. O deslocamento dele de casa para o estágio (ele escolheu chamar assim pois a remuneração condiz com a de estágio e não de emprego), onde ficava até as 4 horas da tarde, de lá ia para a faculdade, onde estudava na biblioteca da mesma, adiantando trabalhos do curso, pesquisas e documentos até dar 5 e meia, onde estudava. O ponto alto de seu dia era a faculdade.
Roberto desde criança sonhava em trabalhar com jornalismo, não havia um motivo muito concreto, apenas admirava a função. Ganhara uma bolsa de estudos ao prestar uma prova quando estava no ensino médio. Na realidade em que vivia, ninguém podia se dar ao luxo de ser agraciado com presentes tão belos como o que Roberto recebeu, não sem contestar. Não são todos os dias em que se acerta mais de 50 questões em uma prova de 60 em uma prova difícil como aquela. 57 para ser mais exato. Também não são todos os dias que o próprio fundador da instituição decide não apenas fornecer um desconto de 70% para os 5 primeiros aprovados, mas sim fornecer para você a oferta de bancar 100% seus estudos, material e ainda te arrumar um "emprego" em um dos maiores jornais da cidade.
Tudo citado acima acontecera com Roberto, mas o mesmo tivera uma vida repleta de desgraças e atrocidades. Perdeu o pai que havia saído em uma tarde qualquer quando ele tinha apenas 8 anos, por causa da violência do tráfico e da polícia. Durante a escola foi rejeitado, em uma época onde o bullying e a depressão eram vistos com outros olhos. Não ter a mãe presente em momentos decisivos de sua vida também o impactou muito. É mentira dizer que ele encarou tudo com a cabeça erguida, mas tudo passou e aparentemente ele estava vivendo outro momento de sua vida. Apenas aparentemente.
- Mãe! Vá para o seu quarto agora! – gritou Roberto – Eu irei até aí!
Roberto se abaixou no chão para rastejar até o quarto de sua mãe, quando tiros invadiram a casa. Havia algo de anormal naqueles tiros, eles começaram a perder velocidade e parar no ar. Igual naquele filme antigão. Ele não deixou aquilo o perturbar por muito tempo e se apressou, ainda abaixado, para chegar ao quarto. Chegando lá imediatamente se levantou e disse:
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Anomalia
خيال علميAs Anomalias são pessoas super-poderosas que se escondem do governo, que encobre seus rastros para "proteger" a população e usar seus poderes em seus beneficios próprios sem sofrer retaliações. Roberto acorda de um sonho que lhe pareceu muito real e...