Cap 16: Edward - Vampiro

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A minha voz profunda e melodiosa surpreendeu-me, mas não tanto como o que os meus olhos viam agora que estavam abertos. Era tudo tão claro e definido! Conseguia ver nitidamente todas as texturas do tecto de madeira e distinguir cada grão de pó que pairava no ar acima de mim. Tinha prendido a respiração quando abri os olhos, mas agora que voltava a inalar percebi que o movimento não me trazia nenhum alívio, apenas aumentava a complexidade de tudo à minha volta. Quase que conseguia sentir o sabor dos cheiros que me rodeavam. Canela, pêra, pinho, baunilha, couro, jacinto, maçã, musgo... Um conjunto de odores era particularmente agradável e parecia ser mais forte: terra molhada, lírio, chocolate e morango. Agora que o ar tinha passado pela minha garganta senti uma queimação crescente nessa zona. Lembrei-me da dor das últimas horas, dias... não sabia ao certo. Perdi o foco quando reparei no som de várias pessoas a respirar, o que coincidiu com o momento em que oiço alguém dizer:

"- Será que ainda não terminou!?"

Olhei para o meu lado direito a uma velocidade que não pensei ser possível e vi cinco pessoas especadas a olhar para mim. Bella era a mais próxima. Pelo menos achava que era a Bella. Ela estava ainda mais deslumbrante do que eu me lembrava, se isso fosse possível. Havia quase uma aura brilhante em seu redor de uma cor que eu não conseguia bem nomear. Eu conseguia contar cada fio de cabelo e cada pestana dela. Toda ela era perfeita até que reparei na sua expressão de angústia. Será que havia algum problema? Ela deu um pequeno passo na minha direção mas, mesmo antes do seu pé tocar novamente no chão, eu já me encontrava agachado junto à parede oposta do compartimento. Como tinha ido lá parar? Foi tão rápido! Mas mesmo com essa rapidez consegui ver todo o meu redor com a mesma clareza de quando estava parado. Um milésimo de segundo depois um coro de vozes explode na minha cabeça:

"- Cuidado!"

"- Acho que o assustamos..."

"- Maninho, tem calma..."

"- Será que já posso lutar com ele?!"

Os meus olhos não se desviaram dos cinco rostos durante todo o salto e em nenhum momento vi as suas bocas se moverem. Quem falou então? O que se passa?!

- Edward... - a voz da Bella tilintou como um sino e eu fiquei distraído com o som melodioso da sua voz. Ela tinha mexido os lábios para falar comigo. Lentamente ela estica a mão na minha direção e eu deixo a minha posição de defesa mas mantenho-me junto à parede.

Uma parte de mim prestava atenção à pequenina. Alice. Ela era a quem se tinha movido mais até aquele momento, saltitando e tentando espreitar por entre os braços estendidos e protetores do seu namorado, mas agora estava quieta e com um olhar estranho...

- Bella, é melhor não te aproximares mais. "Ele pode magoá-la sem querer..." - disse um homem mais velho mas tão atraente como qualquer um dos Cullen que conhecia. Tinha um ar bondoso que me fez simpatizar com ele imediatamente, apesar do que tinha dito.

- Eu não a vou magoar. - disse defensivamente. - Todos olharam para mim confusos, principalmente o homem, o qual cheguei rapidamente à conclusão que deveria ser o Dr. Cullen, o pai adoptivo de todos eles, menos da Bella.

"- Oh... acho que já sei o que se passa." - Alice olhava agora para mim toda sorridente e eufórica. "- Edward! EDWARD!!! Estás a ouvir-me?! Não sei como sintonizar isto... Se calhar tenho de pensar mais alto e devagar. E-DW-AR-D!!"

- Por favor, cala-te só um bocadinho... - disse fechando os olhos e apertando a cana do nariz, um tique que a minha mãe dizia que eu tinha sempre que estava irrit...
- A minha mãe! Onde... como... o que aconteceu?! - nesse momento também me apercebi que eu não estava normal. Apenas uns seis segundos e meio tinham passado desde que abrira os olhos e o que eu pensei ter sido apenas um pesadelo estava a voltar à minha mente como um estalo de um elástico. Eram imagens muito desfocadas e sem pormenor, comparadas com a minha visão agora mas eram, sem dúvida, verdadeiras. Eu ainda conseguia sentir o cheiro do fumo e gás...

- Vamos explicar-te tudo, Edward. - Bella deu mais um passo. Os seus olhos pareciam de alguém prestes a chorar mas eu não conseguia ver vestígio de lágrimas neles. - Eu lamento tanto...

Eu não tinha chegado a tempo para a salvar. Perdi toda a minha família... Agarrei a minha cabeça e um som gutural formou-se no fundo da minha garganta. Uma onde de paz surgiu dentro de mim ao mesmo tempo mas não não fazia sentido com o que tinha acabado de acontecer.

"- Ele está a perder o controlo, vou ter de intervir em breve..."

Confuso, sacudi a cabeça e outro som mais forte que o anterior escapou dos meus lábios.

"- Vou saltar sobre ele agora e imobiliza-lo."

- Não, Jasper!! Edward!!! - Alice gritou com a sua vozinha no momento exacto em que me desvio da investida de Jasper. Ouvi um assobio impressionado.

"- Como...? Não importa, se me virar assim agora..."

Girei sobre mim mesmo enquanto me baixava, evitando os braços estendidos de Jasper e puxando-lhe uma perna. Ele perdeu o equilíbrio mas antes mesmo cair de costas apoiou uma mão no chão e impulsionou-se para o outro lado. Virei-me para o encarar quando me deparo com as costas da Bella.

- PAREM! - gritou. Ela estava entre nós os dois, de braços estendidos, impedindo que Jasper chegasse até mim novamente ou eu a ele.

- Ele é perigoso, Bella! - rosnou Jasper. - Nunca lutei com alguém como ele antes! Parece que adivinha os meus movimentos!

- Seria mais inteligente da tua parte se não os verbalizasses. - disse entredentes, por cima do braço direito da Bella.

- Como assim...? - perguntou Dr. Cullen. - Alice soltou um risinho de superioridade. Todos menos Jasper olharam para ela. Ele não ia tirar os olhos de mim.

- Não é óbvio? Ele consegue ler mentes.

Os olhos voltaram-se todos para mim. Consigo ler o quê? A minha cabeça começou a juntar as peças. Pedaços sombrios de memórias em que eu parecia ouvir coisas que não faziam sentidos e os acontecimentos mais recentes apontavam para o que a duendezinha dizia fosse verdade.

"- Impossível."

"- Arg... Mais um armado em especial."

"- Ah! Um adversário à atura!"

"- Coitado... parece ser um dom demasiado pesado para carregar por toda a eternidade..."

- Como assim "por toda a eternidade"?! - perguntei quando apanhei o que deve ter sido o pensamento do Dr. Cullen. De alguma maneira soava como a voz dele mas diferente agora que prestava atenção. Havia quase uma indistinta reverberação no som, como se ecoasse dentro da minha cabeça. Também parecia mais alto do que a voz maldosa que ouvi sobre "mais um ser especial". Seria pela distância? A que distância conseguia ouvir mentes?! Sentia a cabeça à roda. Os pensamentos dos outros continuavam e quase me tinha esquecido da pergunta que fiz até que o Dr. começasse a responder.

- Não há maneira de te preparar melhor para isto, principalmente com o teu dom. Irias descobrir de qualquer maneira demasiado rápido e de maneira mais confusa. - o Dr. respirou fundo como quem se prepara para fazer uma grande revelação.

- És um vampiro.

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Obrigada a todos que chegaram até aqui!
Espero que estejam a gostar e que comentem para eu poder melhorar!

Bjos

Sunshine - um mundo paralelo a CrepusculoOnde histórias criam vida. Descubra agora