Capítulo VI: Reescrevendo

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A CARTA

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Para Louis,

Do amistoso

Reino de Câncer.

Olá, Louis. Não sei como começar a escrever esta carta e isso nunca foi o meu forte, você sabe. Não posso compor em palavras o tamanho de minha dor e preocupação por você, amigo. Queria poder abraçar-te, arfar meus pulmões com lamentações e quiçá conseguir teu perdão. Talvez eu não seja o rosto que irá fazer-te surgir um riso ou pôr fim a tempestade que há em seu interior agora. Sigo confuso por essa inesperada guerra e lamento profundamente por sua perda. Imploro-te não cair em desgraça, teu sorriso é a luz que guia-me e iluminará teu povo. Permita-me vislumbrar tua presença e sorrir por sua companhia. Se concede-me um desejo de minh'alma, encontre-me na Floresta Vermelha, aos pés da Árvore do Grande Cupido, o lar dos Corações Apaixonados. É o único lugar que conheço do Reino de Câncer, pelas visitas de minha mãe. Ao pôr do sol e daqui a dois dias após a entrega desta carta. Com todo o amor e carinho.

James,

Do caloroso

Reino de Escorpião.

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Era dia no reino de Câncer e tudo ainda permanecia em um silêncio estridente. O sol parecia não querer iluminar o lugar e o vento passeava pelas ruas vazias. Os pássaros ainda se escondiam nas árvores e as pessoas sofriam o luto de dentro das casas. Louis tinha recebido a carta que fora enviada por James, mas não tinha ousado ler ela. Apesar da curiosidade, o príncipe não achava certo. Será que sua mãe se sentiria traída pela audácia dele de abrir uma carta de alguém do reino de Escorpião? Ela era de um tom azul-meia-noite e, com toda certeza, era diferente das cores que representavam aquele reino tão caloroso. De tons alaranjados, para um azul profundo. Será que aquilo era um disfarce? Com todo o alarde de guerra que assolava o ambiente, uma carta enviada para o reino de Câncer seria um aviso de traição.

Para Louis, do amistoso Reino de Câncer. Era o que o pequeno príncipe sussurrava para si. Antes que pudesse se afundar ainda mais em suas dúvidas e preocupações insanas, Custódio ousou bater à porta.

-Príncipe? -Perguntou Custódio, salvando o canceriano de seus pensamentos agonizantes. -Ainda não abriu a carta?

Louis a segurava desde quando um pássaro a deixou em sua janela. Ele sabia de quem era, reconheceu seu remetente. Mas precisava de coragem depois de tudo o que aconteceu. Não era por ele. Era pelo que o ato de abrir e suprir sua curiosidade significava. Sua mãe morta. Seu povo, traído.

-E eu devo? -Disse, confuso. -Não sei se é o certo, Custódio. Eu quero abri-la, mas... Argh! -Enfim largou a carta e parou para olhar a janela.

-Não cabe-me dizer se abri-la é apropriado ou não. -Admitiu. -Mas, assim como não abri-la, deixá-la fechada também trará alguma consequência.

-Certo. Estou ainda mais confuso. -Bufou.

-Olha, Louis. Nem sempre optamos pelas melhores escolhas, tão menos a dominamos de alguma forma. -Custódio agora respirava fundo, sabia exatamente o que Louis queria e que, na verdade, não era tão errado assim. -Leia a carta. O que estiver escrito aí, seja de bom ou ruim, você ficará sabendo. Viver na dúvida é um perigo.

Custódio pegou a carta e entregou a Louis, acariciando o ombro esquerdo do mesmo e o deixando sozinho no quarto. O príncipe então respirou fundo e rompeu seu selo, conseguindo ler o que estava escrito. Ao pôr do sol, sussurrou para si.

SIGNUS: A Profecia do OráculoOnde histórias criam vida. Descubra agora