Epifania

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Numa noite, em um dia qualquer no meio da semana me encontro aqui, deitado em minha cama, totalmente à mercê de meus mais queridos e temidos pensamentos - os quais, como duas crianças na gangorra, revezam sobre quem está no topo em minha mente, desta vez, felizmente, minha mente preferiu os pensamentos nem tão ruins.

O egoísmo sempre foi algo em mim presente, por mais que disso eu quisesse me livrar por muitas vezes. Acontece que, como todos os outros sentimentos que temos, ele não some se só ignorarmos. Então, como acabar com ele? Como se livrar desse sentimento que tanto é mal falado, mas que, por mais que reprimimos, mais nos martela a cabeça? Bem, o egoísmo é algo intrínseco à nós, todos nossos atos, por mais que "altruístas" são desencadeados pelo egoísmo - seja pelo egoísmo da vaidade de ser reconhecido por algo bom, ou o egoísmo de fazer algo bom para se sentir bem, dessa forma o bem do outro seria um subproduto de seu próprio bem. Afinal, o que nos sobra é lidar com o egoísmo, seja da forma mais saudável, aceitando sua existência, ou apenas o reprimindo, e vivendo como uma falsa pessoa de bem, sem ressentimentos e bem resolvida, mas que no âmago de seu coração há mais furos do que no casco de um navio naufragado.

Eu aceitei o meu egoísmo. Não tenho mais essa vontade contemporânea de minha época de ser perfeito, bem resolvido, sem absolutamente nenhum problema, pois isso não faz parte de nossa natureza. Aceitei minhas metas, minhas indecisões, paixões, volatilidade e receios, pois só assim se é possível compreender a merda que esse mundo é, e viver no limite entre ser um feliz idiota com síndrome de Peter Pan e um adulto amargurado com desgosto da vida. Meus dias se passam neste limite, oscilando entre um e outro, na esperança de que se torne cada vez mais fácil suportar isto - mesmo que todos digam o contrário.

Aceitei meu egoísmo e minha vontade de ter tudo em meu controle, pois só assim me sinto confortável como alguma situação. Aceitei minha vontade de tudo dominar, e à minha imagem os criar. Muitas vezes me perguntei se isso é certo ou até saudável, se isso irá afastar as pessoas de mim ou fazer meu relacionamento entrar em ruínas. Pois bem, enquanto eu tentava ser perfeito e agradável à todos foi quando perdi diversos laços afetivos, portanto, me fica claro que esta não é a melhor forma de lidar com a negatividade, simplesmente ignorando-a, pondo de lado a fim de que, como a água em um dia de sol após uma tempestade, evapore.

A verdade é que na maioria das vezes só me sinto pleno quando tenho o controle das coisas em minhas mãos, para que minha vontade se sobressaia às vontades alheias, e sinceramente, eu não me sinto nem um pouco mal quanto à isso, já que, se eu as consigo é porque aqueles os quais aceitaram minha vontade não tiveram os meios necessários para impor suas próprias vontades, logo, por que devo me sentir mal por isso?

No entanto, uma vez ou outra me ocorre de preferir que as coisas simplesmente aconteçam sem que tenham minha influência, momentos nos quais eu me sinto verdadeiramente bem sem exercer nem um pingo de vontade para moldar algo. Normalmente são momentos ao lado de gente que eu verdadeiramente gosto, ao lado de gente que, em sua mais pura essência me agrada, sem que eu tenha que moldar para me fazer bem. O que me entristece é que essas pessoas são raras, e estes momentos mais ainda, o que me faz triste, porque, na maioria das vezes, percebo que estou vivendo um destes momentos próximo ao seu fim, mas que por um lado é ótimo, me causa um momento de reflexão, de admiração, não só do momento, mas da vida. Me concede combustível para continuar a queimar a chama da vida em mim, a chama que nos dá o prazer de viver e o bom gosto pelos momentos bons e belos.

Rio de Janeiro, Doze de Fevereiro de Dois Mil e Vinte

(GabrielOcaio)

Pensamentos de Uma Mente EgoístaWhere stories live. Discover now