Primeiro Namoro

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O dia de escola foi comum. Várias qualidades de alunos interagindo socialmente, às vezes gerando faíscas mas nada que perturbe a ordem da escola, pois a mesma mantém uma organização bem opressiva. Aqui se faz, aqui se paga o seu e os dos outros. Eu simplesmente ignorei a escola, minha mente ficou presa no que aconteceu hoje cedo. As emoções que lá no quarto havia vivido me rondava durante as aulas, cada menção a aquela memória,  invocava tais emoções e meu corpo vibrava, meu coração vacilava, e ar parecia ser pouco aos pulmões. Era como uma carga de energia, e é quando isso acontece, que tenho problemas... quando entrava nesse estado, eu acabava ouvindo coisas, vendo vultos, sentindo toques ou presenças. Parece tão real as vezes que hesito em julgar ser coisas da minha cabeça. Mas enfim... cheguei em casa pelas graças de Deus. Já estava anoitecendo, pois já era seis horas da noite, Minha mãe estava na sala e não notou eu passando, fui diretamente para quarto, seguir um impulso que me fez mandar mensagem para Igor - Pede sua mãe para você dormir aqui hoje, rsrs -. Enquanto ele não respondia fui para o banho. Segui com minha tradição, cagar com celular antes do banho. Sentei e comecei trabalhar... enquanto mexia no celular do nada em minha mente - Morre em cima desse vaso e esquece que Igor está vindo! - já acostumei com ele, por algum motivo aleatório coloquei o nome dela de Valentim, e desde que criou vida própria (não sei quando isso aconteceu), ele está comigo e por ter que viver com ele, sempre o respondo 
- Chegou a entidade da inconveniência
- Inconveniente é a sua vida - Não sei se era para ficar ofendido, nas eu ri. só que internamente para não dar ousadia para ela - Psiu piranha -.
- Foda-se, anda logo que Igor tá vindo
- Ele nem respondeu
- Só confia ou quer apostar?
- Quero não, obrigado. Mas... para que essa presa? Ele que lute, é meu sagrado esse momento.
- Para acertar logo tudo que aconteceu hoje de manhã
- Sai daí Valentim, tu querendo incitar minha ansiedade, e esse momento é para esquecer dela.
- Deixa de palhaçada! 
- Cala a boquinha, só respira cheiro de bosta no ar...
Acabei não demorando no vaso, e fui para banho. Fiz tudo que eu tinha direito. Com a  água morna lavei meus cabelos três vezes para ficar bem limpo, dei uma pausa, hidratei meu cabelo, ao fim lavei todo meu corpo, passando a bucha na pele como se fosse Igor ao me tocar, aproveitei o máximo do banho, sai e caminhei para o quarto, vesti minha roupa bem selecionada, passei desodorante para não dar "CC", passei hidratante, Passei perfume, usei leite de rosas, usei máscara de rosto, passei creme e arrumei meus cachos e terminei minha sessão de embelezamento quando Igor bateu a porta. Cheguei tão depressa a porta que minha mãe teve medo. - Já chegou? - Ele olhou nos meus olhos e me deu a esperança de uma frase romântica, mas soltou no seco - Cheguei -.
- Nossa... então, nem respondeu a mensagem que te mandei e já chegou
- Eu cheguei rápido por que já planejei isso antes de ir para escola, disse para minha mãe que viria direto para cá e ela deixou, já que vou estudar... - Olhei para ele com um tom de safadeza - Entendi, bora para o quarto! - peguei a mão dele e o arrastei, mas minha mãe apareceu no meio do caminho - você vão para onde? - ela estava parada com os braços cruzados esperando uma resposta - Mãe, o Igor vai dormir aqui hoje, estava levando ele para o quarto - Ela deu de ombros - Célia ligou avisando, mas pretendem passar fome? Igor, vai tomar seu banho, e Di me ajuda a montar a mesa por enquanto e vamos jantar, depois vocês sobem - olhar para ela enquanto pretendo fazer coisas duvidosas é um tanto difícil, mas segurei minha ansiedade em estar sozinho com meu "melhor amigo colorido".

Estava todo mundo da casa na mesa, menos minha tia avó que não tem as pernas travadas em uma posição que não permitia se sentar a mesa confortavelmente - Cadê minha bença? - disse Nena pra mim e Igor, pedimos a benção ela soltou - na minha época, sempre que chegava em casa a primeira coisa era pedir bença os mais velhos e de joelhos ! - Minha mãe bufou e então disse - Então meninos, como foi a escola? alguma atividade? algum trombadinha mexeu com vocês? - Igor respondeu primeiro - tudo bem lá, tenho só uma atividade que vou responder com a ajuda do Di - nunca gostei muito do meu apelido, mas me acostumei - Eu não tenho atividade nenhuma, mas te ajudo. E a senhora mãe, sentiu saudades de mim hoje de tarde? - ela olhou pra mim sorrindo - Se pudesse deixaria você estudando o dia todo, só voltaria para dormir - Igor ria enquanto me olhava, aquele sorriso era apaixonante - oh Tay estudar a estudar um período já é ruim, imagina... - conversamos durante toda a janta, ao terminamos puxei logo para o quarto e sentamos na cama. Olhei nos olhos dele e ele nos meus, o tempo pareceu congelar e em câmera o olhei - Se você bestar eu resolvo isso na hora! - ele é muito chato! mas tudo bem, Valentim não esta errado preciso me resolver e então voltei ao ar e percebi Igor na minha frente - É normal tu viajar tanto assim? - Apenas ri serenamente - As vezes sim... - toquei no rosto dele, acariciei suas curvas enquanto ele começou - Ah... então sobre hoje... - Seus olhos estavam vívidos - Sim, sobre hoje... vamos namorar né? - eu vi olhos dele tomarem um susto - Já?. 

- Sim, por que não tentar?

- Nada, só pensei que tu teria alguma resistência

- Por que teria?
- Seus pais por exemplo, falaria como? - Meu pai  morreu antes de eu nascer em um assalto, os bandidos o mataram por não cooperar enquanto defendia minha mãe gravida - Não tenho pai, e minha mãe é aberta, mas e seus pais?
- Na verdade eu não sei, eles são abertos, mas não sei seria tanto. - senti um aperto em meu peito - Vamos escondido até arrumar um jeito- Igor olhou nos meu olhos com um pequeno sorriso de consentimento - Pode ser! 
Então firmamos nosso contrato com um beijo bem dado. Conversamos e brincamos até a hora de dormi. De conchinha, sentir o abraço dele era muito confortável e me adormeci logo. Basicamente fechei os olhos e imediatamente mergulhei em um sonho. Estava na porta de casa esperando alguém (não sabia quem, apenas sabia que estava esperando). Sentei no meio fio do passeio e um homem apareceu, era aquele do arco e flecha. Ele parou na minha frente e disse - Prazer, Cupido -. Quando eu foquei nos olhos dele cai em outra cena, estava andando em um templo de estilo grego. De repente o solo tremeu e chão rachou. Um gás verde começou vazar do chão,  e encher o templo, meu corpo parecia queimar enquanto vibrava, e minha visão queria me trair, ameaçando apagar. meu corpo perdeu o controle e então cai desmaiado, após impactar no chão acordei no susto. Igor dormia pesadamente e eu levantei, não sei por que, fui para porta da rua, sai e sentei no meio fio do passeio (as vezes quando estou com insônia, saio pelas ruas de madrugada até me cansar e voltar pra dormir sem minha mãe saber). Passado alguns minutos um menino surgiu na rua que aparentava ser uma duas horas da manhã. Esse garoto era como no sonho, mas não tinha as asas. Percebi que estava acontecendo tudo como no sonho, e então gritei - Ei você ai! me ajuda - Espantado o menino veio até a mim - Aconteceu algo? - Eu olhei nos olhos dele, eram tão vermelhos que parecia sangue - Cupido? - Ele fez uma expressão de espanto - do que me chamou? - pela reação dele confirmei minha tese - você estava no meu quarto, como entrou la? 

- Não sabe meu nome, eu nunca te vi!

- Certeza? - Não sei, mas algo não era verdade. Eu sabia quem era o Cupido (apesar de este ser bem diferente do bebê com asinhas), e aqueles olhos se não for de um deus também não será de um mortal.

- Como não ter certeza do próprio nome?
- Vai saber né... mas cor dos seus olhos não me engana. - ele me encarou com desconfiança - São normais! - Essa enrolação começou a me dar agonia - É o seguinte, eu te vi e sonhei com você, sei quem é, e só estou reagindo sem surtar pelo fato estar do lado um deus, por que pelo menos eu sei que não estou enlouquecendo. Cupido me olhou calmamente - parece que você tem a visão, nenhum mundano consegue ver a verdadeira cor dos meus olhos. Mas sim, eu me rendo, sou Cupido. - Aquela confirmação fez sentido para muita coisa - Tá, mas me responde uma coisa. Você que me fez apaixonar por Igor Souza aquele dia né?
- Eu! apenas uso flecha para despertar o que já existe, e sua ligação com ele é antiga. - aquilo só me deixou mais confuso - Como assim antiga?
- Quanto menos você souber mais seguro você fica
- Por que?
- Acabei de dizer, vai arrancar mais nada
- Aff!... mas e hoje de manhã, você visitou meu quarto, foi fazer o que? - Me surpreendi ao ver o Cupido corar - Nada apenas fui ver se estava bem...- apertei os olhos e olhei para ele - Sério? assim do nada?
- Não posso ter empatia pelos mortais? Tadinhos... são como baratas indefesas
- Faz sentido... - olhei nos olhos dele, mas parecia ter algo mais. - Claro que têm algo mais - é o Valentim dando palpite.
- Mas o que? o que eu não posso saber?
- Isso tu se preocupa depois, para agora tem que flertar com ele.
- Tu só pensa em putaria, misericórdia.
- Sou seu lado íntimo, sou o que sou, você assumindo ou não.
- Odeio o fato de você ter razão - de fato, aquele me menino deus me despertava algo prazeroso de sentir e então joguei - Você gosta de mim? - Ele olhou com os olhos rápidos todo o ambiente fugindo do meu olhar - O que? Sei que os mortais são indefesas como baratas mas pensar como uma estou descobrindo agora. - Lancei um olhar fuzilante - Isso mesmo, você gosta de mim? - Não! e pare de tentar colher maduro.

- Vou fingir que acredito...

- Vou embora... vai dormir criança tem que estar na cama - ele me olhou no fundo dos olhos, e o vermelhos que havia no seu tomou minha mente e tudo escureceu, simplesmente acordei no outro dia ao lado de Igor.

Apaixonado pelo(s) Cupido(s)Onde histórias criam vida. Descubra agora