Cinco

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Sesshoumaru a levou por corredores iluminados e limpos, a decoração era mínima e havia certa elegância nisso. Kagome fitou o macho alto a sua frente, os fios prateados estava presos por uma fita, sua armadura não estava nele, assim como as espadas, o que era bastante incomum. O lord parecia estranhamente confortavel, em casa, ela sentiu um pouco de inveja disso, a quanto tempo ela não sabia o que era isso, esta confortável, se sentir bem o suficiente para deixar cair aquele muro de aparências que parecia usar sempre? Bem, não importava agora, em breve tudo aquilo estaria no passado, literalmente.

Estando destraida com seus pensamentos, Kagome quase esbarrou com o youkai quando ele parou. Antes de observar a fundo, ela se afastou dois passos, estivera desconfortavelmente próximos e ela não precisava ao queria lidar com aquele tipo de situação. Deixando de lado aqueles pensamentos e enquanto outros tomavam forma, ela esperou que o inu se pronunciasse, ao mesmo tempo, seus olhos varreram a porta beje, suspeitava que aquele fosse o quarto da jovem protegida do lord.

- Não consigo entender, qualquer outra curandeira poderia vir e cuidar dela e você não precisaria fazer acordo algum.- Foi ela a romper o silêncio, tinha ciência que havia sido tolice expor aquele ponto de vista, talvez ele pudesse mudar de ideia e ela estaria novamente perdida em si mesma. Contudo, as palavras já haviam sido ditas e ela precisava saber, entender um pouco que fosse do que se passava na mente do inu-youkai.

Ele não a respondeu de imediato, Sesshoumaru parecia fazer isso muitas vezes, pesar suas palavras e ações, tendo certeza do que ela precisava saber e o que ele prontamente esconderia dela. Então, ela esperou, não havia muito que pudesse fazer de qualquer forma.

- Confiança.- Foi tudo que ele disse.

Era um tanto frustrante sua obsessão em responder perguntas com uma única palavra, mas ela o entendeu, não conhecia o lord tão profundamente quando o seu meio-irmão, mas ela não precisou realmente para entender a linha de pensamentos por detrás daqueles dourados tão marcantes. Para o desgosto de Sesshoumaru, ela pensou, Kagome não estava se sentindo tão generosa naquele instante, sua vontade de arrancar mais palavras e emoções dele, era um tanto viciante.

- Confiança?

Ele quase pareceu suspirar frustado, mas não fez nada tão óbvio, ao invés disso, o lord abriu a porta beje e entrou, quando ele a respondeu, não poder ver suas feições tirou um pouco da graça da brincadeira não dita, criada por ela.

- Esse Sesshoumaru, confia que você cuidará de Rin, é apenas isso.

Saber que aquele frio youkai podia confiar em um ser humano era estranho, que ele confiava nela, por outro lado, era um tanto recompensador? Veja bem, Sesshoumaru parecia manter suas relações bem estreitas, vê-lo admitir que confiava em alguém para algo a fazia se perguntar, o quão bom aquela pessoa poderia ser? Afinal, o lord podia ser bastante exigente e critérioso.

Kagome sentiu-se subitamente inspirada, quase como se quisesse mostrar a ele que o mesmo não havia errado em torná-la parte de seu círculo. Fazia tanto tempo que ela não era parte de algo e agora, ali estava, tentando se agarrar a qualquer gão que o lord pudesse jogar para ela. Era um pouco patético, ela temeu se tornar verde e encolher alguns bons centímetros, e ter que sair por aí, gritando e agitando um cajado com duas cabeças. Aquela imagem quase a fez rir, aquela poderia ter sido a primeira vez em tempos a ter um sorriso de verdade nos lábios, mas ao invés disso, ela se viu mordendo os lábios e engolindo o riso, quando viu a menina desacordada na cama.

Seus passos se apressaram pelo quarto, Kagome sempre tivera um lado meio maternal nela, este que a fazia mais proucoada e zelosa por aqueles ao seu redor e mesmo, alguns além dele. Foi necessário se curvar um pouco para tocar a menina, sua pele era quente ao toque, quente demais para ser um bom sinal, com a luz vinda das cortinas abertas, ela notou a pele pálida e os lábios um tanto trêmulos, como se a pequena tivesse frio, mesmo estando embrulhada em grossas, ainda que macias, mantas.

- Parece uma gripe, se estivéssemos no meu tempo, eu não me sentiria tão alarmada, aqui, por outra lado, a recuperação será lenta, mas vou fazer tudo que eu puder por ela.- A miko tagarelou, pelo canto dos olhos, ela fitou o prateado.

Sesshoumaru não disse nada, nem um aceno de agradecimento ou semelhante, tudo que fez foi observar a criança por um segundo a mais, então, ele deixou o quarto. Cerca de cinco minutos depois, um total de dez criados estava a disposição de Kagome, ela não tinha como ter certeza, mas gostava de imaginar que aquele havia sido o jeito do Lord de demonstrar preocupação e de certa forma, dizer obrigado.

-

A noite se fez lenta e maçante, Kagome foi firme em suas palavras, ela cuidou e ainda cuidava da menina. A febre vinha e ia, Rin despertou em certo momento, pareceu surpresa e confusa ao ver a miko, depois de algumas palavras, parecia apenas feliz, ainda que exausta. O mais difícil, foi fazer a pequena comer, ainda que sob muita queixa e caretas, a mais velha, conseguiu a convencer.

O sono de Rin ia leve, a mel para tosse estava funcionando bem, talvez, em um semana ou duas, a jovem estivesse superado a doença, então, Kagome cobraria seu preço do lord, era egoísta de sua parte pensar aquilo? Bem, ela só estava cansada de tentar o tempo todo, agora que havia um meio de recomeçar, mesmo que fosse meio fugida, ela seguiria firme em frente, e de qualquer forma, havia sido Sesshoumaru a começar com aquilo tudo.

Por um momento seus olhos deslizaram para a cortina mantida aberta, através da janela ampla, ela observou o céu de lua minguante. Estaria InuYasha junto a sua amada? Teria ele conseguido seu desejo? Havia estado tão ocupada com o lord e sua protegida que sequer havia tido tempo para aquelas questões, agora no silêncio noturno, ela não conseguiu se impedir de pensar a respeito.

Kagome ainda amava o ex-companheiro, sentimentos como aquele, talvez não fossem eternos, mas isso não os tornavam mais simples de serem superados ou esquecidos, pelo menos pensava ser assim, estava tudo tão misturado e confusa nela, que a miko já não tinha certeza de nada. Com aqueles pensamentos rolando por sua mente, ela esperou chorar, esperou pela tristeza avassaladora que sempre os seguia, mas nada disso a tomou, depois de tantas lágrimas, provavelmente aquela parte sua também tivesse se quebrado.

Nenhum barulho encheu o quarto, a porta sequer rangeu ao ser aberta, seja lá quem mantinha aquele castelo em ordem, ele fazia um trabalho bem feito. Kagome só soube que alguém mais estava ali, porque em momento algum, Sesshoumaru se preocupou em ocultar seu yoki. No quarto pouco iluminado, ela buscou por ele e logo o encontrou, agora aconchegado a cadeira que Kagome arrastara um par de horas antes e onde ela ficou sentada a tomar conta de Rin por todo aquele tempo, até vinte ou trinta minutos antes, quando seguiu e se acomodou a poltrona mais próxima da janela.

Fitar Sesshoumaru na semi escuridão, parecia mais interessante que observar a lua ou se martirizar pelo amor fugaz. Era evidente para ela que o lord realmente amava Rin, mesmo que ele jamais fosse dizer isso letra por letra, não parecia ser de seu feitio e provavelmente, nunca seria, mas ali, diferente de seu relacionamento com InuYasha, não parecia haver tal necessidade, Rin sabia e ela era realmente feliz sem que aquelas palavras fossem ditas, o lord garantia isso.

Parecendo tê-la notado pela primeira vez, as orbes douradas se ergueram até as dela.

- Rin, como ela está?- Ele diz, a voz baixa e ainda sim, sempre certa, segura, autoritaria e direta.

- Está um pouco melhor agora, talvez em uma ou duas semanas, ela esteja realmente recuperada.

Os olhos dourados se afastaram dela, Kagome também voltou-se para outro detalhe qualquer. Provavelmente era o cansaço, somado a fadiga emocional que a fazia pensar que aquele silêncio que se seguiu dentre eles, diferente de como era com InuYasha, não parecia constrangedor e ela não sentia a necessidade de rompê-lo a qualquer momento.

A miko deixou que a noite calida a tomasse lenta e leve, mesmo que sobre uma poltrona não tão longa, Kagome se acomodou o melhor que pode e fechou os olhos, apenas por um instante, ela pensou. Foi uma noite de sonhos inexistente, seu sono se fez profundo, ela não desportou quando o lord se ergueu, quando ele a observou e deixou cair sobre ela um cobertor qualquer, a verdade era, se ela tivesse despertado por um momento e o visto fazer tal coisa, ela não teria ligado tanto, pois jamais, quando a manhã chegasse, Kagome tomaria aquele como um evento real, e sim, como um sonho mirabolante.

Travessia - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora