Dez

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Sesshoumaru tinha um problema. Um com o qual, seu poder não poderia lidar, o que era bastante vexatório.

Não estava em seus planos, certamente não, mas pela primeira vez em algum tempo, ele se viu realmente a deriva, irritado e principalmente, confuso.

Era para ter sido algo breve, certo e preciso, mas se mostrou sutil, demasiadamente sutil e esse, havia sido o grande culpado. Se desde o inicio houvesse sido alarmante, ele poderia ter tido tempo, ele poderia ter arrancado as raízes antes que elas estivessem muito fundas para que tal ação fosse prudente.

Seus olhos não puderam deixar a miko em meditação, sua aura rosada crepitante fazia sua própria pele formigar. Aquela humana era perigosa, em um outro momento ele poderia ter eliminado tal ameaça sem sequer piscar, agora não estava certa de que conseguiria, não por falta de poder, nada disso, o que realmente o afligia, era uma dilema, para o qual ele ainda tentava nomear.

Seus planos correram como devia até o momento que a achou, ele não havia mentido, não fazia parte de seu personagem fazê-lo, ele confiava nela, por isso a buscou quando sua protegida adoeceu. Dentre os de sua espécie, mesmo dentre os de outras, ela era um dos poucos que recebia tal honra. A miko o tinha feito por merecer, ele viu por si mesmo o quanto aquele mulher estranha dedicou -se aos seus companheiros e especialmente ao mestiço, para continuar integra, seu caráter não estava em pauta. Então, seus planos sofreram um deslize quando ele sentiu seu cheiro, em realidade eles nunca haviam sido próximos, seus encontros foram breves, mas ele não era nenhum tolo para não entender, aquela mulher estava quebrada. As emoções que mancharam seu aroma, era uma mistura que pareceu amargar seu paladar, a tristeza, a dor e desespero, estavam tão pungentes quando um ente físico.

Antes que ele se desse conta, ele tentou arrasta-la para fora do que quer que fosse aquilo, quando ela não reagiu, ele foi impulsivo como dificilmente era. Foi apenas quando ela tentou revidar a sua investida que ele sentiu um lampejo daquele algo e foi o bastante para ele decidir. Quando ele ofereceu um acordo, foi sua forma de oferecer algo a se agarrar, algo que a fizesse emergir de alguma forma. Seu pedido, entretanto, o surpreendeu. Ele sabia de onde ela vinha, não foi dificil supor, o que o surpreendeu não foi essa revelação, mas o desejo inerente de fuga, fuga do mestiço e a vida que ela pareceu almejar. Algo havia acontecido e novamente, ele só podia supor, quebrada como a mulher estava, ele não cutucou, pelo menos, ainda não.

O lord youkai se tornou mais cauteloso, seus encontros foram esporádicos, movidos pela necessidade ou acaso, contudo, novamente seus planos sofreram um deslize, os breves encontros foram mais que o suficiente para crescer o inominável.

Quando a indiferença falhou ele se permitiu, as noites compartilhadas em silêncio na habitação de Rin, foram estranhamente agradáveis e da mesma forma não foram. Ela confiava nele, sua presença que deveria a por em alerta a relaxou e ela adomeceu, isso o agradou e o irritou, ele gostava de ser temido, ele gostava que ela não o temesse, ele estava confuso. Naquela mesma noite ele se deu conta de que não poderia eliminá-la como faria com qualquer outro que lhe pusesse em tal estado. Erguido sobre ela, com as garras prontas e o veneno bilhando mortal, ele a viu tremer quando a brisa gelida da noite a tocou, então, ele a cobriu e partiu.

Ainda consternado por sua incapacidade, ele estudou o seu inimigo, como ele passou a denominá-la para sanar o espaço sem nome. A miko estava quebrada, ela se deixava quebrar, o acordo que ele ofereceu para ela se sustentar já não bastava, foi uma das revelações que sua pesquisa lhe trouxe. Se ele permitisse, seu inimigo se destruiria sozinho e ele estaria livre da incômodo de não saber, contudo, seria desonroso para ele como guerreiro permitir que uma batalha terminasse assim, pelo menos, era nisso que ele escolheu acreditar.

Antes que seu inimigo lhe roubasse sua vitoria futura, ele a confrontou, foi revigorante vê-la tentar revidar, foi agridoce vê-la perder. Com o pulso fino em sua mão, tão frágil, tão fácil de romper, ele rosnou em frustração, ela não podia ser inimiga, pois ela despertou nele extintos de proteção, como Rin fazia, mas ainda sim, diferente.

Novamente, aquela centelha perdeu nome e inominável, persistiu.

Tendo ciência de que a distância era falha, que seu estudo e nomeação errônea já não traria frutos, Sesshomaru optou por algo mais direto, por isso ele a convocou. A visita do porta voz do Norte foi um inconveniente, ele não pode prever a ocorrência que se sucedeu a colisão do tolo youkai e a miko quebrada. Ele sabia de sua capacidade, afinal ele a viu lutar contra o hanyo sombrio, contudo, desde aquela vez, a mulher se mostrou novamente excêntrica. Seu poder havia crescido, selvagem como apenas o yoki se mostrou até então. Ele teria gostado de ver o tolo youkai queimar, ele de fato foi tentado, contudo, novamente ele foi levado a recordar o quão altruísta a miko havia se mostrado antes e agora que certa vida havia retornado a ela, não lhe foi palatável vê-la novamente afundar por um morte derivada da raiva, pois esse era o sentimento que queimavam por detrás das orbes azuladas.

A mulher estranha havia sido forte a sua própria maneira, a força não desaparecia, ela sempre seria sua, ela só precisava lembrar disso, quando suas ordens foram proferidas, ele não aceitaria outra oferta que não o cumprimento do que foi dito, ela não o desapontou. Sozinhos, ele ainda sentia o crepitar de seu poder, seu yoki respondeu ao dela, se conhecendo, brincando. Aquela era mais uma ocorrência incomum em sua longa vida, de fato, aquela miko era uma infinidade de perguntas e poucas respostas, por acaso, ele era curioso. Novamente, antes que ele pudesse pesar os prós e contras, ele firmou com ela um segundo acordo.

A miko se tornou mais ousada, talvez fosse a raiva ou outra coisa, mas ele viu seu temperamento brilhar e o desagradável cheiro que manchava o dela própria diminuiu um pouco mais. Então, ele ousou. Sesshomaru expôs e hanyo, ele a observou atento, seu reiki selvagem se desenroscou, o cheiro desagradável a manchou e ele notou seu erro, ele foi precipitado e ela fugiu.

O inominável fez sua fera agitada, fez sentimentos estranhos a ele acordarem e foi apenas o seu orgulho que o manteve parado. Não era ele perseguir fêmeas humanas. Ainda sim, seu próprio poder ágil aparte, moldado pelo inominável, seu yoki novamente enroscou-se ao reiki dela, quase que como um consolo silencioso.

Agora, apenas momentos antes, ele a viu rir, verdadeiramente, seu cheiro imaculado da mancha que vinha a perseguindo até então. Ele bebeu do seu cheiro, do seu contentamento e ele, gostou.

O inominável cresceu.

O lord youkai piscou, mais confuso, mais frustrado, mais exposto. De fato, vexatório. Ele odiava ser deixado no escuro, ele odiava não ter o que buscava. Um nome, ele precisava de um nome. Sesshomaru não era dado a derrota, ele não se rendia, ele não desistia, ele não fugia e certamente, não seria aquela pequena mulher a fazê-lo se ajoelhar.

Seus olhos se fecharam em fendas, afiados, irritados. A miko se agitou consciente de sua ondulação de humor, os lábios rosados se comprimiram, os olhos se agitaram sob as pálpebras e logo, ela despertou de seu transe.

- Sesshoumaru?- Sua voz um pouco rouca pareceu uma carícia, despertando seus instintos, suavizando sua irritação.

Seus olhos se abriram, o inominável rugiu e pela primeira vez, o grande Senhor do Oeste sentiu medo.

Ele ergueu-se, ele fugiu.

Travessia - ConcluídaOnde histórias criam vida. Descubra agora