[04]- A esperança é a última que morre.

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Encarei a janela, amedrontado feito uma criança que aprontou algo e teme ser descoberta pelos pais. Fechei a cortina amarela, sentindo o enjôo revirar meu estômago. Mordisquei o lábio. Jeon planeja mesmo que saíamos a pé com o perigo iminente do lado de fora? Não é que eu não confie nele, confio, claro, mas e se...

- Está com medo? - sua voz quebrou o silêncio, dei um pulo graças ao susto levando minha mão ao coração enquanto me virei de costas para a janela, encarando o soldado encostado no batente da cozinha.

- Não estou.

- Acho bom. Detesto cagões. - ele apontou para a janela em cima da pia com seu queixo marcado. - Como está o movimento no vizinho?

- Nenhum. Eles devem estar trancados, ou fugiram. Não sei.

- Frouxos.

- Você diz como se não estivesse tentando se manter seguro também. Olhe onde está, soldado. Em uma fortaleza. Me diz, quem é o frouxo?

Coloquei as mãos na cintura, sentindo a fumaça sair pelos meus ouvidos, se eu fosse um desenho animado, poderiam me ver com a face avermelhada em pura raiva.

O soldado riu, abaixando um pouco a cabeça fazendo com que seus cabelos logos recaiam sobre seus olhos. Tampando completamente a cicatriz.

- Fugir? Não estou fugindo. - ele caminha calmamente, se aproximando de onde estou. - Estou sendo a esperança.

- Você não serve para isso. - falei.

- Eu sei.

O silêncio que se instalou era ensurdecedor. Havia algo oculto em suas palavras, algo de peso descomunal que eu não fazia idéia.

Ele é a esperança.

O que ele quer dizer com isso? Talvez ele saiba mais do que demonstra. Talvez, ele saiba de tudo.

- Vamos atrás do meu irmão. - falei, atraindo sua atenção para mim. - Agora.

Jeon riu, erguendo suas mãos para o alto.

- Desde quando você dá as ordens?

- Desde que essa é a minha casa. - retruquei.

- Quem decide quando, onde e como, serei eu. - falou duro, seu olhar soltava faíscas, talvez tentando me intimidar. - Estamos de acordo?

Neguei com a cabeça, irritado, desencostei a bunda da pia me aproximando minimamente do soldado, uma distância que me mantenha seguro.

- Não estamos! Ou decidimos unânime. Ou não decidimos.

- Garoto, olhe bem para mim, mas olhe bem mesmo, e me diga quem é o mais apto para tomar decisões.

Jeon abriu os braços, apontando para si mesmo e eu o olhei, de cima a baixo lentamente de suas botas se couro pretas a calça jeans justa, passei os olhos por cada músculo definido de dias em treinos no exército, a seu peitoral marcado na blusa branca, seus braços morenos pelos dias treinando no sol quente, com os músculos delineados e pequenas cicatrizes brancas, as mãos que exibiam calos nada macias ou delicadas, seus ombros largos, o pescoço grosso, desviei o olhar quando subi para seu rosto.

O soldado tem razão, sua forma física, cada cicatriz que ele exibe sem ter vergonha eram a prova que ele é apto para isso, só de ele estar parado na minha frente ainda vivo prova isso.

Ele é experiente, é mais velho, é mais sábio.

- Tem razão. Os velhos sempre sabem o que é certo. - falei.

- Está dizendo que sou velho? - falou horrorizado. - Eu quis dizer que por eu estar vivo após uma guerra, eu sou apto para liderar. E não que eu sou velho. Eu pareço velho?

Welcome to Hell • jjk + pjmOnde histórias criam vida. Descubra agora