A força da culpa

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Nosso plano de subjugar, de fazer com que todos na Terra sejam nossos súditos foi preconizada e sua característica principal é oposta aquilo que fazia-se como base no princípio das eras. Nesta época tinha-se a noção de que a Lei que regia o Universo protegeria toda criatura de se tornar um mal para si mesma. O único que pode destruir o interior de uma criatura é a própria criatura. Isto é tão poderoso que nossa primeira tarefa será criar mecanismos de sedução tão fortes que façam com que os habitantes do planeta esqueçam deste detalhe fundamental, a força de seu livre arbítrio, o poder de dizer não ao que lhe diminui e fere.

O oposto ao qual nos valemos deita ao lixo toda ideia de culpa. A lei principal é a medida do prazer, da liberdade das prisões éticas e preconceitos que nos foram imputados por falso moralismo comandados por pessoas infelizes e cheias de loucura disfarçadas de santidade.

Assim foi oferecido a todos, indistintamente, a libertação de todos os preceitos morais que escravizam os seres deste planeta com um senso incomum de deveres, dogmas, amarras que o impedem de atingir os limites de suas paixões e vontades e assim encontrarem a felicidade. Seremos os libertadores do povo da Terra. No momento adequado apareceremos e nos verão como somos. Quando estiverem sem esperanças lhes daremos nossa alegre e perfeita presença.

E sedimentou-se a invasão. Nas sombras.

O comandante e seus iguais, que eram em grande número, foram criando seus domínios, escondido dos homens. Ao mesmo tempo a Joia Azul foi sendo povoada. Os humanos foram enchendo a Terra. Criando cidades, nações, povos, culturas. Toda miscelânea de peculiaridades e igualdades que formam a raça humana que povoa o planeta.

Os homens e mulheres habitantes deste mundo sempre achando que suas decisões, seus ideais, suas descobertas e inteligência eram as únicas responsáveis por todas as coisas que definiam os rumos vivenciados pelos povos da Terra. Poucos, muito poucos, percebiam que havia outras forças interagindo, forças superiores, inexplicáveis.

Em muitos momentos históricos da Terra estas criaturas invasoras eram responsáveis por acontecimentos vitais nesta parte do Universo.

A invasão foi definitiva, aparentemente irrevogável. Os invasores criaram mecanismos cada vez mais sofisticados para espionar, subverter, viciar, hipnotizar, ocupar, distrair, amedrontar, e o mais importante de tudo: Mergulhar por meio destes estratagemas os moradores da Terra num ciclo sem fim de divertimentos e ocupações que os distraíssem da usurpação do planeta por eles.

Cada vez mais individualistas, centrado em seus interesses particulares ou voltados para a defesa de seus grupos, associações, peculiaridades, vontades, os habitantes da Terra foram esquecendo-se de que as partes constituem o todo indivisível, que sua força de sobrevivência depende em grande parte de seus valores intrínsecos. Deixar sua sensibilidade, fraternidade, humanidade e matar de fome a empatia pelo outro é dar aos invasores cada milímetro de nossa mente, nosso corpo, nossa humanidade e finalmente todo nosso planeta.

Os humanos não parecem perceber que cada vez que se concentram em defender seus interesses no microcosmo – indivíduos, ou no macrocosmo – nações, apenas dilaceram e destroem o equilibro do espirito humano assim, dando mais espaço ao inimigo da Terra.

Temos na própria história humana exemplos claros de invasores que destruíram povos e culturas apenas esfacelando o sentido de pertencimento e a unidade que havia dentre estes povos. A sedução por meio de espelhos que mostravam o indivíduo e seduziam o coração, como narciso na mitologia grega que se encantou com a própria imagem a ponto de mergulhar dentro dela encontrando a morte. No mergulho individualista por meio de um objeto externo a si o homem primitivo ameríndio foi obrigado a trocar seu sentido de povo, sua nação inteira milenar por uma destruição invasora sem precedentes. Quinquilharias em troca de minha identidade. Como diz a música "nos deram espelho e vimos um mundo doente".

Quantas vezes é dito no planeta a frase – Agora vou cuidar de mim! Chega de me preocupar com os outros! Sou mais importante! Vou ligar o Foda-se! Estas palavras quase sempre são ditas por pessoas que tem junto de si outras que dependem física e emocionalmente delas. Esta fala localiza no outro  a fonte de todo  sofrimento, algo totalmente ilusório pois, aonde for ainda serei a mesma pessoa, com as mesmas dores dentro.

Esta falsa noção individualista já foi utilizada anteriormente quando, em uma certa história, perguntou-se a um irmão onde estava o outro e rispidamente ele respondeu ao indagador: Que tenho eu com ele? Ou seja Caim ligou o foda-se! Hoje, paradoxalmente, esta noção do individual em detrimento ao coletivo, ao sentido de grupo, raramente são ditas no mundo corporativo pois um dos fatores mais valorizados na modernidade é um indivíduo que sabe trabalhar em equipe, dentro de uma hierarquia profissional. Estas palavras são ditas dentro de famílias. São pronunciadas muitas vezes por pais e mães. As vezes entre adultos, outras para crianças, e inúmeras vezes para adolescentes em meio a crises conjugais. 

Não é à toa que muitos adolescentes desistem da vida. Aliás este é o alvo preferido dos invasores devido as peculiaridades psicológicas desta fase humana. Eles voltam muito de sua atenção especialmente a esta faixa etária. Por isto na Terra se associa esta idade, em especial, a distúrbios psicológicos e mentais severos. 

Destruindo-os ou causando mal a suas mentes, afetam grande número de habitantes do planeta, comprometem a sanidade dos futuros adultos responsáveis pela administração do mesmo, tornando mais fácil dominar suas mentes e suas vontades.

Com seu poderoso domínio cientifico e tecnológico os invasores criam verdadeiros arsenais de aparatos que seduzem e escravizam os humanos.

Mesmo que fique claro para toda sociedade humana que uma faceta de uma diversão, que deveria ser um hobby, ou mesmo de algo que promete cura e alivio para uma dor humana, e que acaba trazendo consigo mais malefícios que contentamento, não se consegue simplesmente suprimi-lo, eliminá-lo ou torná-lo mais inocente. Os próprios humanos e seus poderes constituídos nada fazem, ou muito pouco comparado ao arsenal exposto e oferecido livremente principalmente a juventude da Terra.

O agente principal usado pelos invasores do planeta é o próprio morador nato da Terra.

Os moradores do planeta, cada vez em mais raras exceções, buscam destaque, fama, poder, não importa os meios que usem para atingir estas metas. Hoje mais do que em qualquer outro tempo a fama parece a um toque de distância. O avanço da tecnologia trouxe consigo a facilidade da exposição instantânea. Todos possuem uma câmera. A possibilidade de alçar ao olimpo, dedicado antigamente as estrelas no topo, e quase democrático.

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