Alguém Desapareceu

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Sumiços acontecem. Dores se transformam em fantasmas. O sangue para de correr. E as pessoas apagam-se. Há muito mais que ela queria dizer, muito mais. Mas ela desapareceu, vagando pelas ruas de Seattle, em uma espiral repetitiva de lembranças. Havia deixado o Grey-Sloan a pouco, dirigindo em silêncio. Alex tentou acompanhá-la, mas o despistou. Precisava ficar sozinha, longe o bastante daquele hospital que outrora era seu lugar preferido no mundo. O lugar onde havia crescido e passado a maior parte da vida, agora servia de lembrete dos seus piores momentos. Afinal, todo mundo estava morrendo à sua volta e tudo o que ela não precisava era continuar ali, como se aguardasse a próxima vítima.

As lágrimas haviam cessado desde que ouvira aquelas palavras que qualquer cirurgião odiava pronunciar. Todos a encaravam, como se assistissem de camarote o espetáculo trágico da sua existência e estivessem chocados demais para esboçar uma reação mais emocionante ou até uma salva de palmas.

Hora da morte, 5:47. – Bailey havia declarado, direcionando o olhar para fora do quarto, encarando-a com pena.

Ellis Grey morreu.

A grande incógnita da sua vida, sua mãe e maior inquisidora. Desde pequena, recordava-se de como inatingível e incontestavelmente brilhante Ellis parecia aos seus olhos. E ela era. Percussora de um dos métodos cirúrgicos mais utilizados da atualidade, que fora criado muito à frente do seu tempo, levava sua filha todos os dias para o hospital, pois queria familiarizá-la com o ambiente que seria o palco do seu futuro extraordinário. Não havia tempo para dúvidas e muito menos questionamentos da sua parte e fora por isso que como mãe, ela falhara.

Drasticamente.

Meredith sentia-se competindo com o sucesso dela e a enxurrada de expectativas que eram depositadas em si desde que se entendia por gente. E o pior, a sensação de estar fracassando não a largava, por mais que se esforçasse para isso.

"Eu a criei para se tornar um ser humano extraordinário...".

Dirigia desconcentrada e em alta velocidade, ultrapassando um sinal vermelho antes de chegar no quarteirão da sua casa e ver o carro de Derek estacionado a frente. Por sorte as avenidas ainda estavam desertas devido o horário. Respirou fundo, encostando a cabeça no volante, sem tirar as mãos. As dobras dos dedos roxeadas, tamanha força que aplicava. Sua cabeça latejava e os últimos acontecimentos embaralhavam-se, perdendo a ordem cronológica dos fatos. Desceu do carro, um pouco tonta e com a expressão vazia, os olhos avermelhados e um pouco inchados em decorrência do choro. Andava à passos lentos e vacilantes. Sentia que o espaço ao seu redor se encontrava em preto e branco e câmera lenta, não conseguia distinguir mais se tudo o que vivera até então era sua realidade.

O jardim estava silencioso, com exceção dos barulhos advindos da casa vizinha, que deixavam escapar a presença de uma criança correndo com o pai ao seu encalço, pronta para levá-la à escola. Eles acenaram. Contudo, virou o rosto e seguiu, até subir os degraus, um a um. Suas pernas pesavam e ela se sentia psicologicamente e fisicamente esgotada. Retirou as chaves da bolsa e entrou. Jogou a bolsa aos pés da escada e ignorou Derek, que estava sentado no sofá da sala, lendo alguma coisa em seu computador.

– Ah, você voltou. – ele disse, fitando-a de onde estava. – Meredith, fale comigo, por favor. – pediu, levantando-se e indo até ela, ao notar que ela continuava a subir para o primeiro andar.

Alcançou-a, segurando em seu braço e fazendo-a encará-lo.

– Solte-me, agora. – Meredith exigiu, atingida de súbito por fúria.

– Nós precisamos conversar. – assentiu, soltando-a.

– Não estou interessada. – falou, deixando-o.

Fallin' All In YouOnde histórias criam vida. Descubra agora