Egoísta

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A cirurgia sucedeu-se pelas próximas oito horas, com algumas complicações causadas pelo diagnóstico tardio e Meredith ficara aflita aguardando na sala de espera. Após analisar as opções apresentadas pela doutora Bailey, que incluíam a remoção do tumor, quimioterapia e radioterapia ou simplesmente explicar a Ellis que ela teria somente 5 meses de vida caso não fizesse o procedimento, ela optou por dar a mãe uma nova chance, mesmo que esta fosse disfrutada sob a perspectiva do Alzheimer.

O órgão fora muito afetado e comprometido, portanto, a remoção do tumor não foi total, o que causou uma onda extra de preocupação em Meredith. A doutora Wilson passara toda a noite observando-a na UTI, aguardando que ela correspondesse bem ao pós-operatório, para que iniciassem o quanto antes os procedimentos não-cirúrgicos.

Havia uma poltrona estreita no quarto de Ellis. Por volta das 4h da manhã, ela despertara, mas logo a quantidade de morfina aplicada via venosa a fez adormecer novamente e seu quadro estável e promissor a possibilitou que fosse transferida. Mer ali ficou, sentia frio e embora o cansaço em seu corpo prevalecesse, gostaria de estar presente quando a mãe acordasse, estava decidida a confrontá-la pela humilhação que a fez passar, mas também de agradecer por tê-la feito enxergar o que jazia bem a sua frente, mas que se recusava a ver.

Torcia para que ela estivesse lúcida e a reconhecesse, como nunca desejou antes.

Derek ligou várias vezes na noite passada, mas ela não o atendeu. Precisava focar em si mesma, na sua gravidez. Ele não merecia seus esforços e desgastes. Afinal, escolheu permanecer em Boston, ao invés de apoiá-la naquele momento.

Apesar de ter recebido algumas visitas ao longo da noite e ter enxotado todas, pois odiava todo esse excesso de preocupação ao seu respeito, como se não pudesse dar conta dos empecilhos que a vida lhe dava, teve que lidar com a insistência de Alex sempre ao seu encalço, atento e irremediavelmente sentimental. Em outras ocasiões, tiraria sarro dele, mas não havia ânimo para mais nada. No final das contas, ela tinha muito a dizer, mas estava desaparecendo dentro daquele quarto de hospital e simplesmente acabou dormindo, encolhida na acanhada poltrona.

Às 5h da manhã, antes mesmo de abrir os olhos, ouviu alguns cochichos oriundos do quarto. Os bipes dos aparelhos ressoavam em sua mente, em coro. O ambiente estava gélido demais e podia sentir os pelos de todo o seu corpo arrepiarem, instantaneamente. Era muito estranho estar naquela posição de acompanhante, de familiar que nada sabe ao certo, sobretudo quando há conhecidos médicos à sua volta que tentam lhe resguardar de sabe Deus o quê. Daria tudo por uma cirurgia agora mesmo, sentir-se viva e útil, no entanto, saberia que Bailey jamais a aceitaria de volta, não agora.

Praguejou o universo por conspirar sempre contra si, nos mínimos detalhes.

Reconheceu uma das vozes. Era Bailey. "Provavelmente estaria conferindo se estava tudo seguindo bem.", pensou e decidiu permanecer de olhos fechados para não ser vítima de perguntas inconvenientes que teimavam invadir seu espaço, até ouvir uma voz específica.

Addison.

"O que ela faria aqui?".

A porta se abriu e ouviu passos, quando acabou sentindo um peso cair sobre seu corpo. Algo macio e quentinho. Um casaco. Sem pensar duas vezes, arregalou os olhos, curiosa.

– Você sempre anda me assustando. – Mer comentou, de cara fechada. – O que é isso? – apontou para o casaco de lã branco.

– Um casaco. – Addison respondeu, divertida.

Seu ca-sa-co. – sibilou, lentamente.

– Esse quarto está congelando e imaginei que estivesse com frio. – disse, como se fosse óbvio. – Sou a nova chefe interina do Grey-Sloan e gosto de garantir que todos se sintam confortáveis, apesar de estarem em um hospital.

Fallin' All In YouOnde histórias criam vida. Descubra agora