Capítulo 4

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Yun Hana

Eu acordo de repente. Nada de pesadelos ou algo assim, eu simplesmente acordei. São seis da manhã, ou seja, falta uma hora para eu começar a me arrumar para a escola. Eu decido simplesmente ignorar o fato estranho de ter acordado antes do horário normal e tentar me distrair com algo. É o mais sensato a se fazer agora.

Eu ligo a televisão e coloco no youtube, pensando no que colocar. Decido colocar uma música e por fim acabo colocando Ayy Macarena.

Eu coloco na playlist e me levanto. Vou pra cozinha e começo a adiantar as coisas do café. Assim que termino eu me sirvo e começo a comer.

Termino de comer e lavar a louça, vou pro meu quarto e me arrumo.

Assim que saio de casa percebo que, depois de quase quatro anos, eu finalmente saí no horário certo de casa. Sete e quinze em ponto. Meus tios ficariam orgulhosos.

...

Eu chego na calçada da escola e faço o mesmo ritual de sempre. Guardo o meu canivete dentro da manga, coloco meus fones de ouvido (que eu só uso pra ninguém me incomodar) e passo pelos portões da escola. Eu abro o meu armário e coloco as minhas coisas, ficando apenas com o que preciso para a aula de biologia.

Vou pra sala, me sento no meu lugar e espero o professor chegar enquanto converso com um dos meus tios.

Por um momento sinto um aperto no peito, Sooyun não sabe que eu posso desaparecer ou morrer a qualquer momento. Me pergunto se ela vai ficar bem sem mim.

Eu apenas afasto esses pensamentos e volto a prestar atenção na aula. Eu gosto de biologia, mas prefiro a próxima aula: história. É incrível. Você descobre coisas do passado e aí você finalmente vê sentido no presente e quase consegue ver o futuro. Eu já pensei em fazer faculdade de história, mas eu provavelmente vou precisar trabalhar como professora, o que não é a minha praia. A professora de história é a minha favorita, em alguns momentos nós esquecemos que estamos em sala de aula e começamos a conversar sobre o assunto da aula.

Assim que o sinal toca eu me levanto e ando rapidamente até o meu armário pegando meu material de história. Vou pra aula e tudo segue normalmente, tirando o fato de que a diretora da escola veio avisar que daqui algumas semanas vai acontecer o baile de inverno.

Basicamente o baile de inverno é uma festa que a escola promove e só serve pros adolescentes se pegarem e se drogarem. Todos sabem disso, mas a diretora insiste em dizer que é para "aproximação e descontração dos estudantes", que na verdade é a mesma coisa.

Eu nunca fui no baile e na verdade pretendia continuar com minha tradição, mas a Sooyun não quer que eu deixe de ir, ela disse que como é o meu último ano deveria ser algo memorável. Eu neguei enquanto eu pude, mas a Sooyun quase sempre consegue o que quer, ela até se disponibilizou para ir comigo. Eu sei que ela só tá fazendo isso pra pegar algum garoto, então eu aceitei já que sou uma melhor amiga incrível. Espero que ela aproveite.

— Hana? – A voz da professora de história me faz sair do transe no qual eu sequer sabia que estava – A aula já acabou, eu me apressaria se fosse você – Ela ri do meu espanto.

...

Bom, depois de almoçar eu vou para o meu cantinho de sempre. Eu sempre comi muito rápido, então eu achei um local na escola que eu pudesse ficar sozinha quando precisasse. Esse lugar por acaso é o terraço, tem uma vista incrível e é quase totalmente silencioso. Pensando bem, talvez eu queira ficar o resto das aulas ali.

Eu vou até o meu armário e pego todas as minhas coisas, depois subo sete lances de escada até chegar ao terraço. Talvez esse seja o lugar mais especial dessa escola pra mim, eu estou aqui a cinco anos e esse sempre foi o lugar que eu mais gostei. Era aqui que eu vinha pra chorar, pra gritar, pra expressar qualquer sentimento que eu estivesse sentindo. Esse lugar tem incontáveis lembranças, então mesmo que eu não queira frequentar a escola por muito mais tempo eu vou sempre ter uma lembrança especial desse lugar.

Eu sento na beirada do prédio e coloco meus fones e coloco qualquer música. Essa com certeza é a melhor parte do meu dia.

Eu fico no terraço por uns 3 horários até que, como de costume, Chin (a faxineira responsável pela parte do terraço) aparece para limpar a área. Eu já a conheço, ela é tem que vir aqui todos os dias, mas dessa vez o inspetor veio com ela. Eu acho que os dois estão se apaixonando, isso pode prejudicar a minha boa experiência na escola. Recolho minhas coisas rápido, coloco na mochila e espero eles virem até mim.

Quando eles chegam a reação dela é de surpresa e culpa, ela sempre guarda segredo quando me vê aqui, mas hoje ela não sabia.

— Senhorita Yun? O que faz aqui? – Ele pergunta e eu vejo Chin pedir desculpas com os lábios atrás do mesmo

— E-eu passei mal, vim pra cá pra ficar mais tranquila – Eu digo com a voz e a expressão facial mais convincente possível.

—Deveria ter ido a enfermaria. Pode ser algo que comeu.

—Não, eu não quis dizer fisicamente, quis dizer emocionalmente.

— Ah sim, eu entendo. As decepções da adolescência – Ele sorri fraco – Mas ainda assim vou precisar te dar uma detenção.

—Tudo bem, eu entendo.

—Duas horas após a aula.

— Entendi, me desculpe –Digo e abaixo a cabeça

— Não tem problema. Vá pra sua sala.

Eu concordo e pego minha mochila indo para minha sala. Assim que começo a descer as escadas pego meu celular e aviso pra Sooyun o que aconteceu, pra ela não se preocupar se eu voltar tarde.

Eu vou pra sala e as aulas passam voando, espero que a detenção também seja assim.

6:28 PM

É, a detenção não está sendo assim.

Faz 28 minutos que eu estou aqui e eu acho que essa é a pior situação que eu já passei. Basicamente eu estou em uma sala com dois garotos e um professor insuportável que não para de copiar um minuto.

Eu nunca vi ele por aqui. Acho que ele é contratado para dar detenção pros alunos porque eu nunca vi ele dando aula.

Quando ele finalmente acaba de passar um texto sobre algo que eu não tenho a mínima ideia do que seja, já são sete e dez. O texto ocupou quatro folhas do meu caderno, ele realmente estava dedicado a nós castigar da pior forma possível.

Eu peço pra ir no banheiro. Assim que ele permite eu pego meu celular e vou em passos rápidos pro banheiro.

Fico no banheiro por vinte minutos conversando com meus tios e depois vou pra sala. O professor até me perguntou o porquê da demora, mas eu só respondi 'cólica' e ele entendeu. A questão é que se um homem não for ginecologista, você pode dizer o mês inteiro que tá com cólica ou TPM e ele vai acreditar. Uma aberração.

Bom, ele passou uma atividade baseada no texto e eu fingi estar fazendo até agora. Faltam cinco minutos para a detenção acabar e eu não vejo a hora de sumir daqui, eu acho que nem quero vir pra aula amanhã. Assim que ele nos dispensa eu saio, já que estava pronta pra ir a algum tempo e estava sentada o mais perto da porta o possível. Eu vou ter uma séria conversa com a Chin amanhã de manhã.

Eu ando pra casa passando pelo mesmo caminho, o beco onde fica uma das minhas cafeterias favoritas, mas estranhamente ouço passos além dos meus. Eu olho para trás, a silhueta é de um homem, automaticamente eu toco no meu canivete na manga do blazer. Porém há algo estranho, não são passos de uma pessoa só.

Meu coração involuntariamente começa a acelerar e eu ando em passos mais rápidos ouvindo os outros passos acelerarem também, eu continuo ouvindo passos de uma segunda pessoa então paro e olho pra cima.

Antes que eu possa me assustar eu sinto um tecido fino em meu rosto e perco completamente a consciência.

WRONGOnde histórias criam vida. Descubra agora