TERCEIRO

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Quando o vi pela primeira vez, não acreditei tanto em sua existência quanto senti que precisaria mais tarde.

Era uma manhã quente e eu não queria estar fora da cama de jeito nenhum, mas o mundo ainda exigia muito de mim para que eu só fechasse as persianas e dormisse como se não houvesse amanhã. Porque havia. Infelizmente, ou felizmente, como preferir, o amanhã alcança a todos sem hesitar um passo na sua direção. As coisas são assim. Ordens não movimentam seus eixos a não ser que uma ruptura seja o bastante para destroçar os escombros da fé de um homem. E isso depende muito. Depende tanto que dói e noites vazias serão preenchidas de todos os princípios e fins que cruzam o seu caminho e te dizem "nada disso é seu porque eu não quero que seja". E não há nada que você possa fazer, porque rupturas são necessárias, e permanências machucam demais.

Algumas batalhas ainda valem à pena, mesmo com preços altos a serem pagos.

Quanto você está disposto a pagar?

A minha carne é composta de vários pedacinhos de existência. Por muito tempo, foi difícil aceitar que eu não sou algo natural. Nenhum comportamento é. A sua vidinha medíocre se baseia em observar, criar hipóteses e comprovar os padrões que você vai seguir pelo resto da vida e se achar um gênio por isso. Isso só prova o tipo de pessoa materialista que você é. E eu, Kang Seulgi, não pagaria pra ver você quebrar a cara. Porque nós somos exatamente iguais, e eu ainda tenho a audácia de tentar te ensinar algo que nem eu mesma fui capaz de desvendar.

Estamos amarrados ao mesmo barco, remando contra a maré, salgando e preenchendo rios secos sem nos dar conta de que todo mundo faz a mesma merda. É meio divertido ver a feição das pessoas quando eu as digo que a existência delas não vale nada. Mais insignificante que papel higiênico. Muito menos que um por cento e tudo.

Naquela manhã, entretanto, eu ainda não sabia disso.

Quando ele cruzou o meu caminho, o calor do sol fervendo o meu rosto vermelho e esborrachado, e eu alcancei os seus olhos, desejei me lembrar daquela data pra sempre. Quis muito mesmo. Era um rapaz bonito que eu definitivamente não gostaria de esquecer. Mas a vida gosta de ser uma filha da puta, não acha? Não concorda comigo?

Não sou muito meticulosa com detalhes, preciso ser sincera. Não sei o que me deu. Talvez eu só estivesse incoscientemente buscando mais uma razão idiota pra tentar viver por um pouco mais de tempo naquela manhã. Eu sou uma bobona. Mas não cega. Reparei em seus detalhes mais infímos, os braços machucados, a roupa desbotada e sapatos ridículos de tão feios. Ele não parecia possuir nenhum senso de moda trajando sapatos verde-limão e calças laranjas. Senti vergonha alheia por um minuto inteiro e quis gargalhar da cara dele quando virou o rosto na minha direção. Ele possuía um olhar intenso, entretanto, e não senti muita graça pelas feições que exibia. Elas eram sérias e eu, aos poucos, eu me tornei também.

Seus olhos púrpura nevoados e prateados transmitiam um olhar intenso e subjetivamente calmo. As nossas orbes tinham a mesma tonalidade, mas a discrepância de postura que exibíamos era exorbitante. Ele tinha olhos esvidraçados de lua, banhados de um prateado que não se parecia nada com estrelas. Senti-me curiosa sobre como ele enxergava o mundo, e desejei poder chegar mais perto. Não queria pensar que era pra ser com um cara estranho da rua e que não tinha um mínimo gosto bom pra roupas. Era um pensamento ridículo. Eu era, e essa merda toda também.

E quem liga, sabe?

Ele franziu as sobrancelhas e movimentou o corpo com uma letargia incomum, caminhando na minha direção, os seus passos pesados fazendo barulho contra a calçada da rua. À medida que se aproximava, os raios solares atravessavam os seus fios de cabelo embolados e cruzavam com os seus olhos. Não o vi piscar nenhuma vez, e às vezes parecia que eu estava no meio da porra de um incêndio, a intensidade do calor solar me deixando cada vez mais nervosa. Precisei respirar fundo várias vezes pra não virar aquele banco de praça de tanto nervosismo. Mas estava tudo bem. Eu estava bem. Não havia nada de errado. Nada, nada, nada.

Ou talvez tudo isso não passasse de uma grande piada.

— Lee Taeyong. Um pistoleiro ostracista chorando sobre o seu próprio distintivo.

Ele estendeu a mão na minha direção e me encarou como se buscasse por uma reação que não viria. Para ser sincera, eu estava amedrontada. Não tinha certeza se ele era maluco ou se ia tentar me sequestrar em um par de segundos.

Mulheres bonitas não temem, Seulgi.

A minha mãe sussurrou no pé do meu ouvido. Eu estava fodidamente nervosa, mas levantei o queixo e arrebitei o nariz como mamãe me ensinou a fazer. Espero que ela esteja orgulhosa, porque estou prestes a comprovar que eu estava maluca de vez.

Algumas loucuras merecem ser cometidas.

— Kang Seulgi. Uma mulher bonita sem nem metade dos parafusos que realmente precisa.

E talvez Lee Taeyong fosse todas elas.

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om dia a demoraaaa
esse eh o penultimo capitulo porque eu nao me AGUENTEI e tenho qhe fazwr um final melhor pra isso ta ok
BEIJOS💔💕💕💕💘💜💘💕💘💕

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