você é minha ansiedade...

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Eu tinha já dezesseis anos quando Na Jaemin resolveu que as coisas entre nós estavam erradas.

Era uma tarde de sábado, na primavera. O clima não estava absurdamente quente como em dias de verão, mas tinha um calor agradável no ar. Eu estava deitado na minha cama enquanto no rádio tocava o CD do Nirvana que Jeno, como bom fã que era, obrigou-me a ouvir.

Minha mãe entrou no meu quarto, abrindo a porta sem bater, me olhando esparramado no colchão, sentindo no meu corpo o vento que vinha pela única janela no cômodo.

—Jaemin está lá em baixo, pediu para eu te chamar. — Ela disse dando-me um sorriso. — Eu já estava preocupada de nunca mais ter visto aquele moleque. Vocês estavam brigados?

Eu acabei ficando em choque com a revelação e levantei lentamente da cama, com uma clara expressão confusa.

—Não, nós não estávamos brigados. Jaemin é apenas maluco.

Quando desci os degraus da escada e dei de cara com o Na escorado no batente da porta de entrada eu senti meu estômago todo se revirar em uma sensação nervosa demais, não eram borboletas clichês em minha barriga, era ansiedade mesmo. Uma ânsia que fazia meus órgãos tremerem e se contorcerem por toda parte interna do meu corpo.

—Bom dia... — Sorriu-me um pouco envergonhado.

—Boa tarde. — Logo tratei de o corrigir como de costume.

Jaemin sinalizou com a cabeça para eu o seguir e acabei fazendo isso sem hesito, pois, meu corpo ainda lhe obedecia de um modo estranho. Era como se de fato eu estivesse encantando por cada característica dele e não conseguisse quebrar essa conexão.

Sentamos na calçada em frente à minha casa, o sol batendo forte em nossas faces esquentando o sangue que corria veloz por minhas veias. Eu respirei fundo esperando que ele fosse dizer algo, todavia, por cerca de cinco minutos nós apenas ficamos em silêncio, observando uns poucos carros passarem por aquela rua pacata de um bairro mais pacato ainda.

Quando algo foi finalmente dito, passou pelos lábios do Na em um sussurro:

—Fui um babaca e senti sua falta.

Quis chorar. Eu realmente quis me derramar em um mar de lágrimas e nem sei exatamente o porquê. Talvez depois de tanto tempo em uma relação distante entre mim e meu melhor amigo tudo que eu acumulei de dor e frustração queria escapar salgado pelos meus olhos.

—Sim, você foi um babaca e até agora não entendi o que aconteceu. — murmurei com a voz meio chorosa. — Mas eu também senti sua falta.

—Nem eu sei o que aconteceu... Eu só fiquei com medo.

—Do quê? De eu ser gay?

Jaemin pareceu travar com a pergunta e vi seu rosto tomar uma cor mais avermelhada. Eu olhei sério para ele enquanto uma lágrima teimosa descia fria contra a derme da minha face sem eu ter permitido.

—De que eu me sentisse atraído por você. De que ficar perto de você me fizesse ser como você.

E aquilo foi um soco no estômago que me deixou sem resposta. Só consegui confirmar com a cabeça e encarar ao céu azul, procurando organizar meus pensamentos que confusos gritavam dentro da minha mente. Era como se o lado esquerdo do meu cérebro, aquele que buscava ser tão racional, simplesmente parasse e se tornasse só sentimentos que se embolavam em pensamentos e não conseguiam ser pronunciados em voz alta.

—Seus medos são imbecis. — acabei deixando escapar.

—Todos os medos são. E eu sei exatamente o quão estúpido eu posso ter soado agora.

Então o silêncio voltou novamente por instantes em que cada estava imerso dentro de si próprio.

—Podemos voltar a ser como antes? — Jaemin acabou pedindo-me.

Eu o encarei, meus olhos um pouco vermelhos brilhando por conta das lágrimas. Jaemin tinha sobre mim seus orbes que transbordavam doçura, mas não tinha seu sorriso travesso que costumava ser desenhado por todo seu rosto.

—Isso é você quem me diz, Nana. Podemos?

E quando ele finalmente me sorriu e jogou seu braço ao redor dos meus ombros eu soube que era um sim. Eu estava feliz naquele instante, mesmo que com o coração remendado de tantas vezes que fora quebrado pela pessoa que agora me abraçava.

E eu sentia todo meu estômago tornar a se revirar. Talvez de ansiedade, ou talvez de paixão. Quem sabe era os dois, ou apenas o efeito Na Jaemin agindo em mim.

sobre todas as vezes que jaemin partiu meu coração »» renminOnde histórias criam vida. Descubra agora