sobre todas as vezes que jaemin partiu meu coração »» renmin

tempestade de verão...

Nunca fui uma pessoa supersticiosa, eu nunca fui alguém temente a algum deus ou entidade sobrenatural. Havia chego ao ápice da minha existência com 17 anos e não acreditava mais que  um ser poderoso nos vigiava durante todas as horas do nosso dia a dia. 

Eu não acreditava em nada e não sabia de absolutamente nada.

Porém, mesmo sendo inegavelmente incrédulo e cético com as coisas acerca da vida e sua essência, jamais consegui explicar ou entender o porquê de existirem dias em que eu sinto algo. Esse algo é mais complicado do que parece, porém pode ser definido com uma sensação estranha no peito, que faz a alma suspirar e me faz parar para observar o quão bonito é o céu as sete da manhã, tingido levemente de rosa, com o sol surgindo por entre algumas árvores e as casas em frente à minha.

Eu sentia exatamente isso naquele dia, era domingo e o dia era completamente quente. Junto desse calor meu coração batia calmo e minha mente era tomada por suspiros enquanto eu permanecia entre uma grande ventania e o mormaço. Ao olhar para o céu eu sentia que uma chuva de verão estava surgindo. E mesmo assim não movi um músculo do lugar e continuei entregue ao sentimento estranho com que acordei. Era como se aquele dia fosse diferente, mas familiar. Era como se fosse nostálgico mesmo que eu não me recordava de nenhum incrível dia vivendo naquele clima.

Olhei então para a casa vizinha a minha, vendo Jaemin na janela de seu quarto. Estava agora com os cabelos das cores castanhas, pois a escola recusava o aceitar se não aparecesse com a cor natural de suas madeixas. Ele não apareceu, quase como em um protesto, voltou usando um tom mais claro que o natural e dessa vez mesmo que aos resmungos, deixaram que ele voltasse estudar normalmente. Ri pensando nisso e acabei dando um sorriso para o meu vizinho que me olhava. Na estava encarando-me com aqueles seus orbes carinhosos, transbordando todas as belezas do mundo, enquanto que aos poucos me abria um largo sorriso, travesso como sempre, porém, do mesmo modo que aquele dia me parecia diferente, o sorriso estampado na face de Jaemin parecia não ser o mesmo. Parecia especial.

E me trouxe calma.

Ao meu redor as nuvens escuras se fixaram no céu e o vento levava em toda direção o cheiro de poeira e as folhas antes caídas das árvores.

Na chamou-me para mais perto e eu dei alguns passos até o pequeno muro que separava sua casa da minha e sentei-me sobre o concreto.

—É engraçado te ver aqui. — Comentou. — Parece feliz.

—Pareço? É, eu acho que estou feliz.

Jaemin me analisou com um sorriso de quem achava graça em minha resposta.

—Acha?

—Acho. — afirmei. — Não sei exatamente nomear o que estou sentindo, mas é algo semelhante a paz e liberdade.

—Isso combina com você. — disse-me deitando a cabeça sobre a base da janela.

—Isso combina comigo. — concordei com sua fala, lhe lançando um pequeno sorrindo.

E senti mais uma vez os olhos de Jaemin queimarem até mesmo sob minha pele, ele parecia ver meu sangue correndo, meu coração pulsando e o ar sendo transportado pelo meu corpo. Era tão intenso sentir aqueles orbes negros que transbordavam carinho também transbordarem a minha presença.

—Você parece fazer parte de tudo isso. — Disse-me após uns segundos olhando-me.

—Tudo isso? O que seria tudo isso?

—A tempestade.

Naquele dia Na Jaemin não quebrou meu coração. Foi algo estranho de se contar, até porque isso é basicamente sobre quantas vezes ele magoou-me. Entretanto, Jaemin era um todo estranho, fora da linha do meu pensamento. E naquele dia, além de não partir meu coração em pequenos pedaços sem piedade, ele olhou-me nos olhos de uma maneira que me deu a pior coisa do mundo: esperanças. E tornou a dizer, como quem diz qualquer coisa:

—É de fato, Renjun, encantador tudo isso. Um belo caos.

Eu não sabia se ele falava da tempestade, se falava de mim, se falava de si. Eu não sei nada, só sei que devolvi toda intensidade de seu olhar enquanto sentia as primeiras gotas da chuva caírem sobre minha pele.