5º Capítulo

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ALUCINAÇÕES INEXPLICÁVEIS

•Narração em 1º Pessoa — Beth•

Era estranha a forma como eu me sentia perto dele, é como se parte da minha alma brilhasse de dentro para fora quando eu fixava meu olhar ao dele. Também era estranha a ansiedade que me cercava durante todo o dia para retornar ao apartamento o quanto antes. Algo prendia-me a atenção à ponto de não tira-lo de minha cabeça por nem se quer um segundo que fosse. Eu precisava entregar três relatórios gigantescos para o Boss, mas eu só conseguia pensar naquele sorriso tão sincero que ele esboçava ao me ver. Faltava-me as palavras para concluir aqueles papeis, e isso me deixava levemente estressada; sabia que ao voltar ele ainda estaria ali, mas eu queria vê-lo novamente e passar horas ao seu lado mesmo que fosse discutindo por cobertas, ou até mesmo quem dormiria no sofá. Era visível em minhas expressões faciais e atitudes perante o trabalho que eu estaria apaixonada por um intruso. Ou talvez a intrusa fosse eu; mas quem se importa, não é mesmo? Em todo esse percurso de pensamentos, me pego derrubando a caneta sobre o chão e todos podem notar que minha visão está fixada em apenas um ponto específico do monitor daquele computador. Levantei-me sem dizer uma palavra deixando todos ao redor de minha mesa curiosos e vaguei até o banheiro, este qual utilizei da torneira sua água para lavar meu rosto e assim voltar ao trabalho, mas parecia que sua voz ainda ecoava em minha mente, e até mesmo podia vê-lo atrás de mim pelo grande espelho à minha frente.

O que tem acontecido com você, Beth? Está estranha hoje... — Sua voz murmurava dentro do local como se realmente estivesse ali.

Estou tão fascinada por você que agora estou vendo-o em todo canto que eu vou? — Questionei para mim mesma porém no meu subconsciente esperava que ele fosse responder, embora eu estivesse supondo ser uma projeção de minha própria imaginação.

Aquele sorriso tornou a surgir, então fechei os olhos para concentrar-me nos relatórios que precisava terminar, no entanto sua voz tornou a murmurar, todavia, estava tão próximo ao meu ouvido que eu mal podia reagir. — É comum que a paixão por algo ou alguém faça isso com as pessoas. — Tornou a sorrir mesmo que eu insistisse em não visualiza-lo. — Estudos apontam que o sentimento de amor pode ser comparado à loucura facilmente.

Ao término de suas palavras, apenas ouvi a porta do banheiro ranger ao abrir vagarosa. Annie acabara de entrar cautelosa olhando para mim fixamente.

Eu jurava que tinha um homem conversando aqui com você. — Eu engoli a seco, achando que talvez ela estivesse tão louca quanto eu estava.

Ah, eu estava em uma ligação. — Contornei a situação rapidamente, tornando a lavar as mãos por mais uma vez para disfarçar o ocorrido que eu não poderia explicar.

Com um homem? Hm... quer dizer então que você arranjou um crush? — Indagou-me curiosa ao entrar em uma das cabines sanitárias do local.

Crush? Wtf, Annie. Logo eu? — Expeli ar por minhas narinas seguido de um riso forçado para ironizar a situação. — Melhore, mulher. — Prossegui agora segurando o meu verdadeiro riso, pois aquela situação além de ser absurda, ela estava alucinando junto comigo.

Seu pai que não era, eu já ouvi a voz dele, e eu tenho certeza que não é essa. — Insistia cada vez mais para que eu lhe contasse algo, entretanto não havia o que contar, porém...

Na verdade, eu comprei um apartamento recentemente... — Comecei a contar a ela o que havia me ocorrido.

— Eu lembro que me contou um dia antes de se mudar... mas o que tem demais? — Quando terminou suas falas, Annie apertou o botão de descarga.

Esperei que o barulho se ausentasse no local para que assim eu pudesse concluir. Visualizei sem desprender o olhar da loira que saía da cabine fazendo gestos com a cabeça para que eu continuasse a contar, assim o fiz.

Prosseguindo... a imobiliária que fiz a negociação me vendeu um apartamento que ainda tem um dono. Acredito que tenham forjado a assinatura do rapaz para a escritura, e agora estou sem onde morar novamente.

— Ele te expulsou de lá? — Questionou rapidamente ao abrir a torneira para lavar suas mãos.

Na verdade, eu é quem tentei expulsa-lo, mas ele não tem para onde ir assim como eu, ou seja, foi um golpe e agora temos que dividir o aparamento. — Finalmente consegui concluir.

Annie me olhava fixamente enquanto pegava os papéis para secar suas mãos. Alguns segundos de silêncio reinaram o local, todavia ela não pode conter sua próxima indagação.

Então foi ele que te ligou agora? — Engoli a seco, e como eu já havia mentido sobre a ligação, apenas assenti. — Ainda acho que daí vai sair um romance, olha o estado que você está. Não consegue se concentrar, e eu apostaria todos os meus dedos da mão para a Yakuza de que você se apaixonou. E olha que eu preciso deles para digitar. — Rindo movendo todos os seus dedos em minha frente, ela me deu alguns tapinhas sobre o ombro direito e se retirou com certeza absoluta do que havia dito, e de alguma forma eu sabia que ela tinha toda razão.

No entanto, meu íntimo dizia que ele estava ali de verdade, afinal além de mim, ela também pode ouvi-lo, não com tanta clareza mas ouviu. Como ele poderia fazer aquilo? Acho que estamos dividindo nossas loucuras, apenas.
Retirei-me do local e assim retornei aos meus afazeres até que as horas se passassem para eu poder voltar ao "meu" apartamento.

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