Ciúmes.

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  - Você votou em mim?
  Aquele perguntou era a última que Prior queria fazer. Ele não era de contar os votos dado nele, mas a dúvida de saber se Daniel havia auxiliado em o colocar no paredão estava o incomodando.
  - Que? – o sulista pergunta, virando o rosto em direção a cama de Felipe. Entretanto, ele não consegue capturar o rosto do arquiteto.
  - Caralho, – ele fala. Não iria demorar para que adotasse a postura defensiva se Daniel continuasse se fazendo de sonso. – você votou em mim?
  - Sim.
  Como pode uma única palavra ter a capacidade de machucar duas pessoas de forma tão genuína? Daniel errou, ele sabia. Tinha mil vezes mais motivos para votar em Guilherme, ou até em Babu. Então, por que votou em Prior, com quem ele estava se dando bem? A resposta pra essa pergunta nem ele sabia responder, mas Felipe arriscava uma explicação: o sulista tinha medo de se aproximar de um cara que já estava marcado pra sair. E, sinceramente, Prior entendia essa questão, o mesmo só não compreendia as atitudes de Daniel.
  - Deixa eu só te pedir uma coisa então: para de querer bancar de meu amiguinho. Se vai votar em mim é melhor nem trocar ideia comigo. Beleza? – a pergunta foi retórica visto que Felipe continua a falar. – O maluco sabe que vai votar em mim e antes fica perguntando se eu quero aguinha, falando que sentiu minha falta. Puta que pariu.
  O loiro não retruca; ele nem podia, Felipe estava certo. Era incapaz de julgar o moreno. Mas Daniel também não conseguia ficar ali, após as palavras que ouviu. O sulista levanta, seguindo em direção à cozinha, onde Marcela e Thelma comiam melancia.
  - Oi. – ele fala, sentando-se ao lado da loira e repousando sua cabeça sobre o ombro dela.
  - Aconteceu alguma coisa? – Marcela pergunta, passando a mão pelos cabelos do mais novo.
  Daniel suspira, soltando o ar com dificuldade. Ele simplesmente não entendia porque votou em Prior se queria que o mesmo ficasse.
  - Tava conversando com o Prior.
  A médica assente com a cabeça: - Você gosta dele, né?
  - Que? Como assim?
  Qualquer pessoa vendo aquela cena perceberia as bochechas de Daniel adotarem um tom vermelho, assim como o volume da sua voz que imediatamente se tornou mais alto junto com a vergonha que o tomou. Qualquer pessoa, menos Marcela. A paixão é cega, não é mesmo? O sulista, definitivamente, concordava com essa premissa.
  - Você sabe que ele é machista, mas gosta dele, né? O Prior é legal às vezes, mas a gente não pode esquecer tudo que ele já falou e fez.
  - É. Eu sei.
  E ele não esquecia, nem podia. Se aproximar de Prior era sinônimo de se queimar na cabeça de Daniel mas, ainda assim, ele não conseguia evitar o sentimento que o possuía toda vez o arquiteto o olhasse por mais tempo do que deveria.
  No quarto dos meninos, Felipe fazia um monólogo com participação de Babu que vez ou outra fazia um comentário.
  - Devo ter muito cara de otário mesmo. – falava o arquiteto pela quarta vez na noite. – É cômodo votar em mim, Babu. O Salsicha mesmo, eu posso acordar ele com um beijo que não muda nada. Só sabe ficar lambendo a Marcela. Parece um fantoche.
  Babu dá risada: - Isso aí é ciúmes, Prior.
  - Ciúmes?
  O carioca afirmou com a cabeça e continuou rindo.
  - Ciúmes do Salsicha, Babu? Tá de sacanagem?
  Babu não fala mais nada, apenas dá de ombros. Ele já sabia que debater com Felipe não resolveria. O paulistano não fazia questão de ouvir a ninguém, somente a si mesmo. E, naquele momento, ciúmes de Daniel era um pensamento que sua cabeça negava que o próprio sentia. Se estava mentindo para si ou não, Felipe se sentia bem em não confrontar a dúvida que seu amigo instaurou em sua cabeça. Era algo que ele fazia com bastante facilidade (e maestria): ignorar o que sua mente tentava a todo custo gritar pra ele ouvir. Talvez fosse esse o motivo para nunca ter namorado. Algumas das meninas que já passaram por sua vida culpavam o signo dele, e qualquer um que concordasse com astrologia talvez concordasse, mas Prior nunca foi muito chegado nesse lance. Ele culpava as cervejas e a beleza do mundo, e, às vezes, em lapsos de racionalidade profunda, culpava o real culpado: ele mesmo.
  Bufou e se mexeu na cama. O estresse já se dissipando por seu corpo. Ao contrário do que aparentava, o arquiteto não conseguia odiar alguém por muito tempo.
  - Você fica, Prior. – Babu fala.
  Era bom ter alguém que acreditasse nessa possibilidade. Nem o próprio emparedado tinha essa esperança. Prior já imaginava o discurso de Tiago para eliminá-lo da casa. Seus amigos todos foram embora, por que seria diferente com ele? Pelo menos, era isso que pensava enquanto se revirava na cama.
  - Vou tomar uma água, Babu. Quer alguma coisa?
  O carioca nega com a cabeça. E Felipe segue em direção à cozinha da Xepa. No meio do caminho, percebe o olhar de Daniel mas seu esforço em ignorar o rapaz conseguiu ultrapassar a sua vontade de gritar com ele. Já no jardim, o paulistano encontra Bianca e Flay que faziam um miojo.
  - E aí? – Boca Rosa pergunta, mas Prior só retruca o mesmo que lhe foi perguntado. – Ih, tá de mau humor.
  - Mas isso não é novidade, não. – Flay diz, rindo.
  - Mano, vocês são muito chatas.
  As duas riem. Quando os três não estavam brigando, eles estavam implicando um com o outro. Prior gostava delas, e sabia que, apesar das brigas, elas também gostavam dele. Todos com seu jeito torto de gostar. Por isso se davam bem quando não estavam empenhados em discutir.
  - A gente tava discutindo que vai ficar com minhas maquiagens se eu for embora. Eu ia dar pra Flay mas acho que você merece mais.
  Felipe ri da fala de Bianca: - Você não vai sair. É mais fácil eu deixar minhas blusas pra vocês.
  - Você tem que acreditar mais em você mesmo, Prior.
  E Flay estava certa mas como ele poderia acreditar em si mesmo convivendo com pessoas tão sem defeitos como Marcela?

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