Capítulo 2 - Freeze Me

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Os corredores dos dormitórios eram estreitos, e esteticamente mais feios do que é prometido com a fachada incrível da universidade. Não que eu me importe com nada disso, só queria me alocar e comer qualquer coisa. Estava faminta.

Achei o quarto que me era designado sem muita dificuldade, e ao destrancar a porta que me deram me encontrei parada na porta por longos segundos observado-o.

Era bem genérico. Uma cama de solteiro mais ou menos do mesmo tamanho da que eu tinha em casa do lado da parede branca. Do outro lado uma janela não muito grande paralela ao armário de correr, e uma cabeceira ao lado da cama com algumas gavetas. Simples. Perfeito. Me joguei na cama sem se preocupar em tirar os sapatos e de repente o medo assustador que eu sentia antes ficou na minha antiga casa. A sensação era esquisita, um misto de agitação com um pouco de desconfiança. Eu não estava insegura, eu tenho certeza que consigo me ajustar onde quer que fosse, contanto que ninguém ameace minha liberdade não teremos problemas. O fato de eu ter conseguido um quarto sozinha, e não ter que me preocupar com ninguém dividindo o mesmo cubículo que eu me deixava feliz, a última coisa que eu precisava era uma patricinha irritante reclamando da minha desorganização. Minha mãe já era doutora nessa arte. 

Não me preocupei em desarrumar a mala logo, teria muito tempo para fazer isso até minha primeira aula, meu estômago vazio me alertava de algo mais importante no momento. 

Tranquei a porta ao sair do quarto, me dirigindo até um salão onde várias pessoas pareciam perdidas entre achar seus respectivos quartos ou algum quadro onde estariam descritos os horários ou localização de cada curso. Inseri uma nota de cinco em uma daquela máquinas de salgadinho e retirei um pacote dela, me deliciando com o sabor daqueles biscoitos industriais que imitam cookies. Geralmente eu acho o gosto dessas coisas uma bosta, mas eu estava com tanta fome que não me permiti ser muito exigente com a escolha.

Caminhei um pouco até um espaço aberto onde tinha bem menos pessoas (e com feições bem menos assustadas) e tateei o bolso de trás do meu jeans em busca do maço de cigarro. Puxei sem muita delicadeza e me recostei no que mais parecia ser uma varanda correndo os dedos pelo papel desgastado da caixinha que ficou muitas horas repousando do meu bolso.

"Merda." - Falei baixo mais para mim mesma percebendo que tinha deixado o isqueiro na bolsa que ficou dentro do quarto. Olhei ao redor e meus olhos pousaram em uma menina também recostada do outro lado que parecia atenta a algo no seu telefone, e um cigarro preto pendia entre seus dentes.

"Cê tem um isqueiro pra me emprestar?" - Falei sem muita cerimônia me aproximando dela. Ela virou o rosto pra mim ao abaixar o celular, notei um piercing bem parecido com o meu em seu nariz, e sorriu ao me entregar um isqueiro rosa. Notei algumas pedrinhas brilhantes que adornavam o objeto, sentindo a textura na ponta dos meus dedos enquanto arrastava um deles pela rodelinha de metal. 

"Aqui." - ela disse com uma voz bem fina afastando o cabelo totalmente trançado dos ombros. - "Aliás, Catarina. Prazer."

"Lisa." - Disse segurando o cigarro entre os meus dentes e acendendo com o isqueiro que ela me emprestou, tragando a fumaça amarga com os olhos vidrados no campus a minha frente. Sem muita discrição Catarina tomou o maço que eu tinha deixado por ali e o examinou cautelosamente com o cenho franzido. Ergui uma sobrancelha para ela, sentindo a bolinha de metal tocar minha testa.

"Ew. Cigarro branco. Como você consegue fumar uma coisa dessas? Eu só dou conta dos com saborzinho." - Ela riu, mostrando a arcada dentária perfeita e eu ponderei quantos anos de aparelho aquilo lhe custou.

"É o que eu gosto." - dei de ombros. - "Esses de menta são ruins pra caralho."

"Bom, são os únicos que vão me salvar de uma aula excruciante de macroeconomia mais tarde." - Catarina afastou as tranças do cabelo mais uma vez o que julguei por ser um hábito, e pude perceber que elas mudavam de cor atrás, alcançando um tom rosado.

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