Capítulo 5 - Archers

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A ressaca do dia seguinte era pouco agradável, e o fato de que eu fui acordada bem antes do que planejava por barulhos extremamente incômodos vindo do corredor também contribuiu para que o mau-humor se instalasse rapidamente. Rolei na cama algumas vezes levando o travesseiro até meu rosto e o cobrindo para impedir os raios solares de ferir meus olhos.

Resmunguei muitos palavrões antes de me virar para o lado da parede e finalmente me atrever a abrir os olhos, esfregando-os sem muita delicadeza enquanto eu enterrava meus dedos nos cabelos e os puxava para trás. A noite passada passava como flashs na minha cabeça, de alguma forma potencializando a dor que começava a se instalar no local. Apesar disso, a memória dos meus beijos com Sofia atrás do depósito do bar serem muito claras. Peguei meu telefone no móvel ao lado da cama e o desbloqueei rapidamente, ignorando as mensagens que estavam expostas na tela principal e entrando direto no Instagram. Digitei no search "Sofia Vecchio" e não demorou muito para que eu encontrasse sua foto nos pequenos círculos dentre as outras Sofias que apareceram nas opções. Entrei no perfil e enviei uma solicitação, encarando por alguns segundos seu rosto sorridente na foto de ícone.

Não consegui conter a curiosidade, eu não era muito de atualizar redes sociais nem era muito ligada nessas coisas. A única que eu fazia questão na verdade era o Iast.fm onde eu acompanhava as músicas e bandas que eu mais ouvia, mas acabei explorando pelo Instagram e acessei o perfil da Cat que tinha me seguido alguns dias antes.

Seu perfil não era privado como o de Sofia e continha muitas fotos, como eu já esperava. Milhões de fotos com o Daniel, muitas e muitas fotos dela mesma em diferentes ângulos e poses e não precisei procurar muito a fundo para encontrar uma foto com toda aquela galera que ela tinha me apresentado na festa. Observei atentamente os rostos pouco conhecidos exibidos na imagem, e não demorou para minha atenção ser capturada para Isabel no canto da foto usando uma roupa social. Ela era incrivelmente fotogênica, e parecia se destacar no meio de todas as outras pessoas com a estética tão parecida com a dela.

Meus dedos se moveram sozinhos e quando me dei conta já estava no perfil do Instagram da Isabel, analisando todas as fotos, que não eram muitas. Tinha algumas de paisagens com legendas genéricas e hashtags que todo mundo coloca, uma foto com Athos e Theo em um estúdio de tatuagem, outra com Cat no que eu imaginei ser uma balada pelas luzes fortes, e no mesmo ambiente havia uma foto dela. Ela estava em pé ao lado de uma placa luminosa colorida com os dizeres "Love is Love" usando uma jaqueta de couro preta e seu cabelo curto caía levemente no rosto, enquanto ela sorria com a língua para fora. A qualidade não era das melhores, e a foto estava um pouco tremida o que me levou a pensar que a pessoa que tirou não estava em seu estado mais são, mas mesmo assim era muito bonita. Meus olhos passearam por toda extremidade da tela, era a única foto em seu Instagram em que ela estivesse sozinha e acho que nem se eu tentasse por anos eu conseguiria sair tão charmosa assim em uma fotografia. Suspirei, bloqueando a tela e encarando o teto pálido do meu quarto. A dor de cabeça estava diminuindo gradativamente, e eu não pretendia levantar daquela cama tão cedo. Domingos eram dias totalmente sem utilidade, serviam apenas para lamentarmos os feitos do final de semana.

Os dias pareciam passar curiosamente devagar ultimamente, desde que eu cheguei na faculdade eu sinto como se já tivesse feito um milhão de coisas e vivido um milhão de experiências, que no caso não são nenhum pouco novas mas tudo parecia acontecer de uma forma diferente agora. Eu não tenho certeza se isso significa a chegada da vida adulta ou sei lá o que, mas certamente a sensação de acordar sem o barulho gritante dos salto-agulha da minha mãe batendo no piso de madeira nem alguns de seus berros é melhor do que eu pensei que seria.

A felicidade cessou um pouco assim que eu lembrei que essa era a hora de encarar os chuveiros comunitários e os banhos com mais sete pessoas no mesmo ambiente, o que me fez revirar os olhos e soltar um gemido de reprovação. Não sei quanto tempo leva para uma universitária se acostumar a dividir um banheiro com outros desconhecidos mas só de pensar nisso meio que já me da vontade de reivindicar da higiene básica.

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