Capítulo 6 - Loose Change

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A segunda-feira começou como o esperado. O despertador estridente interrompendo meus sonhos, uma máscara emburrada cobrindo meu rosto e toda a burocracia de enfrentar os chuveiros comunitários da faculdade. Vesti uma camiseta preta um pouco mais curta, aproveitando o calor para usar um short com estampa xadrez em tom de vinho tinto. Dona Nara vivia reclamando do meu guarda-roupa monocromático, mas no fundo sabia que ela preferia as estampas de flanela as camisetas com símbolos provocativos e logos de bandas barulhentas que ela detestava ate os ossos. Calcei o tênis que eu tenho há anos e já caía aos pedaços. 8:15 em ponto eu estava deixando meu quarto, rezando mentalmente para que eu consiga chegar até 8:30 na minha primeira aula de introdução ao jornalismo.

Eu ainda não sabia me localizar muito bem no campus, que era simplesmente enorme, e com muito custo eu consegui encontrar o prédio onde ficava a sala de mídia, onde seria minha aula. O corredor extenso era recheado por alunos de diversos tipos, a sala era no mesmo andar do último período de direito, o que era engraçado pois as pessoas desse curso pareciam gostar muito de aparecer nas aulas 9 da manhã em roupas engomadinhas, e uns resolviam até ir de terno. Babacas metidos. Exitem poucas coisas que eu detesto mais do que estudantes de Direito. Bufei e entrei na minha sala, apenas alguns minutos atrasada mas o professor já passava alguma coisa no quadro branco.

Passeei pelas fileiras e encontrei um lugar mais ou menos no meio sala, onde eu não ficava totalmente exposta mas também conseguia enxergar bem o quadro, e o rosto do professor que parecia ter em torno de 40 anos e a cabeça raspada reluzia de cima do tablado.

"Eu desejaria bom dia para vocês mas acredito que ninguém está de bom humor o suficiente pra isso." - ele sorriu, e virou de costas para o quadro. - "Acreditem ou não mas eu também já tive os meus 18 anos de idade e sei o que é acordar cedo em uma segunda-feira pós final de semana e de ressaca."

Eu pude ouvir murmúrios e muitas pessoas concordando com ele, causando um pouco de ruído na acústica impecável da sala espaçosa.

"Bom, para começar, meu nome é William Fernandes, e Sr. Fernandes para os íntimos. Ou para os meus alunos." - Ele riu da própria piada. Patético. - "Eu tenho mestrado e doutorado na arte da comunicação e esse semestre estarei dando as disciplinas de introdução ao jornalismo e comunicação midiática para os senhores."

Ele listou mais alguns cursos e qualificações que soam tão bem como devem ser lidas em seu currículo, e eu quase não consegui conter minha feição surpresa. O cara já tinha escrito para várias revistas que eu acompanhava, e era basicamente tudo que um aspirante a jornalista almeja.

"Para começar, eu não vou passar uma porrada de coisa no quadro que eu sei que nem 1% de vocês vão anotar. Eu gosto de utilizar do método de desenvolvimento individual, que me ajuda a orientar cada um de vocês de acordo com as suas habilidades. Então para essa primeira aula eu gostaria que os senhores pegassem seus computadores e trabalhassem em um artigo de opinião com tema livre. Escrevam sobre o que vocês têm mais afinidade, e a linguagem jornalística é essencial. Lembrem-se que ninguém aqui é criança mais, então podem se desprender de qualquer comparação disso aqui com ensino médio. Vocês podem ocupar o campus, e eu quero todos os artigos no meu e-mail até no máximo quatro da tarde, o prazo deve ser respeitado e os senhores estão liberados para desenvolverem o texto da forma que julgarem mais conveniente. Façam o melhor proveito do seu tempo."

Agradeci mentalmente ao Sr. Fernandes por não me obrigar a ficar sentada horas na cadeira, e uma empolgação incomum cresceu no meu corpo com a tarefa. Rapidamente juntei minhas coisas de forma desleixada, e coloquei meu notebook debaixo do braço, voando para fora da sala de aula até a área externa do campus.

Eu não me preocupei em reparar direito nas pessoas que frequentavam as mesmas aulas que eu, mas eu não exatamente me importava. Não estava ali para fazer amigos, e não estava interessada em nada que vá tirar meu foco desse trabalho. Algo dentro de mim queria impressionar o professor, talvez admiração por ele ser basicamente tudo que eu espero um dia me tornar. Suspirei entrando na cafeteria e em segundos meu plano de não me distrair e focar no artigo foi por água abaixo.

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