Capítulo 4 - Lights Out

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Quando me dei conta já tinha vestido uma saia de couro preta que eu geralmente usava em ocasiões em que eu quisesse ir um pouco mais arrumada, e uma blusa da mesma cor. Apliquei o delineador ao redor dos meus olhos, era basicamente o único produto de maquiagem que eu usava regularmente, peguei minha bolsa e as chaves do carro decidindo que eu não iria deixar meu primeiro final de semana longe de casa ser um fracasso como a festa de ontem.

Dirigir por São Bernardo essa hora da noite era bem gostoso, quase não tinha carros na estrada e as ruas eram compridas, o que me levou facilmente até o centro da cidade. A região era mais nobre como o bairro onde ficava a universidade, e eu consegui avistar vários bares temáticos, mas nada que me desse vontade de entrar. Involuntariamente eu procurava por estabelecimentos como os que eu ia, e após algumas voltas estacionei na frente do que parecia ser um corredor iluminado com vários panfletos e posteres de bandas locais que eu não conhecia grudados pela entrada. O lugar era bem estreito, mas algo ali tinha me chamado atenção.

Chequei se a vaga onde eu havia estacionado era minimamente segura, e entrei no corredor iluminado observando a decoração distribuída desigualmente e levemente inspirada no início do movimento punk, pude notar. Algumas placa luminosas mostravam as palavras "girls" três vezes em grafite e eu considerei isso um sinal positivo, me dirigindo até a escada em espiral que levava até o subsolo.

A música ia ficando mais alta conforme eu ia descendo e me deparando com um espaço bem maior do que parecia ser na entrada apertada do bar. Ali embaixo era uma espécie de boate, onde uma massa de pessoas até no máximo seus vinte anos de idade dançavam vestidas inteiramente de preto enquanto uma banda tocava uma canção barulhenta em cima do pequeno palco improvisado. Me espremi entre os corpos suados espalhados pelo local e sentei-me no bar, pedindo uma cerveja para a garçonete que parecia ter mais ou menos a minha idade. Ela sorriu para mim me entregando uma garrafa envolta por um rótulo de cerveja que eu nunca ouvi falar.

A atendente pareceu notar a careta que eu fiz quando o líquido exageradamente amargo tocou minha língua, e soltou uma risada aguda.

"Essa cerveja é alemã. O gosto melhora com o tempo, prometo." - Ela se debruçou sobre o balcão e sorriu mais uma vez, mostrando os dentes.

"Quanto tempo?" - Perguntei em tom brincalhão e ela riu, enquanto eu fazia uma careta tomando mais um gole do conteúdo.

"Geralmente as pessoas costumam tomar umas duas doses de uísque, antes de encarar essa cerveja aí." - Ela era baixa, notei o desequilíbrio na sua postura enquanto ela se erguia na ponta dos pés para se recostar ao balcão que nos separava. Seu cabelo comprido estava preso em um rabo-de-cavalo no topo da cabeça com alguns fios rebeldes caindo em seu rosto bonito.

"Você que manda." - Sorri e apontei para a garrafa de uísque atrás dela. - "E dois copos, por favor."

Quando ela se virou para pegar a bebida, notei um crachá abotoado a sua blusa escrito "Sofia" com uma letra ruim. Ela perguntou casualmente enquanto encaixava um bico comprido no gargalo da garrafa e despejava o líquido em dois copinhos.

"Está esperando alguém?" - Sofia apontou para o copo a mais que eu tinha solicitado, contive o sorriso que queria se apossar do meu rosto e limpei a garganta antes de dizer.

"Na verdade eu estava pensando em te convidar para beber comigo." - Falei, sua boca se curvou em um gesto curioso e ela se aproximou do balcão falando mais baixo.

"Não posso. Estou trabalhando." - Ela disse em provocação, brincando com a ponta dos dedos ao redor do copo que eu havia empurrado em sua direção. 

"Ah, uma pena... Não queria beber essas duas doses sozinha..." - Falei rolando os olhos pelo balcão e ouvi o barulho da madeira desgastada, enquanto ela passava para o outro lado e retirava o avental.

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