LIAME | taegi

2010

Me sinto um completo idiota ultimamente. Para ser honesto, o que é essa maldita vida adolescente? Não sou uma criança, tão pouco adulto, então, o que sou? Só sei que sou Kim Taehyung, de quinze anos, com membros longos, magricela, óculos de grau e cabeça de coco. Sou um moleque que mata aula pra ficar na sala de música com o repetente, fazendo um monte de nada e ao mesmo tempo, tudo.

Ele é tudo. E não sabe.

Quem é ele? Min Yoongi, quase vinte anos, no último ano do ensino médio, enquanto estou no primeiro tentando correr atrás de notas ruins e faltas acumuladas. Mas a quem quero enganar? Levar esporro dos meu pai por ficar aqui com ele vale a pena.

O senhor Kim anda bebendo muito ultimamente. Devo confessar que me deixa muito preocupado quando saio de casa e ele fica com minha irmã a maior parte do tempo. Ela não anda mais a mesma. Me pergunto o que está acontecendo. Não fico muito tempo em casa, isso faz com que eu não saiba as coisas que acontecem, apenas quando chego a noite e ela ainda está acordada.

Agora, estou pintando algo em uma carteira de madeira velha com meus marcadores coloridos, na trilha sonora do dedilhar de seus dedos no piano velho da sala isolada, no prédio abandonado do grande lote da escola. Adoramos vir aqui, já faz um tempo que se tornou nosso esconderijo. O motivo? Aqui ninguém nos perturba.

Dedos longos como os meus, magros e pálidos, tocam nas teclas velhas do piano desafinado até encontrar uma corda quebrada e resmungar um palavrão qualquer. Tive de rir baixinho e senti seu olhar em mim por um tempo. Seus olhos pequenos e caídos possuem uma força extrema na minha alma, é como se cada pedaço meu derretesse.

E então, ele acendeu um cigarro. No começo da nossa amizade, odiava aquele cheiro. Hoje em dia sou o maior fumante passivo desse bairro. O mais velho tem esse jeito, fuma e bebe, mas só pra ele, sem incomodar as pessoas. Yoongi consegue ser invisível quando quer. Queria conseguir ser assim, mas dentro de mim existe uma necessidade de querer ter mais amigos.

Terminei de desenhar meu pequeno extraterrestre de cabeça vermelha em formato de coração. Sorri para o mesmo, com o marcador na mão. Desenhar me faz feliz, me deixa menos ansioso. Notei também ter sujado a manga da camisa branca do uniforme. Fiz um bico, aquela merda não vai sair tão fácil. Marcadores coloridos são caros se comparados com canetas comuns, sou grato por ter ganho de minha tia, vieram do centro de Seul.

—  Taehyung-ie... - chamou com sua voz grave e baixa.

O fitei por debaixo da minha franja.

—  Sim, hyung? - deixei a caneta na mesa quando o vi se levantar devagar da frente do piano, arrastando o banco para se colocar do outro lado da pequena mesa velha que sento, ficando muito próximo se mim, ele e o cheiro do cigarro de quinta.

Olhou para meu desenho e riu baixinho, assoprando fumaça para a direita, longe do meu rosto.

Ele tem um jeitinho fofo de se comportar. É menor que eu um pouco, com bochechas rosadas e redondas, olhos caídos nas extremidades e a boca fina formando um bico delineado. Sem contar seu nariz pequeno. O contrário de mim, que tenho uma tora no meio da cara.

Yoongi é lindo e me enfeitiçou desde a primeira vez que o vi. Não sei porque ele quis ser meu amigo, contudo acatei a ideia e aqui estamos, um ano depois. Em tão pouco tempo, vivemos muitas coisas estranhas, algumas constrangedoras, histórias que não gostamos de voltar para contar e outras que rimos de rolar no chão ao lembrar.

—  Sabe, preciso te falar uma coisa. - tragou mais um pouco antes de soltar as cores brancas pelo nariz. —  Sobre o fim desse ano, que já está chegando.

—  Certo... - respondi receoso.

Se forma antes de mim, claro, e não sabemos como serão as coisas a partir de agora. Olhava nossos uniformes vinho com carinho, os óculos no seu rosto e o olhar por trás deles. Não estou pronto para me despedir disso.