MUTE

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Queria que o mundo explodisse nesse momento. Para ser honesto, faz um tempo que eu ando desejando isso. Exatos dez minutos sentado naquele chão, escorado na parede velha, olhando para os meus pés, sem conseguir me mover.

É tão difícil estar aqui de novo. Podia jurar que conseguia ver imagens do passado sendo reproduzidas feito um projetor, nossas brigas na sala, as vezes em que escondi seu maço de cigarro, e as vezes que bebi seu soju escondido e recebi uma bronca.

Quando dançamos juntos ao som da minha própria voz. Lembro o quanto ele me dizia gostar da minha voz, do meu timbre.

Aquele apartamento está em pedaços, abandonado feito nossas memórias, afogadas em uma saudade estranha e uma raiva tão nublada.

Yoongi está sentado a dois metros distante de mim, com as pernas dobradas, brincando com um anel, que presumi ser o de noivado. Não conseguia olhar na sua cara, a coberta que ele me envolveu ainda está nas minhas pernas, me protegendo do frio. Pelas velas acessas espalhadas por todo o cômodo, entendi que o local não tem energia, logo não tem aquecedor.

E está bem frio hoje.

O ouvi respirar fundo e tossir baixinho, uma tosse comum, eu lembro o quanto ele tossia depois de fumar. Deve ser isso.

Pela fresta da janela travada por tábuas de madeira, o vento forte e frio invadiu assoviando. Me encolhi na coberta e fui checar as horas no meu relógio de pulso, contudo, não está mais lá. Verdade, eu fui assaltado.

Resmunguei apoiando a cabeça na parede.

— Não consegui recuperar seu relógio. - ele disse, depois de severos minutos calado, com sua voz morna.

Tanto tempo que não a escuto, meu Deus, como dói. Fechei os olhos, respirando fundo, tentando não deixar as lágrimas escorrerem.

— Eles corriam muito rápido.

Ouvi o som do isqueiro de metal que peguei na sala. Ele olhou meus bolsos. Abri os olhos e o encarei.

Min Yoongi, o homem mais bonito que eu já vi. Não por ser aquela beleza de televisão, de revistas, mas sim por toda a sua simplicidade. Algo único, que agora, anos depois, se tornou mais lindo ainda. O rosto cheio de classe e fofura, com bochechas rosadas e os cabelos castanhos, acompanhados de um corpo mais forte e menos infantil como era antes.

Meus olhos migraram para o isqueiro e ficaram ali por um tempo, já que ele ficava rodando o objeto com as mãos.

— Lembro de ter dito que não gosto que pegue minhas coisas... - riu de si mesmo, sem me olhar. Bufou algo incompreensível e abaixou a cabeça. — Por que veio até aqui?

Não respondi. Não consigo. Tenho medo de gritar, medo de dizer o que não devo.

"Você e seus problemas de controle de raiva" podia ouvir a voz de meu pai apontando o gargalo da garrafa pra mim.

Esse é meu medo.

Olhei para frente de novo, no buraco de onde ficavam os fios da tv. Quantas vezes eu o ajudei a concertar o sinal daquela bagaça? Respirei fundo e fechei os olhos.

— O que foi fazer naquela sala?

A vontade que eu tinha era de mandar ele calar a boca.

— Não vai falar comigo? Entendo... Talvez eu mereça seu desprezo mesmo - começou a se apalpar até encontrar um maço de cigarros e acender um com o isqueiro queimado.

Incrível como ainda está funcionando. O tragou uma vez, soltando a fumaça para trás, como fazia antes. O que dizer pra ele? Que eu lembrei do beijo? Que eu lembrei que ficamos por minutos assim, ligados pelos lábios, se experimentando até eu cair no sono?

LIAME | taegiOnde histórias criam vida. Descubra agora