M.I.A.

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Tudo o que eu me lembrava era de ter aceitado entrar naquele carro preto, as nove da noite, com a desculpa de que havia acabado a comida na casa e que precisávamos sair pra comer fora. E usaram hambúrguer pra me convencer. Já são onze da noite, eu estou extremamente bêbado e não tenho hambúrguer.

Todas as minhas histórias com Jimin, as mais malucas, envolvem álcool. A gente bebe muito, sempre foi assim, escondidos, claro, até alcançarmos a maior idade e depois, nossas saídas passaram a ser menos recorrentes, já que o mesmo só aparece na minha casa uma vez por semestre.

Encontramos um estacionamento vazio, de um supermercado abandonado, ficamos fazendo qualquer idiotice, correndo bêbados pelo lugar, com o rádio do carro ligado.

O frio logo alcançou meu corpo, quando me deitei no asfalto sujo, olhando pro céu nublado, assim como meus pensamentos.

Tentei ligar para o antigo número de Yoongi naquele dia, mais cedo, e como previa, ninguém atendeu. Até mesmo mandei outro e-mail, para o nosso antigo, nada. Mas não me surpreendi, afinal, nada novo. Respirei fundo, ajeitando a touca na cabeça, mesmo parado, é como se o chão girasse. Faz tempo que não bebo assim, última vez que bebi e fiquei dessa forma eu era adolescente.

Eu estava com ele.

Sei que depois desse dia, Yoongi passou a me tratar com mais seriedade. Não faço ideia do que eu aprontei bêbado, tentava lembrar o máximo possível, juro que passei um mês inteiro refletindo e tentando refazer meus passos bêbados. Yoongi não respondia quando eu perguntava, dizia que eu apenas enchi a cara e fiquei perturbando ele por horas até apagar na sua cama.

Mesmo que seu apartamento fosse velho e super minúsculo, era como uma casa pra mim. Lá eu dormia como uma criança, diferente da minha própria casa.

Jimin corria pelo estacionamento enquanto Namjoon dava círculos pelo lugar com seu carro, fazendo os pneus riscarem o asfalto com seus drifts.

Depois disso, o menor se deitou ao meu lado e respirou fundo me encarando.

— Você está bem? - me perguntou olhando pro meu rosto, mas eu não consigo me mover bem de tão bêbado. Fechei meus olhos, pensando naquela cama, no cheiro de cigarro e perfume de quinta que parecem estar tão recentes na minha cabeça. Queria entender o motivo de eu nunca ter esquecido Min Yoongi.

Esquecido...

Namjoon parou o carro perto, Jungkook saiu do banco do motorista trocando os pés e tonto, rindo e pedindo pra repetirem a dose. Esse garoto é masoquista, não tem outra explicação.

Foi quando Bruno Mars começou a tocar na rádio alta. Aquela música me fez lembrar de uma coisa. E ali, de olhos fechados, me lembrei dos seus braços ao meu redor, tímidos e gelados. Seu rosto encostando no meu ombro, sendo guiado por mim em uma dança lenta.

Jimin falava no meu ouvido alguma coisa, mas minha mente está em Daegu. Naquele apartamento frio com o aquecedor quebrado. Naquele cheiro de cigarro e soju barato.

Ele me deitou na cama, eu sei que esse dia foi o que bebi, pela primeira vez, uma garrafa inteira de soju sozinho.

Yoongi deitou ao meu lado, depois de puxa-lo sem muito jeito, nossos corpos ficaram próximos naquela cama de solteiro estreita. Sua respiração tocando meu rosto frio. Foi quando... ah não.

— Aish... - abri meus olhos e vi o céu me encarando. Jimin já havia parado de falar, pois observava Jungkook. — Jimin-ah...

— O que foi? - nossos olhares se encontraram. Eu não conseguia acreditar no que aquele álcool me fez lembrar.

— Eu beijei ele. - anunciei e Jimin fez uma careta sem entender nada. — Eu beijei o Yoongi, em Daegu, anos atrás...

Tentei me sentar, preciso sair desse lugar, preciso encontrar ele. Não porque o beijei quando estiver bêbado, mas porque ele retribuiu e me beijou até cair no sono. Lembro do seu toque, do seu carinho, sua mão alisando meu rosto, eu dormi ao seu lado.

LIAME | taegiOnde histórias criam vida. Descubra agora