Prólogo

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SEM REVISÃO

Lucas

Ele se foi...

José Lamartine Santos foi vítima de infarto fulminante. A vida para meu pai acabou antes mesmo dos sessenta anos.

Ainda era difícil acreditar que tudo aquilo era verdade. Eu não me conformava. Tudo o que vivi parecia um pesadelo, tinha certeza que acordaria a qualquer momento e quando eu fosse visita-lo para contar das minhas conquistas, ele estaria lá para rir e dizer que eu tinha que aproveitar a vida, sem esquecer das responsabilidades.

Sempre foi assim comigo, já peguei André falando com a mãe que nosso pai me mimava demais e sempre passava a mão pela minha cabeça, mas nem sempre foi assim. Senhor José Lamartine Santos, também puxava minha orelha, principalmente quando eu caia na farra e faltava alguma aula da faculdade.

Tivemos bons momentos juntos, aproveitei tudo o que podia com meu pai e talvez seja por isso que todos pense que fui mimado.

Respirei fundo para que a dor em meu coração parasse um pouco, podia não parecer, mas eu estava sofrendo e ver minha mãe fingindo ser forte me quebrava ainda mais.

Será se não percebia que essa reunião era ainda mais sofrimento para todos? Por que não esperou algum tempo, até que as emoções se acalma-se?

Preferia me manter afastado, ninguém precisava saber da minha dor naquele momento. Impaciente desviei o olho para a janela e olhei o nada, enquanto questionei:

— Vai demorar muito?

— São apenas alguns minutos de atraso, você não tem compromisso depois. — Nosso irmão mais velho sempre apaziguava a situação, ele era responsável e o admirava, mesmo que não soubesse.

— Para o pai, atraso era inadmissível. — reprimi o sorriso quando Thomas falou, concordava com ele, papai sempre frisou sobre pontualidade em tudo na vida.

— É apenas o último pedido do seu pai, Thomas. Tudo o que fizemos foi pensando no seu bem. — Sabia que nossa mãe tentava ser forte e mesmo notando a entonação de voz, percebia que no fundo ela sofria. Não queria encarar em seu rosto, não queria chorar ali na frente de todos.

— Já passamos pelo velório, alguns parecem ainda em luto e outros não. Vamos escutar o que o advogado tem a dizer e seguir nossa vida. Um dia a mais ou menos não vai atrapalhar a vida de ninguém. — Sabia que o pedido de Caique era para Thomas, afinal ele tinha alguns ressentimentos com o papai.

Não sei ao certo o que aconteceu entre eles, apesar de amar meus irmãos, nunca fomos tão unidos a ponto de conversar sobre nossa vida pessoal em relação a família. A verdade era que, depois que crescemos pegamos caminhos diferentes e só nos encontrávamos quando íamos na casa de nossos pais.

— Desculpe o atraso, o trânsito estava horrível — a voz do advogado me fez desviar o olho da janela, e eu tive que respirar fundo com a irritação que aumentava ainda mais quando vi todo atrapalhado.

Não consegui evitar e demonstrei que tudo aquilo me incomodava, sorri de forma irônica quando o homem quase caiu da cadeira. Percebi o exato momento que Caique e André me repreendeu com o olhar, e quer saber? Sustentei o sorriso para eles, até que voltei a ficar sério.

Fodam-se! Queria falar para toda aquela situação, mas me segurei em respeito à nossa mãe. Caíque se sentou, enquanto André ficou ao lado dele. Eu continuei no mesmo lugar, apenas observando toda a cena que se desenrolava na sala.

— O testamento foi feito de forma extrajudicial, ou seja, não tem valia jurídica. — O advogado começou a reunião, enquanto tirava da pasta alguns papéis.

Lucas - Filhos de Lamartine Santos  ( DEGUSTAÇÃO )Onde histórias criam vida. Descubra agora