Camille
A manhã do novo dia que começava a despontar em Nova Orleans era exatamente igual à todas as outras: com raios de sol se camuflando por entre as nuvens, deixando de exercer sua única obrigação de iluminar a rua movimentada abaixo e as pessoas que passavam por ela, apressadas, preocupadas, atrasadas como sempre.
Uma brisa suave, típica do outono, desprendia muitas folhas coloridas e pétalas secas de flores, que voavam preguiçosamente dos galhos das árvores para o chão e traziam a sensação de melancolia à tona.Eu poderia passar horas observando a paisagem monótona da minha janela, no terceiro andar do orfanato da cidade.
Ainda mais com a visão do lindo e majestoso falcão que sobrevoava os arredores do local todos os dias, parecendo querer me dar bom dia.Não sei porquê, mas eu tinha um carinho especial por ele.
Nunca tive a oportunidade de me aproximar da ave, mas tinha uma estranha sensação de segurança e proteção quando ela estava por perto, como se estivesse ali pra me fazer companhia todos os dias e não deixar a solidão me abater.
Mesmo estando ciente de que já deveria estar me arrumando para descer até o salão de reunião do orfanato, eu estava procrastinando o máximo que podia numa tentativa falha de evitar aquela temível hora do dia que já era rotina há 16 anos.
Com uma leve bufada, desisto de ficar mais tempo na cama tentando evitar o inevitável e me levanto, pegando minhas coisas para ir até o banheiro e me preparar para o café da manhã e as visitas e entrevistas do dia.
Coloco meus chinelos e vou caminhando - me arrastando, pra ser mais sincera - no que parecia um corredor infinito até a pequena porta do banheiro, e quando finalmente chego, sinto um empurrão me jogando de lado e recebo uma porta fechada em minha cara, ouvindo logo depois, da minha colega de quarto, Lexa, um debochado "Opa, está ocupado."Lexa era alta, com longos cabelos castanhos que se enrolavam levemente da altura dos ombros até às pontas, e tinha olhos também castanhos, que quase acompanhavam o tom de suas mechas. Eu até poderia dizer que ela é bonita, se não fosse o fato de ser extremamente insuportável.
— Ah, ótimo. E lá vamos nós pra mais um dia. — Já completamente desperta, caminho novamente até minha cama e levanto uma das pontas do colchão, pegando um pequeno caderno azul que havia ali e que já estava bem desgastado pelo tempo.
Na escrivaninha ao lado, pego uma caneta e me sento, começando a escrever.Uns minutos depois, vejo pelo canto do olho Lexa abrir a porta do banheiro e olhar pra mim, cruzando os braços e se encostando na parede, com um sorriso maldoso nos lábios.
— Querido diário, — A garota começou num tom de voz provocativo — Hoje eu vou ser notada por uma boa família, porque eu vou dar a patinha, sorrir, e fazer pose para os meus futuros papais. Afinal, eu sou uma boa cadelinha. — Lexa caiu na gargalhada após suas palavras e balançou a cabeça em sinal de negação. — Você é patética.
Paro o que estava fazendo e levanto a cabeça, sustentando o olhar dela com um sorriso cínico.
— Querido diário, eu não tenho esperança nenhuma de encontrar uma família, então eu vou atazanar a vida de qualquer um que esteja feliz do meu lado, porque eu sou um ser das trevas que se alimenta de maldade no café da manhã. — Retruco com raiva. — Pelo menos eu não estou à alguns meses de fazer maioridade e ser chutada daqui sem nenhuma perspectiva de uma boa vida lá fora, Lexa.
Me levanto ainda com o diário em mãos e vou até o banheiro, imitando o gesto que ela havia feito, esbarrando propositalmente em seu corpo quando passo do seu lado e fechando a porta atrás de mim logo depois.
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Herdeira do Caos [HIATUS]
AdventureQuando pedi aos céus para conseguir uma família e sair do orfanato em que morei a vida inteira, eu não imaginava que seria para salvar o mundo derrotando o deus do caos e da destruição. Que a propósito, é meu pai.