Herdeira do Caos [HIATUS]

• Capítulo III ☥

Lexa

Não era novidade nenhuma ter começado mais um dia com o pé esquerdo nesse lugar de merda.
Se bem que, pensando melhor, na verdade não era novidade nenhuma que tenham me feito começar mais um dia com o pé esquerdo nesse lugar de merda.

Isso era rotina.

Aparentemente, era só pra isso que aquela maldita da Camille servia, para infernizar a minha vida. 
Esse, definitivamente, era o propósito da existência dela.

Os raros momentos em que eu tinha paz, eram os momentos em que eu estava sozinha, ou seja, quase nunca, afinal, eu dividia o quarto do orfanato com ela. 
Os dias de visita, entretanto, apesar de serem um pé no saco, eram ótimos em partes, porque com eles eu podia fugir de tudo e todos pra ficar em meu lugar preferido: o jardim.

Onde absolutamente ninguém me enchia o saco.

Mas aparentemente, tudo estava conspirando contra minha paz. 
Até mesmo os animais dali, já que aquele pássaro idiota não parecia ter ido com a minha cara.
Como se já não bastasse ter que aturar seus piados em minha janela todo dia de manhã, agora tinha que aturá-los ali enquanto tentava ler meu livro.

Eu estava sentindo a brisa do vento em meu rosto e folheando as páginas sem muito interesse enquanto olhava de relance para ele quando o mesmo simplesmente decide me dar um rasante sem motivo nenhum.
Pude ver um brilho dourado um pouco incomum em suas penas, era quase como se fossem feitas de ouro.
Mas claro, não tive muito tempo para analisar isso, já que aparentemente ele estava decidido a arrancar um olho da minha cara.

— Pombo maldito — Digo com raiva quase caindo pra trás com os braços cruzados em frente ao meu rosto pelo reflexo de desviar dele, vendo-o voar pra longe logo em seguida. 

Fuzilo o animal com o olhar vendo suas asas grandes e fortes baterem rapidamente enquanto ele se afastava e balanço a cabeça em negativa, bufando de raiva. 

Fecho o livro em meu colo e levo as mãos às têmporas, fechando os olhos e contando até três pra não surtar.
Quando os abro novamente, foco em uma mulher parada do lado de fora da grade do jardim. Ela me observava como se estivesse extremamente interessada em mim, parecendo uma psicopata analisando sua vítima segundos antes de matá-la com uma facada.

Sustento seu olhar, obviamente. E ela não o desvia por um só segundo.
Imagino que não se daria por vencida, e eu tampouco daria o braço a torcer. A última coisa que precisava era de alguém querendo me matar.

Ou pior, me adotar.

Depois de alguns instantes naquilo, vendo que a mulher mais parecia uma múmia muda, me levanto decidindo sair dali. 

Era esquisitice demais pra um só dia. 

Adentro novamente o refeitório do orfanato pela porta dos fundos e passo pelos dois irmãos gêmeos que se sentavam sozinhos naquele canto, batendo em suas bandejas propositalmente e derrubando a comida dela em cima deles. 
Dou uma risada com o gesto e em seguida direciono meu olhar até a mesa de Camille, mostrando o dedo do meio ao vê-la me encarar com desprezo.

Subo as escadas que levavam até meu quarto e me encosto na escrivaninha da garota, cruzando os braços e encarando sua cama com raiva.
Um sorriso se forma em meus lábios quando tenho uma ideia, e com isso caminho até minha própria cama, levantando a ponta esquerda do colchão e pegando um isqueiro que havia ali.

— Quem sabe ela não mude de quarto por falta de uma cama, hm? Seria uma pena… — Digo para mim mesma, fazendo uma pequena chama se inflamar ao rolar a engrenagem do isqueiro, liberando o gás que continha ali. — Opa, foi sem querer.