Belinda
— Em breve estarei de volta. — Minha voz ecoa pelo ambiente e as palavras eram direcionadas diretamente ao amuleto em meu pescoço: uma corrente fina de ouro com um cristal verde que emanava uma luz de mesmo tom, além de um entalhe de cobra, dourado, em seu centro.
Ao tocá-lo, meus dedos roçam suavemente em meus seios, sentindo a textura da pele do local. Estava áspera e escamosa, como costumava ser antes de minha missão começar.
Era quase como se ela implorasse para voltar às origens.
Ninguém poderia dizer que minha aparência no espelho não era incrível, apesar disso.
A pele negra reluzia como ouro, quase capaz de iluminar a pequena e escura casa em que eu estava.
Meus olhos eram de um verde intenso, bem diferente dos diversos tons que existiam por aí, além claro, do brilho unusual que eles continham.
Minhas tranças recém feitas estavam presas em um coque alto, e as roupas que eu usava eram um tanto estranhas para mim, mas se teria que me passar por uma pessoa comum, era melhor não exibir meu verdadeiro eu pelas ruas.Precisava me misturar e passar despercebida, e por isso, além das roupas comuns, minha pele teria que ser completamente humana.
Peles humanas não têm escamas, até onde sei.
Dou uma pequena risada e olho ao redor. O ambiente em que estava era de meu extremo agrado.
Máscaras de todas as etnias preenchiam as paredes marrons e gastas, parecendo sorrir pra mim e me observar conforme eu me movia.As prateleiras de madeira na parede continham diversos frascos com líquidos coloridos, poções e cremes feitos por mim para serem usados em ocasiões de necessidade.
Alguns itens de magia negra também enfeitavam a mesa de centro, tais como bonecos de voodoo e velas negras que eu utilizava em rituais.
E várias cobras de diferentes espécies rastejavam pelo chão, me fazendo companhia todos os dias desde que havia chegado ali.Me dirijo à uma das diversas estantes e pego um dos potes de creme dali, voltando para a frente do espelho.
O conteúdo dele era branco, apesar de se tratar de uma mistura de ervas e sangue.Passo meus dedos na substância viscosa e começo a espalhá-la pela pele, recitando algumas palavras em uma língua antiga enquanto o fazia.
Meus olhos ficam completamente brancos no processo, e posso até mesmo sentir uma nova onda de energia me invadir e revigorar.Ao terminar, sorrio ao ver a pele impecável novamente e fecho a tampa do recipiente, voltando-o ao seu devido lugar.
Minha píton albina me encarava com curiosidade, sabendo que eu sairia mais uma vez em busca de meu objetivo, como fazia todos os dias.
— Sabe que não pode ir comigo. Pessoas normais não andam por aí com cobras raras enroladas no pescoço. — Minha voz tinha um tom suave ao falar com ela. — Voltaremos para casa em breve, eu prometo.
Minha vida agora se baseava em buscar a criança bastarda perdida, vagando de orfanato em orfanato, por becos escuros e demais lugares em que uma garota órfã poderia estar.
Mas até agora não tinha tido sucesso.
Algo me dizia, entretanto, que hoje seria melhor do que todos os outros dias.
Uma sensação em mim fazia-me crer que uma surpresa me aguardava na próxima esquina em que eu virasse.— Vou achá-la. — Desvio meu olhar da cobra para o amuleto ao falar essa última frase. — Sei que vou.
Sua luz brilha mais forte por uns instantes, como se aprovasse minhas palavras, e assim saio de casa, caminhando pelas ruas de Nova Orleans, olhando apenas para frente, seguindo meu caminho, porém podendo ver pelo rabo de olho que as poucas pessoas que passavam por mim encaravam descaradamente minha beleza exuberante e exótica.
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Herdeira do Caos [HIATUS]
AdventureQuando pedi aos céus para conseguir uma família e sair do orfanato em que morei a vida inteira, eu não imaginava que seria para salvar o mundo derrotando o deus do caos e da destruição. Que a propósito, é meu pai.