Conto 1 - Quase irmãos, quase.

10°

"Não me olhe como se eu fosse a vilã da história" - falei encarando seus olhos tristes.

"Eu não estava fazendo o que você acha que eu estava fazendo"

"Me traindo? Vocês pareciam próximos e confortáveis demais juntos, quem via de longe os imaginava como um casal apaixonado" - deixei escapar um riso sinistro.

Se ele queria ser cínico, eu também seria.

"Por favor, princesa" - pediu, a voz carregada de culpa.

"Não me chame assim" - falei entredentes.

Minha amiga continuava estacada nos olhando como em um jogo de ping pong. Sem dizer uma palavra, ela saiu e nos deixou sozinhos, mas eu sabia que ela ficaria nos observando de dentro da casa.

"Anna me pediu que conversássemos, eu fui porque eu também precisava esclarecer as coisas com ela"

Sorri irônica.

"Me pareceu que você estava realmente esclarecendo coisas"

Ele coçou a cabeça nervoso e bufou.

"Anna é uma amiga, somente, e agora ela sabe disso"

"Do jeito que vocês estavam agarrados a amizade deve ser forte" - ele fez menção de dizer algo, mas eu o impedi - "eu não quero mais ter que ouvir isso, eu sei o que vi, e amigos não ficam a ponto de se beijarem"

Seus rosto tingiu-se de vermelho.

"Nós não nos beijamos" - falou alto.

"Porque eu interrompi"

"Eu estava apenas conversando com ela, acredita em mim"

Bufei.

Seus olhos me encaravam tristes e é claro que meu coração doía em vê-lo assim, mas eu me senti traída ao vê-lo com Anna, tão próximos.

"Acho melhor você ir embora, Micael" - falei e dei as costas para ele.

Assim que comecei a me afastar senti sua mão tocar meu braço me impedindo de avançar mais.

"Por favor, Mel, não aconteceu nada entre Anna e eu, e não aconteceria jamais. Eu amo você"

Aquela frase.

Esperei tanto para ouvi-lo dizer que me ama e agora aquilo me deixou com uma sensação amarga.

Puxei meu braço de volta.

"Vá embora, Micael, e não volte a me procurar" - falei sem olhá-lo e segui de volta para dentro.

Olívia me seguiu de perto, no caminho pediu que uma das secretarias acompanhasse Micael até a saída.

Me joguei na cama e chorei, chorei porque precisava me libertar da dor, chorei porque precisava me libertar de Micael Valência.

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Dois meses depois

"Querida, olhe esse vestido maravilhoso"

Minha mãe havia me arrastado para escolher o vestido que usaríamos na festa de inauguração do condomínio que a construtora acabara de entregar.