Chapter 4
Um grito angustiante acontece. Algo angustiante antecede. Suspeitas e acusações são lançadas.
Jogador sai da casa de banho apertando a breguilha. Aquela Cantora era louca, mas bem divertida. Se em vez daquele repórter ela estivesse interessada nele... Ao passar pela biblioteca viu um vulto pelo canto do olho. Voltou para trás e acendeu a luz da divisão. Ao perceber o que o vulto na verdade era gritou. Um grito agudo e estridente. Um grito a que muitos chamariam Grito de Menina, pois era isso mesmo que o seu grito fazia lembrar, um grito de uma menina pequena assustada de morte.
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Ao ouvir aquele agudo som todos se levantaram dos seus confortáveis lugares e deslocaram-se até o local do acontecimento. No chão jazia o corpo de Ator que, numa primeira olhada, parecia estar apenas a dormir, mas, após uma observação mais minuciosa, notava-se morto, pois o peito já não se enchia de ar, em volta dos olhos bolsas escuras, a pele estava lívida e, no pescoço, marcas vermelhas se alojavam. Não fora suicídio. Alguém o matara. Alguém que permanecia entre eles visto que ninguém entrara ou saíra da casa.
- Tranca todas as janelas e portas. – ordenou Aniversariante a Mordomo que se mantinha impassível à porta da divisão.
- O que faremos? – indagou um deles.
- Chamar a polícia parece ser o mais lógico.
- Não nada de polícia! – afirmou Barão. – O que menos queremos é chamar a atenção das autoridades. Somos pessoas de respeito e modelos a seguir, alguns temos trabalhos importantíssimos. Se chamarmos as autoridades seremos notícia por todo o lado e ficaremos arruinados. – olhou de esguelha para Repórter que parecia deliciado com toda aquela situação.
- O Barão tem razão. – consentiu Cientista.
- Então o que propões? – guinchou Cantora. – Que fiquemos aqui trancados com um assassino entre nós? Sendo ele próprio um de nós?
- É isso mesmo que proponho.
- Estás doida!
- Tens uma sugestão melhor, visto que não podemos chamar a polícia?
Cantora calou-se. Todos meditaram. Aniversariante ligou o ar condicionado. Tinham de manter o corpo frio para atrasar a decomposição, principalmente numa noite quente como aquela. Voltaram aos seus lugares na sala e cada um enterrou-se nos seus pensamentos até que Cantora quebrou o silêncio.
- Já sei! É óbvio! Não sei como não vi antes!
- Já sabes o quê? – interrogou Empresária no seu tom frio e descrente. Ao longo da noite foi criando uma muito negativa opinião em relação a Cantora e por muito que esta viesse a fazer para a dissuadir desta, nada a alteraria. A miúda era apenas mais uma pop star galdéria que não tinha talento e queria fama fácil. Até que tudo indicava que ela era a própria assassina em questão.
- O assassino. Já sei quem é! - todos a observaram prestando-lhe atenção – Então a princípio não o percebi mas quando a ideia me ocorreu não a consegui deixar. É tão óbvio! O assassino é a Cientista!
Todos ficaram embasbacados com tal sugestão. A ideia era absurda. A própria respondeu-lhe com escárnio.
- E o que te leva a fazer uma acusação dessas?
- Então, ao bocado quando estávamos a falar referiste que trabalhavas com bactérias, mas propriamente com bactérias que põem em risco a vida humana. Quem nos diz a nós que não foste tu que despejaste em cima do Ator uma das tuas colónias de bactérias só porque querias ver como é que elas agiam?
- 'Tás doida? Eu nunca faria isso nem em nome da ciência, não sou uma lunática à procura de fama como tu!
- Para além disso mais motivos tens tu de o matares do que ela. Se bem me lembro passaste grande parte do tempo da festa a insulta-lo e a dizer que ele não era ninguém nem valia nada. – defendeu-a Empresária.
- É bem verdade o que a Empresária está a dizer. – concordou Jogador.
- Então e o Repórter? Ele é que anda sempre à procura de um exclusivo para a sua revista de chaxe muito pouco vendida. Ora digam-me lá se o homicídio de um famoso rico como o Ator não seria uma notícia chamativa?
- Andar à procura de uma notícia exclusiva e cometer um crime para a conseguir ter são coisas completamente diferentes. E eu prefiro manter-me na primeira opção. Mas se querem a minha suspeita, o Jogador é alguém a se tomar em conta. – defendeu-se Repórter.
- Eu?! Porquê, eu? Eu sou o que está mais abalado por ter visto o corpo daquela forma!
- Ou assim o queres fazer parecer. Pensem bem, foi ele quem encontrou o corpo depois de ter desaparecido durante um bom bocado. Quem nos diz a nós que não foi ele mesmo que o matou para depois o "encontrar" fingindo-se aterrorizado e safando-se por ser o coitado angustiado? – fundamentou Repórter que era bom em argumentar.
- E o Barão? – defendeu-se Jogador vendo que todos o encaravam – Ele é o suspeito mais óbvio. Assim que se falou em polícia ele descartou logo a hipótese de os chamar.
- Meu rapaz aconselho-te a ter cuidado e tento nessa língua antes que a percas. E que assim que este disparate acabe vás marcar uma consulta num médico ou coisa parecida por causa dos teus delírios.
- Olhem só a ameaça que ele me fez agora mesmo! – apontou Jogador ainda mais assustado.
- Se quiseres eu posso examinar-te. – ofereceu-se logo Cientista pronta a desenrolar mais um dos seus estudos sobre seres humanos.
- Se eu fosse a ti tinha cuidado com esta...
- O que é que isso quer dizer? – perguntou Cientista ultrajada com tal implicação.
- Ainda lhe abres o crânio ao meio enquanto está vivo só para o estudar.
- Mas que disparate!
A discussão cheia de acusações continuou sem abrandar. Todos pareciam ter um motivo para matar o pobre coitado do morto. E nenhum deles parecia mais suspeito que o outro.
- E a Aniversariante? A casa é dela. Poderia muito bem ter utilizado uma passagem secreta de que não estamos cientes e cometido o crime sem que ninguém se apercebesse. – supôs Repórter sempre no trilho do mistério.
- Isso é especulação a mais. – acusou Empresária.
- E tu? Poderias muito bem ser tu. Estou bem ciente que és a única de nós que pratica caça e artes marciais. Terias a técnica e perícia suficiente de o matar sem deixar rasto e safavas-te sem problemas.
- Isso é um meio e não um motivo.
- A caça dá um motivo. Matar por diversão! - exclamou.
- Se é assim tão bem informado caro Repórter, saberia que durante as minhas caçadas eu apenas faço a parte da perseguição.
- Por falar na Aniversariante... - atreveu-se Cantora a interromper – Onde é que ela está? É que ela desapareceu há já um bocado...
- A Senhora foi à cozinha. – respondeu Mordomo saindo do canto da sala onde observava a patética discussão dos convidados da festa. – Eu deverei assegurar-me se ela precisa de algo.
Saiu da sala deixando-os nos seus desvaneios e indo ter com a sua Senhora que se demorava.
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Ensaio De Um Jogo De Morte
RandomUma envolvente festa de aniversário. Todos os convidados têm certas peculiaridades. A festa vai bem até que um corpo surge. Ninguém entrou. Ninguém saiu. O culpado ainda está entre eles. Quem será o autor de tal atrocidade? Uma curta história inspir...