Chapter 3
As atrações estabelecidas. As tenções percebidas.
- Oh mas que beleza! – disse o Barão assim que entrou na sala.
- Obrigada, meu senhor. Esforcei-me bastante.
- Qual será o nome de tamanha beleza e graciosidade?
Ao perceber que o Barão não se referia ao espaço em que decorria a festa mas sim à mulher que se alojava no canto do sofá sem transmitir expressão alguma, notou que este se deslumbrara por ela e se preparava para fazer o seu ataque. O mais recente convidado encarou a anfitriã como se esperasse a resposta à sua pergunta antes proferida.
- O nome da mulher que tanto admira é Empresária. Ela é uma das minhas convidadas, por isso peço que não a aborreça.
- Eu aborrece-la? Deixe-se de disparates. Vê-se que ainda é uma moça jovem se pensa que alguém do meu calibre e estatuto é visto como empecilho para alguém!
A Aniversariante assentiu sem pedir desculpas, pois por mais que não quisesse faltar ao respeito do velho barão, amigo de longa data da sua família, não podia discordar mais da sua opinião e tinha a certeza que o homem faria a Empresária passar um mau bocado. Como que a reforçar o seu pensamento, Barão fora sentar-se perto da empresária.
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A noite fora avançando, da mesa já desaparecera alguma da comida e nos sofás jazia uma discussão.
- Tu fizeste batota! Assim que entraste por aquela porta percebi que não eras boa rês! – acusou a cantora de copo na mão.
- Eu batoteiro? Nem em sonhos! Como é que tu me podes ter visto a entrar pela porta se eu cheguei a esta casa muito antes do que tu? – ripostou o ator já a ficar vermelho de raiva daquela meia leca que não se calava e fedia a álcool.
- O que eu quis dizer foi assim que te vi, também não percebes nada! Para além de batoteiro agora é burro!
- Burro? Burro? Agora foste longe de mais! Mas quem é que tu pensas que és para insultares assim uma pessoa?
- Tu não sabes quem eu sou? Eu sou a mais famosa sensação da atualidade, a Cantora Cantigas! E tu um ator de meia tigela que pensa que tem milhões de fãs não é nada comparado comigo!
- Olha o que é que tu...
- Cantora! Ator! Calem-se os dois! Isto é uma festa e não uma reunião de família disfuncional! Ou qualquer uma outra! Aturem-se ou saiam!
O repórter, sempre muito atento anotava cada palavra dita e o seu locutor. A certa altura, Cantora levantou-se tentou andar até à mesa de comes e bebes, mas caiu no percurso, aterrando nos braços do atraente e calado mordomo da casa. Talvez esse até fosse o plano visto que, desde que entrara na casa algumas horas mais cedo, tinha posto os olhos naquele rapaz tão atraente e sofredor e pensara em fazê-lo seu, mas de todas as tentativas ele parecia nem sequer reparar na sua existência.
- Talvez fosse melhor sentar-se, senhora.
- Oh, meu cavaleiro andante! Bem apanhado. – comentou enquanto uma das mãos apalpava o seu bíceps, a outra deslizava em seu peito e a sua cara era uma autentica expressão de vorazes pensamentos pervertidos. – Que tal se tu e eu saíssemos daqui e nos fossemos divertir, só nós os dois, num local em que as paredes sejam isoladas?
- Acho que a senhora bebeu demais. Será melhor que beba água e descanse até que a sua lucidez volte.
- Eu estou perfeitamente lucida!
- Mordomo, coloca-a ali no sofá e vai buscar um copo com água e uma aspirina para esta tola. – entreviu Aniversariante.
- Sim, minha Senhora.
- Não, não te vás embora. Fica aqui comigo. – disse arrastando a fala. Ao ver que Mordomo se afastava virou-se para Aniversariante que se sentara a seu lado. – Sua ciumenta! Não aguentas que ele olhe para outra mulher que te metes logo no meio! Se o queres assim tanto porque é que não o fazes teu? É que é obvio o que tu...
- Já chega! – interrompeu-a. Mordomo chegou com um copo e uma saqueta contendo o medicamento. Aniversariante recompôs-se e saiu da divisão depois de ordenar – Trata dela.
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- Então e o que é que tu tanto escreves? Sabes tu até que és bem girinho... - disse Cantora depois de tomar o remédio, sentando-se ao lado do repórter que não perdia palavra ou ação.
Mordomo saiu da sala e dirigiu-se para a cozinha. Encontrou Aniversariante sentada num dos bancos em frente à bancada. Não fez qualquer tipo de movimento, como se ela ali não estivesse, e continuou até ao lava-loiças, onde lavou e secou o copo utilizado pela problemática convidada da sua Senhora. Sentiu-a aproximar-se. Enrijeceu os músculos.
- Como é que ela está?
- A recuperar.
Silêncio.
- Estás bem?
- Não deveria preocupar-se comigo Senhora. Sou um mero servidor da casa.
- Não me trates por Senhora.
- Não devo trata-la por nada mais que Senhora.
A cozinha era pouco movimentada, ninguém iria entrar. Outro passo da parte dela. Agora hirto, o suor frio descia-lhe pelas costas a baixo. Ela esticou a mão quase lhe tocando. Mais proximidade e ambos estariam em perigo.
- Senhora. – sussurrou quase sem ar.
Ela apercebeu-se do que fazia. Deixou a mão cair e afastou-se.
- Os convidados esperam-me. – desapareceu sem olhar para trás.
Ele soltou o ar como se estivesse a reter a respiração. Esta fora por pouco. Quase perdera o controlo. A sua falsa postura estava perto de ser descoberta. Tinha de se lembrar constantemente da sua posição. E da posição dela. Ele era apenas um mero servente da casa. E assim devia continuar. Nenhum envolvimento deveria haver entre ele e a Senhora. Mas ela parecia nutrir igualmente sentimentos por ele, o que dificultava bastante o seu trabalho de a afastar. De alguma forma deveria ser forte e aguentar, para o bem dos dois, deveria continuar a nega-la.
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Ensaio De Um Jogo De Morte
CasualeUma envolvente festa de aniversário. Todos os convidados têm certas peculiaridades. A festa vai bem até que um corpo surge. Ninguém entrou. Ninguém saiu. O culpado ainda está entre eles. Quem será o autor de tal atrocidade? Uma curta história inspir...