● PRÓLOGO ●

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As primeiras gotas de chuva já começavam a cair, e a noite não demoraria para chegar. Eu estava com muito medo, não da noite, mas sim do que poderia acontecer comigo e com Jungkook se nos encontrarem.

— Vai ficar tudo bem Lily, eu irei proteger você. — disse meu querido Jungkook sorrindo e apertando forte minha mão. Retribui seu sorriso e tentei não pensar mais naquilo, pois sabia que isso era a mais pura verdade.

Caminhamos por mais alguns minutos até Jungkook parar em frente a uma enorme árvore, ele soltou minha mão e colocou sua mochila no chão, caminhou um pouco até estar de frente para aquela árvore. Se abaixou, pegou o que parecia ser uma pedra pontuda e começou a riscar a mesma. Tentei espiar por entre seus ombros, mas na distância em que eu estava não dava para ver nada.

— Pronto, terminei. — disse ele se virando. Nossos olhares se encontraram, então percebi o quanto seus olhos estavam brilhantes, ele estava sorrindo para mim, daquele jeito encantador de sempre. Eu mal havia percebido o quanto estava corada e com o coração acelerado até ele me despertar de meu devaneio. — Feche os olhos. — pediu docemente.

— Porque? — perguntei arqueando uma sobrancelha.

— Não seja tão curiosa. — ele se aproximou, pegou minhas mãos e beijou cada uma delas. — Apenas feche os olhos por favor. — sorrindo o obedeci.

Enlaçando sua mão na minha, ele me guiou até onde desejava. Logo uma garoa fina começava á cair sobre nós, e ao longe se ouvia uma abafada trovoada.

— Pode abrir. — ele sussurrou em meu ouvido esquerdo, o que me fez arrepiar.

Ao abrir os olhos me deparei com a coisa mais linda que já vi, Jungkook havia escrito nossas iniciais no tronco da árvore, dentro de um coração, um pouco torto mas isso não importava. Estava simplesmente lindo. Adorável.

— Gostou? — disse Jungkook encabulado e coçando a parte de trás da cabeça.

— E e J. Emília e Jungkook. — falei quase que num sussurrando. Meus olhos estavam marejados, e quando comecei a chorar, as lágrimas começaram a se misturar com as gotas já intensas da chuva. Jungkook me abraçou carinhosamente.

— Tá tudo bem Lily? — disse pegando em meu rosto e olhando fixamente meus olhos. — Não gostou? — acariciou minhas bochechas preocupado.

Em um súbito, eu ergui meus pés e colei nossos lábios. Eu estava receosa quanto a isso, pois nunca havia beijado ninguém, até porque, o espelho de minha penteadeira não contava. Ele não me afastou, e eu rezava para que não fizesse isso, eu queria poder me aprofundar nesse beijo, mas eu não sabia como continuar, só o toque de nossos lábios já fazia meu coração quase saltar do peito. Os lábios dele estavam gelados e macios, foi uma experiência maravilhosa. Essa sensação recíproca foi indescritível. Parecia um sonho tudo isso.

— Eu adorei. — falei me desvencilhando dele e fitando aquela linda obra de arte. Contornei a escrita com meus dedos gélidos e molhados.

— Ali estão eles. — ouvimos uma voz aguda gritar por entre as árvores logo atrás de nós.

De forma apressada Jungkook pegou sua mochila, e juntos - de mãos dadas - corremos por entre as árvores. Nesse momento a chuva já havia se intensificado dando início á uma assustadora tempestade. Corríamos sem destino e sem direção, apenas para fugir, não poderíamos ser pegos agora. Mas também sabíamos que duas crianças sozinhas em uma floresta não ficariam desaparecidas por muito tempo, estávamos cientes de que as coisas não ficariam boas de agora em diante.

Meu coração se acelerava cada vez mais, era muita adrenalina e medo acumulado. Se nos pegassem, meu pai me puniria. Ele nunca iria aceitar uma atitude dessas de sua única filha. E eu estava com tanto medo, pois havia fugido de casa para me encontrar com Jungkook, e juntos decidimos ir para bem longe, pois meu pai não aceitava nosso relacionamento, nos julgava jovens demais para namorar e também por nossa diferença social, a família de Jungkook era humilde e meu pai tem muito preconceito com isso, ele me pediu para me afastar dele, e eu nunca faria isso, jamais. E fugir foi a única solução que achamos para ficarmos juntos. Íamos para qualquer lugar onde talvez, duas crianças de 10 e 11 anos possam ser felizes, mas esse sonho acabara de ficar tão distante.

— Ai. — gritei após tropeçar em um tronco de árvore e cair no chão lamacento. Comecei a chorar intensamente enquanto Jungkook tentava me levantar, mas infelizmente acabamos caindo juntos.

— Achavam mesmo que conseguiriam fugir? — disse ofegante um homem careca de olhos negros e sombrios. Imediatamente Jungkook me apertou em seus braços.

— Deixe-nos em paz. — gritou Jungkook. Logo apareceram mais dois homens, um era barrigudo e estava enxarcado, eu o conhecia, era Hyun, tio do Jungkook, um homem violento que o maltratava. E o outro homem, era o que eu mais temia ver, meu pai debaixo de um enorme guarda-chuva.

— Que vergonha Emília. — abaixei a cabeça, meus soluços já estavam bem audíveis naquela tempestade feroz. Jungkook e eu estávamos tremendo de frio, mas nós nos mantiamos aquecidos abraçados. — Essa vai ser a primeira e a última vez que isso acontece, ouviu bem? Porque você nunca mais irá voltar a ver esse moleque imundo.

— O senhor não tem o direito de fazer isso. — gritou Jungkook se pondo na frente de meu pai.

— Cala a boca garoto idiota. Em casa ele terá o que merece senhor. — falou Hyun puxando Jungkook pelo braço. O garoto gritava para que o tio soltasse seu braço, mas era em vão.

— Eu o amo papai. — levantei e corri para abraçar Jungkook.

— Você é apenas uma criança, mal saiu das fraldas, acha mesmo que sabe o que é isso? — respondeu meu pai rispidamente. — Você deveria ter se afastado desse moleque maltrapilho quando eu lhe pedi. Seu maior erro foi ter me desobedecido sua insolente. Vou manda-la para bem longe dessa gente. Uma filha minha jamais se unirá á pessoas desse tipo, ouviu bem? Jamais.

— Eu te odeio. — disse quase num rosnado.

Enquanto meu pai dava ordens para que seu capanga me pegasse, Jungkook pegou minha mão e colocou algo na palma da mesma e apertou com sua mão.

— Isso irá nos manter sempre juntos. — disse ele antes de ser puxado pelo tio. — Eu amo você. — balbuciou sorrindo, antes de ser praticamente arrastado pelo tio.

O homem careca me puxou pelos braços com força, me machucando, mas meu pai não se importava com isso. Caminhamos em silêncio. Ouvia-se apenas as gotas da tempestade caindo sobre nós. Eu ainda tremia muito por estar molhada e com frio, após ser jogada para dentro do carro, abri a palma da mão e vi o que Jungkook havia me deixado, era o cordão com uma pedra esmeralda enrolada que havia ganhado de seu avô, antes dele falecer, era o que Jungkook tinha de mais valioso, e sua única lembrança do avô, e ele havia dado pra mim. As lágrimas começaram a cair novamente sobre minha face. Fechei a palma da mão com força e prometi guarda-lo para algum dia poder devolver para o meu grande amor.

Eu nunca irei esquece-lo Jeon Jungkook.

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