Capítulo 3

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Ouvi vozes ao meu redor, tentei abrir os olhos para ver quem eram, mas meus olhos pareciam não obedecer, eu estava zonza. Abri a boca para perguntar o que havia acontecido, mas o som de minhas palavras não saiam, então as vozes se tornaram altas e agressivas, pude entender parte do que diziam.

— Não posso deixa-la aqui e simplesmente ir embora como se nada tivesse acontecido. — um deles disse enquanto o outro respondia friamente.

— Irei me encarregar de que ela nunca saiba que foi você a pessoa que quase tirou a vida dela.

— Não foi minha intenção. Eu... Eu...

— Não interessa, tô pouco me fodendo pra você, ou para o que pensa. Quero você bem longe dela, entendeu? Vá embora e nos deixe em paz ela...

Nesse momento senti o sono me pegar, as vozes se tornaram zunidos, me fazendo esquecer tudo o que havia ouvido e acontecido, antes de adormecer consegui sussurrar:

Jeon...

Ao acordar senti uma dor latejante em minha cabeça, era insuportável. Falhei drasticamente na tentativa de me sentar. Pois cada movimento eram como marteladas na cabeça, logo uma pequena dor se instalava em minha costela. Meus olhos estavam desfocados e embaçados, o máximo que conseguia ver era a cor branca da colcha que me cobria.

— Bom dia senhorita, trouxe seus remédios, e seu café da manhã. — disse uma voz feminina após adentrar o ambiente. Ela me ajudou a sentar direito e me explicou os detalhes de meu estado caótico.

Em questão de segundos os remédios começavam a fazer efeito, fazendo com que eu me lembrasse detalhadamente o que havia ocorrido na noite anterior. E alguns flashbacks de conversas vinham em minha mente, mas eu não entendia nenhuma palavra dita, eram como fitas recaptuladas e enroladas.

— Moça, poderia me dizer quem me trouxe até aqui? — falei enquanto bebericava meu café, que infelizmente estava com leite, então o deixei de lado.

— Desculpa senhorita, não tenho essa informação. — ela disse enquanto verificava meu soro antes de se retirar. Logo em seguida vejo Harry entrar.

Minha mente estava um turbilhão, eu tinha total certeza de que era ele, eu não poderia estar enganada, aqueles olhos puxados eu reconheceria em qualquer lugar. Mas porque ele não está aqui? Será que estava com medo pelo que havia feito? Eu nunca o culparia pelo acidente, eu era a errada, por estar no meio da rua altas horas da noite.

— Que bom que acordou meu amor. — Harry disse após um beijo casto em minha testa. — Como se sente? — ele se sentou em uma cadeira que estava ao meu lado.

— Um pouco dolorida, mas bem. Os remédios que a enfermeira me trouxe aliviaram minha dor de cabeça em instantes. — falei mordiscando uma torrada com geleia, a verdade é que eu não estava com nenhum pouco de fome.

— Que susto você nos deu hein mocinha?

Harry estava com um semblante cansado, obviamente havia passado a noite em claras, aqui ao meu lado. Eu me sentia culpada por estragar sua noite dessa maneira.

— Desculpa. — foi a única coisa que consegui dizer antes que as lágrimas começassem a rolar.

—  Tá tudo bem meu amor. — ele sentou do meu lado na cama e limpou as lágrimas em meu rosto. — Você está aqui, sã e salva, é isso que importa.  — ele depositou um breve beijo em cima da minha mão. Sorri com esse gesto. Harry era um verdadeiro cavalheiro.

— Você sabe quem me trouxe ao hospital?

Ele enrubeceu após minha pergunta, Harry disse que o rapaz havia me deixado em frente ao hospital e fugido logo em seguida. Ninguém sabia quem era, muito menos se era o responsável pelo acontecido. Achei essa história toda inacreditável, pois se era mesmo o Jungkook, porque ele teria feito isso? Me deixado e ido embora. Eu não acreditava que ele pudesse ser tão covarde, por ter simplesmente fugido. Eu estava incrédula.

— Você tem certeza disso Harry? — Harry já estava de saco cheio com essas perguntas, pois eu percebia seu incômodo toda vez em que eu lhe perguntava sobre isso.

— Absoluta amor. Agora termine seu café da manhã. — ele olhou na minha bandeja e percebeu o café com leite, então se retirou para me trazer um café puro. Seu celular tocou antes mesmo de ele abrir a porta, e antes de atender ele deu um sorriso amarelo e saiu.

Minha mente vagava em algumas lembranças de minha infância, eu balançava a cabeça para que talvez elas fossem embora, então novamente aqueles flashbacks de vozes inaudíveis vinham em minha mente. Eu tinha impressão de que conhecia aquelas vozes, mas não conseguia recordar, além de pensar em Jungkook. Fiquei frustrada com meu fracasso de entender aquilo tudo. Enquanto eu continuava a forçar minha mente para lembrar, a porta de meu quarto se abriu.

Harry foi rápido em trazer meu café.

Mas não era Harry, e sim Joseph Clarke.

— O que você está fazendo aqui? — falei irritada. Ele era a última pessoa que eu queria que viesse até aqui.

— Queria saber como você está, fiquei preocupado. — não nego que gargalhei com seu comentário. Queria esbofetea-lo e chuta-lo do meu quarto, eu não queria ele aqui.

— Me poupe dessa falsidade toda sr. Joseph Clarke. Você nunca se preocupou comigo, porque isso agora? O que você está querendo? Eu te disse várias vezes que o odeio e não quero te ver, então some daqui. Ouviu bem? Saia. — comecei a gritar e ficar ainda mais exaltada, logo Harry chegara. Ele deixou o café em uma mesa próxima e implorou para que Joseph se retirasse.

— Me perdoe por não ter sido o pai que você necessitava ter minha filha. — ele começou a chorar, se eu não o conhecesse tão bem, teria me comovido com essa sua ceninha, mas vindo dele, nada me comovia.

— Você não merece meu perdão. Eu te odeio. Te odeio com todas as minhas forças. — falei em um rosnado, logo as lágrimas começaram á rolar e uma dor insuportável na minha costela se instalava por conta da forma brusca que me mexia na cama.

— Acho melhor você ir sr. Clarke. Te mando notícias, não se preocupe. — disse Harry cordialmente.

Logo aquele homem já havia ido, mas a raiva em mim havia crescido. Eu o odiava tanto. Como ele pôde vir aqui, derramar falsas lágrimas e ainda dizer que se preocupava comigo? Como? Isso mostra o quão monstro ele é.

— Não deveria falar assim com seu pai Emília. — Harry disse após entregar meu café. — Ele é seu pai, tem todo o direito de estar preocupado com você.

— Você ainda o apoia? Depois de tudo que ele fez comigo você acha mesmo que irei me sensibilizar com algumas gotas de lágrimas que caiam daqueles olhos falsos? Você mais que ninguém deveria estar do meu lado Harry. — bufei irritada.

— Eu não estou do lado de ninguém. Eu só acho que você deveria dar uma chance a ele. Ele mudou bastante, mas você é a única que não enxerga. Que não QUER enxergar na verdade.

Engoli as palavras que eu queria dizer, pois já estava irritada o suficiente para ignorar tudo o que Harry havia dito, além de eu não querer uma briga com ele agora. Então comecei a tomar o meu café e comer um pouco até o médico chegar e me dar alta. Preciso ficar sozinha no meu apartamento, sem ninguém.

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