A manhã passou num piscar de olhos, sem que eu me desse conta. Acabei almoçando sozinha hoje, pois Harry tinha compromisso com seus companheiros de trabalho, ele havia me convidado para acompanhá-lo, mas recusei. Sei o quanto isso é demorado e tediante, além de eu odiar os colegas de trabalho dele. São todos muito arrogantes e gananciosos. Isso me enoja. A forma como eles vêem as coisas no mundo são completamente absurdas e toscas, se acham superiores aos menos favorecidos. Se acham donos do universo só porque são ricos. Bando de idiotas engravatados.
— Precisa de ajuda senhorita Clarke? — perguntou Lucrécia, o que me assustou e quase me fez cair da cadeira onde eu estava em pé.
— Não não Lucrécia, dou conta disso sozinha. Obrigada. — falei descendo da cadeira e colocando os livros que estavam em minhas mãos na mesa á minha frente. — Tire o resto do dia de folga — era nítido o quanto ela estava grata com isso, Harry deixa a coitada muito sobrecarregada em casa, achando mil e uma coisas pra ela fazer, fico irritada com essa atitude dele, então todas as vezes que ele sai, eu a dispenso para passar mais tempo com seus filhos. Ela merece.
Depois de limpar todas as estantes de meus livros, e os próprios, guardei cada um em seu devido lugar. Todos muito bem organizados e separados por gêneros e cores. Eu já havia lido mais da metade deles, e os que faltavam para ler, eu deixava em uma prateleira separada, um lugar pequeno, pois haviam poucos para ler. Meu sonho sempre foi ter uma biblioteca, desde criança. Assim que sai do colégio interno, morei um tempo com minha tia Angelina até ter idade suficiente para administrar minha parte da herança que minha mãe havia deixado para mim. Pouco tempo depois comprei meu apartamento, foi uma das minhas melhores conquistas. Consegui ter minha adorada biblioteca. Todas as vezes que estou triste, ou muito desanimada, é pra lá que corro. Passo quase a maior parte do meu tempo lendo, escrevendo ou arrumando minhas prateleiras. Harry diz que tenho que me socializar mais com o mundo real, mas a verdade é que isso me apavora um pouco. Pois as pessoas se preocupam demais com status e poder, querem sempre estar acima dos outros, é decepcionante.
Logo após organizar minha biblioteca, tomei um banho relaxante e demorado. Harry havia me ligado para dizer que não dormiria aqui hoje, eu teria o apartamento todo para mim, e o que parecia ser bom, se tornou tão solitário. Harry e eu namoramos á 3 anos, e ele mora comigo á 2, ou seja, eu acabei me acostumando com sua presença, são raras as vezes em que ele não dorme aqui, quando isso acontece é por causa de alguma briga nossa, ou quando seus pais vem visitá-lo, mas Anne havia me ligado semana passada para avisar que estariam de férias em Paris, e que não tinham previsão para voltar. Pensei em ligar novamente para ele e perguntar o motivo, mas desisti no mesmo instante.
Confiança Clarke. Confiança.
Eram apenas 20hr da noite, e eu já estava totalmente entediada. Tentei assistir á um filme, mas não gostei da história, então preparei uma xícara de café e fui me aconchegar na poltrona em minha biblioteca. Antes de pegar o livro que estava em cima da mesa, lembrei de algo que eu havia guardado na gaveta da minha escrivaninha. A minha melhor lembrança dele. Apesar de ter se passado tantos anos, eu não o havia esquecido, todos os dias eu pensava nele, em como ele está, se ainda vive na mesma cidade na Coréia, ou até mesmo se ainda está vivo, pois a última informação que tive sobre ele, era de seu namoro com uma moça chamada Younha, não sei explicar o que senti naquele momento, mas estava feliz por ele, por seguir em frente. Talvez ele já tenha me esquecido. Tantos anos, era normal que ele tivesse encontrado alguém, afinal eu também segui em frente, Harry tem feito o seu melhor pra sempre me agradar, e me fazer feliz, valorizo isso.
As horas se passavam lentamente, às 23hrs eu já estava com o corpo cheio de cafeína, e sem sono. Fechei o livro que estava lendo e decidi sair, fazer uma caminhada. Esse era o melhor horário da noite para sair de casa, tudo estava calmo, e agradável. Andei sem pressa, e sem destino. Mas quando me dei conta, já estava longe demais do meu prédio. Aos poucos meu coração começou a se acelerar, minha respiração fraquejava, eu estava completamente perdida. Nunca havia ido tão longe assim. Me odiei pelo fato de não trazer o celular, se não eu poderia abrir o GPS, ou até mesmo ligar para Harry.
— Droga! — falei quando senti as primeiras gotas de chuva em minha face. Eu deveria ter percebido o céu sem estrelas, as nuvens ainda mais cinzentas, os pequenos relâmpagos, mas não, eu havia deixado esses detalhes de lado. Eu queria apenas sentir um pouco de ar fresco fora de casa, e aproveitar as ruas desertas. — O que eu faço agora? — o desespero tomava conta de mim. Comecei á correr enquanto a chuva se intensificava. As lágrimas caiam e se misturavam com as gotas gélidas da chuva. E em fração de segundos eu estava no meio da rua, e a única coisa que eu via era uma luz forte que me cegava. Só senti algo batendo com força contra meu corpo me arremessando para longe. Ouvi alguém gritar, mas eu estava atordoada demais para entender o que dizia, minha cabeça e minha costela doíam muito, eu não conseguia me mexer. Tudo estava rodando, além da dor insuportável. Fechei os olhos.
— Meu Deus, o que foi que eu fiz. — ouvi uma voz masculina lamentar. Abri os olhos e de forma desfocada vi o rapaz se aproximar. Ele estava ligando para a emergência, foi a única coisa que consegui ouvir antes de tentar erguer um braço para então toca-lo, eu precisava dele, de sua ajuda. Ele pegou minha mão, e sussurrou um pedido de desculpas. Antes de perder a consciência consegui reconhecer ele. Sorri de mal jeito e quase num sussurro falei:
— Senti tanto a sua falta Jung... — perdi a consciência.

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YOU
FanfictionEmília Clarke era uma adorável criança, filha de pais ricos apaixonou-se por um pobre garoto chamado Jeon Jungkook, mas por obra do destino ambos foram separados de forma violenta pelo pai de Emília. A garota cresceu odiando seu pai, mas nunca esque...