Third Chapter - Selfish.

199 49 63
                                    


[...] - Porque do outro lado quem tem poder sobre você sou eu.

Sempre gostei do conceito de ceifador nos mitos criados pela humanidade, onde éramos colocados como seres frios e poderosos, quando a única coisa que fazíamos era acompanhar almas, a verdade é que nunca fomos nada demais.

Não tinha realmente nenhum poder do outro lado, era apenas um acompanhante.
Sinceramente, me pergunto se há ser com menos propósito do que nós, ceifadores, cuja a única coisa que fazemos é conduzir. Como algum tipo de máquina de grandes produções, somos utilizados para uma única função, em uma única etapa da produção até o resultado final.

Não tinha poder algum sobre Jeon, nem nessa e nem em outra vida, não realmente, porém fazer ele acreditar nisso já era o suficiente para impor um pouco de respeito.

Agora faziam três dias desde essa conversa, cada humano costuma ter uma reação diferente após uma tentativa de suicidio falha. A de Jeon foi se recolher em seu quarto dormir e chorar baixinho.

O que eu estava fazendo? Seguindo as ordens de Namjoon, cuidando do mesmo, embora não houvesse muito o que fazer além de me esforçar para dar comida e banho diariamente a ele no pouco tempo em que ele não estava dormindo.

Ainda estava inerte, embora o corpo se movesse e as vezes respondesse algumas perguntas era como se ele ainda estivesse dormindo, como um sonâmbulo, me pergunto como seria quando ele se desse conta do que realmente estava acontecendo. Realmente gostaria de acreditar que tinha aceitado minha existência tão facilmente, mas esperar isso seria muita inocência de minha parte, ainda mais com uma explicação tão simples.

Assim que acabei as tarefas diárias, subi as escadas, indo ao topo do prédio, faziam algumas horas que estava lá.

Madrugada gelada, céus abertos, estranhamente estrelado para um lugar no centro de Seoul onde a poluição costumava impedir que víssemos tantas. Nos dias em que tive que observar Jeon costumava ir até o terraço enquanto ele dormia, já que não poderia me afastar muito, acabei descobrindo que a vista de lá era privilegiada, mas os moradores estavam sempre ocupados, apressados demais para soltar a respiração por alguns segundos e parar para ver o céu no terraço do próprio prédio.

Me encostei na grade que impedia que meu corpo corresse o risco de cair, inclinando a cabeça para frente, encarando os metros de distância a que estava do chão, a altura me deixava exposto ao vento cortante da temporada de inverno, fazendo meu corpo tremer e os fios de meu cabelo insistirem em atrapalhar minha visão.

Fechei os olhos, respirando fundo, apesar do frio eu apreciava o vento gelado, permitia que meu corpo relaxasse mesmo que pouco.

Tinha tantas coisas em minha cabeça naquele momento, um misto de sentimentos que não deveria ter, sentia meu corpo pesado, algo estava me deixando nervoso, inquieto, sem saber como acabar com aquela sensação. Eu estava uma bagunça.

Salvar Jeon me fez começar a pensar em algumas coisas que ouvi e vi no passado, eu já havia acompanhado algumas almas que tinham tirado a própria vida, porém como era inexperiente as poucas pessoas que vi fazerem isso eram em sua maioria mais velhos, que já tinham vivido o suficiente, ao menos eles acreditavam que sim, que já tinham passado por coisas o bastante.

A primeira alma suicida que precisei acompanhar pertencia a um senhor que possuía por volta de setenta anos de idade, seu destino era o limbo, pois embora não tivesse obras boas o suficiente para conhecer o paraíso, também não tinha pecados o suficiente para ser condenado as chamas pela eternidade.

Quando seres humanos morrem, sua vida passa diante de seus olhos durante a viagem até seu destino final, uma vida longa lhe dará algumas horas para assistir, a viagem demora mais, se a vida é curta, será mais rapido.

Blue side | JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora