38.

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Luísa encontrava-se sozinha no quarto que partilhava com Pedro Martelo. Ela tinha acabado de tomar banho e encontrava-se, agora, em frente ao enorme espelho que existia naquela divisão. A sobrevivente olhava a sua cova no seu tronco. Olhava a cicatriz que a atormentava. Todos os dias lembrava-se da sua luta. Lembrava-se de como quase esteve a desistir.
Luísa fechou os olhos por uns breves momentos.

— Ele nunca te aceitaria desta maneira. Veria apenas um buraco no teu corpo e ele fugiria de ti. – Luísa diz baixinho para si mesma, referindo-se a Francisco

Ela passa a mão pela sua cicatriz, em silêncio.

— Luísa, estava a pensar que hoje... – ouve-se a voz de Pedro Martelo assim que a porta é aberta, mas o mesmo para de falar quando vê Luísa como ela mesma era – oh... Oh Deus...

A rapariga pegou na toalha e tapou o seu corpo, atrapalhada.

— Sai daqui, Pedro... – ela pede – eu não quero que me vejas assim.

Pedro caminha em silêncio até Luísa.

— O que tem? – ele pergunta e olha-a através do espelho – continuas a ser um ser humano normal
— Eu deixei de ser normal a partir do momento em que fiquei sem um peito

Pedro retirou a toalha do corpo de Luísa, abraçando o mesmo com delicadeza.

— Tu és normal, Luísa. Tens sangue, tens ossos, tens órgãos. Tens o essencial para sobreviveres. As tuas mamas são apenas algo para distinguir o género feminino do género masculino. Não és menos do que ninguém por te faltar uma mama. Isso só mostra que tiveste as tuas lutas – os dedos delicados do jogador começaram a passear pela zona da cicatriz – és perfeita, Luísa. Mesmo quando dizes que não és. Mesmo quando colocas todos os defeitos em ti. Mesmo quando dizes que tens todas as imperfeições do mundo em ti – ele deitou o seu queixo no cimo da cabeça da rapariga, com cuidado – devias amar-te e aceitar-te tal e qual como és. Como é que esperas amar alguém e apaixonar-te sem nem consegues fazer isso contigo própria?

E, com aquelas palavras do jogador do Deportivo, Luísa abraçou Pedro, num abraço que ela nunca na vida queria soltar.

Music Sounds Better With You || Francisco Moura || COMPLETAOnde histórias criam vida. Descubra agora