Parte I
Capítulo 1
- Já nasceu! É uma menina! É a minha princesinha! - conta o meu pai, que todos os anos durante o jantar do meu aniversário, relata a história do meu nascimento - saí a gritar pelo hospital fora. As pessoas deviam achar que eu era maluco, mas acho que foi o dia em que estive mais contente. E tinha razão foste a melhor coisa que já me aconteceu. A tua mãe é que já não pode dizer o mesmo...
- É claro que me orgulho da minha Dianinha. O que não me orgulho é dos quilos que ganhei graças à gravidez. Fiquei cheia de estrias e ainda as tenho! Isto sim, é que é um ultraje.
Hoje é 21 de Julho e comemora-se o meu décimo sexto aniversário. Encontrámo-nos em casa a jantar, todos sentados numa mesa com vinte convidados. Vivemos no que chamam casarão, apesar de não o considerar como tal. Dá bem para eu e os meus pais vivermos. O local que acho mais magnífico é jardim, sem dúvida. Quando era nova, lembro-me dos bons momentos que passei no jardim com o meu pai. Andava de baloiço, corria atrás das borboletas e apanhávamos flores, que todas as semanas púnhamos na jarra da entrada. Agora a minha mãe acha que sou demasiado crescida para brincar às fadinhas do jardim. Mas ela não sabe o quão divertido era. No restante da casa são as divisões normais: o meu quarto, o dos meus pais e ainda outro para convidados, três casas de banho, uma cozinha, uma sala, o escritório do meu pai e ainda uma sala de dança. Eu sei que nem toda a gente se pode gabar de ter uma sala para dançar, mas descobri muito nova a minha paixão pela dança e o meu pai decidiu que deveria ter um espaço para tal. Quem não achou muita piada à coisa foi a minha mãe, que viu serem-lhe retirado o seu armário. Agora tem dois armários no quarto só para ela e o que não cabe, guarda na casa dos seus pais.
Veio toda a gente à festa. A avó, o avô, a minha tia Guilhermina, o primo Filipe, as minhas miúdas: a Teresa, a Sara, a Beatriz e as gémeas Maria e Ana ou como nos tratamos "As loiraças de olhos azuis", mais os meus pais e ainda uns amigos lá do tribunal do meu pai.
Como eu detesto estes jantares. Tirando as minhas amigas e o meu pai, não tenho mais ninguém com quem falar. O meu primo está agora a entrar na adolescência e só fala da playstation e de futebol. Quando olho para ele, dou graças a Deus por não ter nascido rapaz. Não é que ele não seja bonito, para um miúdo até o é. Acredito que as miúdas lá da sua escola já tenham o olho nele. E não é para me gabar, mas os Coutinho de Moura são conhecidos pelos seus belos cabelos loiros e os fascinantes olhos azuis. Mas o Filipe, bem, tem conversas muito pouco interessantes. Eu sei que ele também se sente um pouco deslocado nestes jantares, visto que o meu pai não se cala com a história do meu nascimento e os meus avós ouvem-no entusiasmados como se não soubessem o fim da história, a minha mãe não pára de se queixar dos quilos que ganhou e a minha tia percebe-a perfeitamente, os amigos do meu pai só falam dos casos jurídicos que lhes calharam e nós, ou melhor elas, estão a decidir o que iríamos fazer.
- Di, ouviste alguma coisa? - pergunta-me a Maria.
- Hã, o quê? O que é que se passa?
- Lindo. Desde que nos sentámos não parámos de falar sobre o novo penteado ridículo da Andreia e tu não ouviste nada do que dissemos. - diz a Teresa, um pouco chateada comigo.
- Desculpem, estava a pensar num tema interessante para meter o Filipe na conversa, mas não está fácil.
- Porque é que não lhe perguntas se está a gostar do jantar? Eu cá acho que este bacalhau com natas está uma delícia. - comentou a Ana.
- Porque ele não aprecia muito peixe. Vê-se logo pela cara dele.
- Já sei! Conta-lhe uma piada. Os miúdos adoram. - opina a Bea.
- Sim, é uma boa ideia! E bem que isto precisa de ser animado. Não quero ouvir falar de hospitais nem de tribunais durante um bom tempo. - exprime a Sara.
- Ok! Ó Filipe, o que é que um nerd diz quando toma remédio?
- Não sei, o que dizes? - pergunta-me o Filipe.
Fiz de conta que nem percebi o que ele disse e dei-lhe logo à resposta à adivinha.
- As definições de vírus foram actualizadas.
Só sei que as pessoas de repente tinham-se calado e agora estão a rir histericamente com a que deve ser a maior seca que eu conheço.
De repente, aquele que parecia ser um jantar para esquecer transformou-se no jantar mais divertido de família de sempre. Quem diria que o avô, que é a pessoa mais abastada que eu conheço, também sabe se divertir.
O ponto alto da festa foi quando, depois de já estar a mesa toda limpa, obrigaram-me a dançar com as miúdas a música do momento: Whenever, Wherever da Shakira. A música ainda ia a meio, connosco a dançar praticamente num cantinho que arranjamos, quando a minha avó de repente se levanta da cadeira e começa a dançar em cima da mesa de jantar. Foi um momento bastante engraçado e descobri de quem herdei o meu talento.
VOCÊ ESTÁ LENDO
Uma Vida (Des)complicada
ChickLitEra uma vez a rapariga perfeita. Ela tinha tudo! Era rica, tinha uma família feliz e muitos amigos. De um dia para o outro perdeu tudo... Será que conseguirá sobreviver?