Capítulo 2

34 1 0
                                    

No dia seguinte levanto-me já é hora do almoço.

Após jantar tínhamos ido a uma discoteca. Como para o jantar fomos bastante apresentáveis nem sequer mudámos de roupa. O meu pai levou-nos na sua carrinha Peugeut de sete lugares. As gémeas foram atrás, no meio a Teresa, a Bea e a Sara e eu à frente com o meu pai. Estávamos todas com vestidos de cores diferentes: eu tinha um azul-marinho, a Teresa um rosa, a Bea um vermelho, a Sara um verde, a Ana um roxo e a Maria um preto. Também já andáramos durante o último mês a preparar as nossas vestes para este dia, mal seria se estivéssemos todas de igual.

Dançámos a noite inteira, mas pouco consumimos e também não tínhamos paciência para aturar rapazes desesperados que andavam em busca de conquistas.

É claro que hoje estou cansada e sem vontade de fazer alguma coisa que seja. Mas algo me levanta de sobressalto da cama. É um grito. Da minha mãe. Desço as escadas de rompante e …

- Não! Pai! O que aconteceu?

- Nada, não te preocupes. Eu estou bem. Foi só esta jarra que se partiu.

- Não foi só uma jarra, amor. Foi a jarra que a minha mãe me deu como prenda pelo nosso casamento. Já estava na família há três gerações.

- Mãe, isso agora não é importante. Ainda não viste que o pai não pára de sangrar.

- Hã, isso. Na semana passada chegaram os resultados daqueles exames que o teu pai fez, lembras-te?

- Sim, eu lembro-me. Foram aqueles de rotina que lhe obrigaram a fazer graças ao seu belíssimo estado.

O meu pai nos últimos meses tem vindo a perder peso e sente-se sempre cansado, então obriguei-o a ir ao médico. Andava estranho e já não tinha aquela alegria de viver. É verdade que estava numa boa fase da sua carreira e andava cheio de casos para julgar, mas ele sempre gostou de ser juiz e estava sempre entusiasmado quando lhe chegava um novo caso às suas mãos, pois era sinal de que estava a fazer um bom trabalho e que o seu esforço estava a ser reconhecido. Para mim estava-me a esconder algo, e agora, finalmente iria descobrir o que era.

- O teu pai tem leucemia.

- Como é que a mãe consegue disser isso com a maior das calmas. O pai tem uma doença que o pode levar… – já me saem lágrimas dos olhos e sento-me no sofá - …à morte – estas últimas palavras saíram quase como um suspiro, sendo quase impossível de percebê-las, mas ambos sabem ler os lábios muito bem então lá acabaram por perceber.

- A tua mãe não te quis contar nada para te proteger. Ontem foi o teu aniversário, filha. Dezasseis anos é uma idade magnífica, só queríamos ver-te feliz.

- Está bem, isso compreendo. Mas deviam-me ter dito. E já agora, pai é melhor ires ao médico que ainda não paraste de sangrar.

- Sim, mas…

- Nem mas, nem meio mas. Vais agora. IMEDIATAMENTE!

- Filha, não fales assim com o teu pai. Não foi essa a educação que te demos. Não vez que ele está a sofrer.

- Espere lá, agora já está preocupada. Ao bocado só estava preocupada com a jarra que era caríssima, que já estava à muito tempo na família, blá, blá, blá… A mãe sempre se preocupou apenas com o dinheiro e a sua aparência. E não me venha falar de educação que a mãe não esteve presente nos melhores momentos da minha infância e não acredito que algum dia tenha amado o pai. Apenas quis casar com ele pois tinha um promissor e assim a mãe podia gastar o dinheiro do seu pai e do seu marido, sem nunca precisar de trabalhar. A mãe é uma mimada e uma preguiçosa. Vaidosa e fútil, sabe? Fútil.

- Eu é que sou a mimada?! Quem está a fazer um filme sem necessidade é a menina.

- Um filme? Eu sou estou preocupada com o meu pai, sua falsa!

- DIANA SOFIA COUTINHO DE MOURA. Pára de tratar assim a tua mãe. Estou farto das vossas discussões. Vocês não se entendem. São mãe e filha.

- Querido, acalma-te. Pensa na tua saúde.

- Chega, estou farta disto tudo. Vou para o meu quarto. Fui.

Subi as escadas e os meus pais continuaram na sala. Enquanto lhes virava as costas, consegui ver uma lágrima a cantar do canto do olho do meu pai e um pequeno sorriso a sair do canto da boca da minha mãe. Sim, um sorriso. A prova de que precisava de que aquela a quem eu chamo mãe é uma pessoa malévola. Odeio-a, especialmente por ser uma boa actriz. A pessoa que o meu pai conheceu e se apaixonou nunca existiu. Foi tudo um teatro para conseguir ficar com o dinheiro do seu marido (uma maneira de se orgulhar de si própria por em vez de depender do seu pai, como fora na maior parte da sua vida, era, agora, dependente do seu marido, ou melhor, do dinheiro deste) e eu fui mais um esquema do seu próprio plano. Agora como ela soube que o meu pai iria morrer de doença, não sei. Só sei que não posso confiar nela e o meu pai não merecia esta vida.

Uma Vida (Des)complicadaOnde histórias criam vida. Descubra agora