Parte 2: Capítulo 1

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A minha mãe já arranjou um possível jardineiro. Convidou-o para jantar hoje à noite e é aí que o irei conhecer. Eu acho que ela está mais entusiasmada com o jantar do que o que devia. Esteve o dia todo a dar ordens à Glória para que a casa ficasse o mais limpo possível e comprou um vestido na Zara de propósito para a ocasião. O vestido é azul eléctrico, fica-lhe acima do joelho, simples, mas deslumbrante e com ele as suas curvas faziam-se notar, fazendo com que parecendo com que tivesse menos dez anos do que realmente tinha. Lá deve querer impressioná-lo, irónico, não? Também reparei que ao longo das semanas perdeu alguns quilos.

A mesa está verdadeiramente maravilhosa. Usou um jogo de mesa caríssimo e há uma jarra em cima da mesa com uma flor. Ainda bem que não há velas, senão aí é que já estava mesmo a exagerar.

Eu apenas vesti uma camisa floral e uns calções rosados, poucos acessórios e um pouco perfumada, ao contrário da minha mãe que tresanda a perfume. E eu nem pensava em mudar de roupa. Tive um dia cansativo e não tive muito tempo para me arranjar. Ainda por cima, só íamos conhecer a pessoa que possivelmente iríamos contratar para nosso jardineiro. Além do mais, que eu saiba, o jantar não é formal.

- Comporta-te, filha. Mas não te atires ao homem.

Fiquei parva quando ela me disse isto.

- Mãe, não estou com paciência para essas coisas. Estou é ansiosa por ir para a cama.

Alguém tocou à campainha do portão e a Glória abriu. Passado um pouco entrou pela sala dentro o nosso futuro jardineiro. Percebi logo pelo sorriso da minha mãe que ela não o queria apenas como jardineiro. Era estranho, pois ele era pouco mais velho do que eu. Mas era atraente, e não era pouco. Tinha os olhos verdes mais deslumbrantes que alguma vez vira. Tinha cabelos pretos e não sei porquê algo nele não batia certo. Ele era demasiado perfeito para ser verdade. Mas, ele não parecia ser rico. Não percebo o interesse tão grande da minha mãe por ele. Vinha bastante simples e descontraído. Nem parecia que vinha para um jantar de trabalho.

- Ainda bem que chegou. O jantar está quase pronto. Esta é a minha irmã, Diana. – Sem comentários e o pior é que ele ficou convencido. – Diana, este é o Diogo, o nosso jardineiro.

Apenas lhe dirigi o sorriso mais seco que consegui.

- O prazer é todo meu. Não me diga que sempre fiquei com o trabalho.

- Porquê??? Não me diga que achava que ainda não tinha ficado com ele. Este jantar é só para o conhecer melhor. Gosto de conhecer bem quem trabalha na minha casa.

Só não me lembro de termos feito uma coisa destas com a Glória (ou aos outros empregados), nem sequer um simples lanche.  Ela apenas cá veio, mostramos a casa e no dia seguinte estava-me a fazer o pequeno-almoço.

- Por acaso, achava.

- Então fique descansado. Pense em ser apenas o Diogo.

A minha mãe deu uma risada e ele sorriu. Eu não quero que o nosso novo jardineiro seja o meu novo pai. Já é estranho o suficiente a minha mãe dizer que é a minha irmã e andar-se a atirar à minha frente a um homem que é praticamente da minha idade.

Sentámo-nos na mesa de jantar perfeitamente decorada. A minha mãe ficou na borda, eu e o jardineiro frente-a-frente.

A Glória começou a servir as entradas. Notava-se que estava nervosa e ele estava a adorar ser o centro das atenções da minha mãe. As entradas acabaram logo com a apaixonada sempre com os olhos postos no seu possível futuro amante.

- Então, deixe-me que lhe diga que a sua casa é incrivelmente bonita, mas nada supera a sua beleza.

- Oh, que querido. Vês Di, homens como este são raros. Temos de aproveitar os poucos que existem.

- Pois, pena que o casamento não esteja nos meus planos.

- Não digas isso. O casamento pode já não estar muito na moda mas, e as crianças. Diogo, não adora crianças?

- Bem, as crianças japonesas são as minhas preferidas. Enquanto eu estou a dormir elas estão acordadas.

Uau, o homem até tem sentido de humor. Fiquei admirada com a sua resposta. A minha mãe ficou de boca aberta e eu soltei uma risada e os nossos olhares trocaram-se. Os seus olhos eram profundos e perfeitos, aliás combinavam na perfeição com o resto do corpo.

- Eu pensava que o Diogo quisesse ter filhos. É um homem tão bonito, de certeza que daria uns bons exemplares.

- Agradeço o elogio, mas por enquanto apenas vivo o meu dia como se fosse o último. Pode ser que um dia acabe por acertar. – esta última parte soou tão baixinho que mais parecia um suspiro, visto que a minha mãe nem sequer percebeu.

- Então, está a gostar do jantar? – perguntei ao nosso novo empregado quando já estava farta de os ouvir com conversas da treta.

-Sabendo que milhões de pessoas estão a passar fome, eu estou aqui a comer um pratão e metade irá para o lixo, até que não estou mal.

Descobri que afinal não tinha piada nenhuma, apenas é demasiado honesto, frio  e indelicado com aquilo que diz. Mas ele é perfeito. Sempre que diz uma coisa deste género olha-nos com um ar trocista, que faz com que pareça que está a achar graça à coisa. Foi assim o jantar todo e acho que a minha mãe o deseja cada vez mais. Penso que não o quer como namorado, mas sim como um material delicioso/ conquistador/ atraente/ sedutor/ cativante/ provocador/ sensual.   Pronto, acho que já perceberam a ideia.

 

 

 

 

Uma Vida (Des)complicadaOnde histórias criam vida. Descubra agora